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‘Vem ver o sol nascer no mar’

Escrevo essa reportagem ainda sentindo o balanço das ondas. Uma experiência incrível, que recomendo muitíssimo a todos os que tenham um mínimo de simpatia pelo mar, pelos esportes, por aventuras e pelo contato com a natureza em geral.

Não é preciso ter experiência em nada disso, apenas vontade de conhecer. Conhecer Vitória sob outro ponto de vista, conhecer um nascer do sol alguns metros mar adentro, conhecer pessoas legais, conhecer a si mesmo também sob outra perspectiva …

 

 
No último domingo (08), participei pela primeira vez de uma Remada do nascer do sol na baía de Vitória, organizada pelo grupo Trilhas e Camping (www.facebook.com/grupotrilhasecamping/).

O ponto de encontro, como sempre, foi a Guarderia da Praça da Ciência e, às 4h30 da matina, lá estavam cerca de 40 pessoas, incluindo pessoal da organização e apoio, vindos de Vila Velha, Serra e vários bairros de Vitória, conversando animadamente ainda sob o manto escuro da noite, aguardando ansiosamente a hora de entrar na água. 

Minha parceira no caiaque duplo foi a assistente de vendas Sirley Soares, que pela primeira vez remava em cima de um caiaque. Sua animação era contagiante: “Quando saio de casa é pra me aventurar!”, sorria. Muito bem, instruções de segurança e locomoção recebidas, vamos lá!

As primeiras remadas nos levaram até o ponto combinado para esperarmos o sol surgir no horizonte. Aos poucos, o azul escuro foi se tingindo de rosa, as pedreiras que emolduram a cidade foram se mostrando – Mestre Álvaro, Pedra dos Dois Olhos, Morro do Moreno … – e, a leste, uma luz laranja indicava o ponto exato de onde o espetáculo maior em breve chegaria em seu ápice.

As poucas nuvens no céu não tiraram a beleza única do momento tão aguardado e bastou o astro-rei começar a subir, como uma imensa bola de fogo vermelho, para a festa dos remadores começar, em forma de palmas, gritos e, claro, muitas fotos e selfies.

Marinheiros de primeira viagem

Conversando com as pessoas, percebo que a maioria também era, de alguma forma, estreante. Exemplo são o trader William Moreira, que nunca tinha subido em um caiaque, e que convidou o analista administrativo Jhonatam Aguiar, pra lhe dar um “apoio moral”. Qual foi sua surpresa ao descobrir que o amigo sequer sabia nadar! Gargalhadas à parte, a dupla inexperiente não se intimidou. “É extraordinário, nem sei como dizer”, exaltou Jhonatam.

A bioquímica Patrícia Dalbem, já praticante de rapel e tirolesa, estreava no passeio ao nascer do sol, se derrama em encantamentos: “Vitória tem tantos lugares bonitos, que as pessoas não exploram! Quando a gente começa a fazer essas aventuras, começa a conhecer, a gente vê como Vitória é bonita e como a gente pode fazer coisas bacanas, se divertir, fazer esportes, conhecer pessoas novas”, declara, entusiasmada.

Sua dupla no dia, a segurança Cleidiane Barbosa, já experiente nas remadas, expande o encantamento para outras opções disponíveis na cidade e no interior:  canoa havaiana, rapel, tirolesa … “E tem a remada no por do sol também, de quinze em quinze dias. Venho direto”, convida. 

Potencial de mercado

Saciados de sol nascente, seguimos para o sul, em direção à chamada “Praia Secreta” de Vila Velha que, como muitos já sabem, de secreta não tem mais nada. De fato, a praia estava repleta de banhistas quando chegamos. Barcos e remos na areia, fomos esticar as pernas, nadando, caminhando, deitando sobre as pedras. Mais paisagens belíssimas, muito papo animado e, retomar a jornada.

A essa hora, o mar estava um pouco mais agitado e muitas ondas balançavam as embarcações e as enchiam de água. Enquanto um rema, o outro esvazia a frente do caiaque – a maioria dos caiaques foi duplo. O percurso agora foi passando por entre ilhas – inclusive uma dita “privada”, com placa de Não Entre e tudo! – avistando tartarugas marinhas e com pequenas pausas para banhos.

O retorno à Praia do Canto foi às 10h00. Todos exaustos e muito felizes, pedindo mais. E mais teremos, pois o grupo tem crescido em número de participantes e dicas de passeios. Filipe Bessa, um dos coordenadores, conta que o mercado para esportes de aventura na Grande Vitória é muito promissor.

Quem gosta, cuida

Natural do Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar no ramo, Felipe Bessa enumera o potencial capixaba: “Um ambiente muito diversificado, você tem a praia, montanhas, serra, cachoeiras, tem tudo aqui. Vento pra poder voar de parapentes, paraquedas. Mar bom pra fazer mergulho … A gente tem público, tem mercado, o que está faltando são mais profissionais pra fazer acontecer. Tendo mais grupos, se tem uma divulgação maior e atrai um público maior”.

 

Importante que cresça esse mercado. O turismo de aventura e o ecoturismo são ferramentas importantes de sensibilização, grandes aliadas na conservação ambiental. Eu que o diga. Tão desanimada com o mar de corrupção, abusos e inoperância estatal com relação aos problemas ambientais da baía de Vitória, acostumada a ver Vitória como “a ilha sem praia”, voltei desse passeio com ânimo renovado pra acreditar que a população vai ter sim seu mar de volta, seu ar limpo de volta. Vai porque tem que ser assim. E quanto mais contato prazeroso tivermos com a natureza de Vitória, mais força e vontade teremos pra lutar por isso. 

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