Impressionante a quantidade de rejeitos de mineração da Samarco/Vale-BHP que decanta no fundo do mar ao longo de todo o litoral capixaba. Ao contrário do que a empresa consegue continuar negando – incrivelmente consegue, com a cumplicidade dos órgãos de governo e da Justiça –, a lama tóxica que começou a vazar no dia cinco de novembro de 2015 permanece, densa, poluindo toda a costa, já tendo, em vários momentos nesses mais de nove meses, extrapolado para o sul da Bahia e norte do Rio de Janeiro.
Uma olhada no monitoramento da “pluma” de rejeitos feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostra a mudança do alcance da lama no dia 12 de agosto, quando também predominava o vento sul, porém com menor intensidade do que o que sopra desde a madrugada dessa segunda-feira (22). Se no dia dois, com vento nordeste, ela se mostrava mais presente apenas até Barra Nova, em São Mateus, dez dias e alguns quilômetros por hora de vento sul depois, as imagens aéreas já conseguiram flagrar sua presença nítida até para além da divisa com a Bahia.
Uma importante leitura desse monitoramento é: a lama tóxica continua no fundo do mar ao longo de todo o litoral. O que muda, ao sabor dos ventos, é apenas o quanto se consegue ver desse crime.
O próximo sobrevoo acontece nesta terça-feira (23) e as novas imagens devem estar disponíveis até o final da semana (26) no endereço governancapeloriodoce.com.br. Deve flagrar ainda um pouco do impacto do vento sul que entrou na noite desse domingo (21).
Essas evidências estão sendo produzidas pelo Ibama e outros órgãos de governo desde o ano passado e embasaram a proibição da pesca em parte do litoral capixaba e, logo em seguida, uma liminar do Ministério Público Federal exigindo uma expansão da área de proibição no mar.
Mesmo ainda não tendo sido julgada pela Justiça Federal – que marcou uma audiência de conciliação somente para o dia 13 de setembro! – os dados motivaram a Defensoria Pública Estadual a começar os atendimentos aos atingidos pelo crime ao norte da Foz do Rio.
A situação de pescadores, comerciantes e moradores da região é alarmante, visto que a empresa se nega a reconhece-los como atingidos e a Justiça e o governo usam de sua morosidade para apoiar a empresa em sua irresponsabilidade criminosa. Pessoas sem trabalhar, enfrentando grave dificuldade financeira, e ainda desenvolvendo problemas de saúde diversos e desconhecidos até então.
No ar, no mar, na areia, nas ruas, nas casas, nos pulmões …
Na Grande Vitória, o vento sul sempre vem para escancarar a inaceitável poluição do ar que há 60 anos assola os moradores. É uma falta de respeito impressionante que a Ponta de Tubarão – empresas Vale S/A e ArcelorMittal Tubarão – continue cuspindo pó de minério e outras substâncias, que poluem o ar, o mar, as areias, as ruas, as casas, e o corpo das pessoas. Quem mora ao sul de Tubarão sofre mais, devido à predominância do vento nordeste. No inverso, o vento sul aumenta mais o sofrimento de quem vive ao norte.
Nesse fim de semana (20 e 21), a Maratona 24 horas surpreendeu os visitantes que conheceram, sob um outro ângulo, o que é a poluição por pó preto que decanta, diariamente e há décadas, na areia e na água de Camburi. Destaque para o chamado passivo ambiental da Vale: toneladas de minério de ferro despejados de forma criminosa pela empresa, há cerca de 40 anos, no extremo norte da Praia de Camburi. Ele continua lá, como que pavimentando o fundo do mar, mas ao mesmo soltando desprendendo-se lentamente, ao sabor das ondas.
Voluntários da Associação dos Amigos da Praia de Camburi (AAPC) coletaram, no último dia 17, amostras do passivo e o colocaram em exposição durante a 5ª Maratona 24 horas, das 10h de sábado (20) às 10h de domingo (21), no calçadão de Camburi. Mais de 250 nadadores e remadores se revezaram no plantão, em atendimento aos visitantes.
Mais de duas mil pessoas passaram pelo evento, surpreendendo-se com a textura e o odor do passivo. Amostras do esgoto, lançado sem tratamento na praia, também foi apresentado aos visitantes. “Muitas pessoas não conseguem entender o que é a poluição pelo pó preto, desconhecem a existência do passivo, duvidam até dela. Mas ao ver assim de perto, tocar, cheirar, elas se surpreendem”, conta Paulo Pedrosa, da AAPC, exaltando o alcance dos objetivos de conscientização e denúncia pretendidos com a Maratona.