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Websérie mostra a diversidade de femininos em comunidades tradicionais capixabas

No ar desde o dia 18 de outubro, a websérie Ser Mulher lança um olhar feminino sobre o cotidiano e a luta política em defesa dos direitos em três comunidades tradicionais do norte capixaba: a Aldeia Boa Esperança, em Aracruz, a comunidade de Linharinho, no Território Quilombola do Sapê do Norte, entre Conceição da Barra e São Mateus, e a comunidade pomerana de Córrego Palmital, em Pancas.

A realização é da Chaleira Filmes, uma produtora independente tocada pelas jovens Mirela Marin e Maíra Tristão. A motivação primordial para se lançarem no projeto foi entender “como as mulheres de diferentes etnias, classes sociais, idades e formas de ser, criam dinâmicas próprias para viver em meio a uma sociedade predominantemente masculina”.

“Nascidas no meio urbano, eu e a Maíra queríamos entender como funciona as relações de gênero em comunidades tradicionais do Espírito Santo. Como as mulheres entendem o seu papel naquela comunidade? Quais são as diferenças entre os sexos que elas observam? Como elas agem em seus espaços? Qual a função das mulheres na preservação da memória e na resistência político-cultural de suas comunidades?”, conta Mirela.

Durante 15 dias, foram entrevistadas seis mulheres, duas de cada comunidade tradicional: Joana (Tatatxi ywa rete) e Aciara (Twa'i rete), em Boa Esperança; Miúda e Geanis, em Linharinho; e Cecília e a Patrícia, em Córrego Palmital.

O machismo dentro e fora das comunidades

Dois episódios já foram ao ar, em que Aciara Carvalho fala de sua luta diária contra o machismo predominante na cultura guarani e a “perseguição entre aspas”, como ela se refere, que sempre sofreu por ter escolhido, desde muito cedo, ter uma profissão e uma independência financeira.

“Ser uma mulher que é independente, você corre atrás, você não espera de ninguém, você conquista o que é seu. Essa é a parte boa, só que a gente não tem mais aquele tempo da mesma educação tradicional pros nossos filhos”, pondera a liderança guarani. Mas, o que importa, finaliza Aciara, é “caminhar pra frente, cuidar dos nossos filhos, encaminhar nossos filhos pra gente só caminhar pra frente”, convoca.

Em Palmital, Dona Cecília, enfatiza a alegria e o “sossego que é morar na roça” e que vivo “muito alegre e feliz”, porque gosta muito dos vizinhos, “porque são todos trabalhadores, tanto os homens quanto as mulheres”, mas que “as mulheres são mais inteligentes, tenho certeza disso”, sorri.

Antecipando um próximo episódio, no Linharinho, podemos falar de Geanis, que, ao contrário da comunidade guarani, fala da igualdade entre homens e mulheres nos quilombos. “A gente aqui não tem essa separação entre homens e mulheres, aqui a gente trabalha, a gente brinca, a gente se diverte todo mundo junto. O bom do movimento é isso, tem nossas dificuldades, mas a gente se diverte muito”, conta.

Para além da igualdade entre gêneros, Geanis salienta que, no movimento quilombola, a maioria absoluta das lideranças são mulheres. “Tem homens, não vou falar que não tem, tem sim, mas sempre é as mulheres que estão lá nas discussões, que tá se movimentando, as mulheres estão sempre mais na frente”, afirma.

Fora do quilombo, no entanto, é sobre a mulher quilombola que recaem as maiores cargas de preconceito. “Mulher quilombola é mulher negra. É difícil você viver num país onde tudo é na base do preconceito, principalmente quando você é negro. Você não é bem visto perante a sociedade. Qualquer mulher hoje sofre preconceito, mas pra melhor negra é muito mais difícil”, lamenta.

Poder feminino

Mirela conta que ela e Maíra ficaram impressionadas com a força dessas mulheres, que, enfrentam cotidianamente situações muito difíceis, seja devido ao machismo presente nas próprias comunidades, como pelo poder do Estado, que empenha todo o esforço possível para lhes retirar o direito aos seus territórios tradicionais e seus direitos constitucionais.

“Elas nos mostraram um poder feminino admirável. Uma força de enfrentar o que foi e é preciso, para manter os filhos, educá-los bem, de preservar a memória da comunidade e lutar para mantê-la viva. Voltamos para a casa admiradas com tamanha coragem, altivez e força para manter tudo, a família, o território e suas formas de ser autênticas. Elas lutam pela autenticidade, pela verdade. Muito inspiradoras”, relata a produtora da Chaleira Filmes.

Depois de prontos, os vídeos se mostraram, observa Mirela, como mais um elemento para se somar ao trabalho de resistência das comunidades, ao valorizar a sua luta por reconhecimento territorial e social.

“Depois de feito o vídeo, eu e a Maíra voltamos nas comunidades para mostrar e resultado e ver se elas aprovavam, antes de divulgar. Todas elas gostaram muito, ficaram orgulhosas de se verem ali representantes de suas tradições”, diz.

Para acompanhe a websérie acesse o canal no youtube, com novos episódios às quartas-feiras, a partir das 19h. 

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