O fazendeiro Josélio Barros que, aos 79 anos, morreu em cima de uma cama no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, na semana passada, é um dos últimos integrantes de um seleto núcleo que nos idos de 50, 60 e, parte de 70, aterrorizou a região do Rio Doce e o norte capixaba impondo a lei do gatilho em favor de suas elites rurais.
Ele foi um dos principais protagonistas do racha numa entidade que ficou conhecida como Sindicato do Crime e que custou a vida dos seus principais personagens. Além da impunidade que ela desfrutava, mantinha, a seus serviços, dois sanguinários oficiais da Polícia Militar do Estado.
A Josélio foi atribuída, entre outras mortes, a do fazendeiro Antonio Pinto e do major Orlando Cavalcante. Para melhor entender essas mortes, é necessário conhecer os motivos da cisão entre os dois grupos do Sindicato do Crime. O pivô foi a morte de Neném Maria, um dos principais pistoleiros da organização criminosa, executado em Aimorés, Minas Gerais, a mando do fazendeiro Reginaldo Paiva, juntamente com dois irmãos fazendeiros, ligados ao tenente José Scárdua.
Daí em diante foi uma sequência de mortes. A princípio, um grupo matando pistoleiro do outro, para depois chegar à cúpula. Um deles tinha à frente os irmãos Paiva (Reginaldo e Renato), mais os irmãos Antonio e João Pinto. Já o outro grupo, a qual pertenceu Josélio Barros, contava também com tenente José Scárdua e o coronel Jádir Rezende.
O primeiro que foi assassinado foi Reginaldo Paiva. Depois veio a morte do major Orlando Cavalcante (1967), toda ela planejada por Josélio Barros, que foi preso em função desse crime. Em 1971, já a caminho do desmanche do Sindicato do Crime, foi morto o fazendeiro Antonio Pinto, para, em 1973, chegar a vez do tenente José Scárdua, cuja morte foi arquitetada pela família de Antonio Pinto.
Sobressaiu nessa guerra entre as suas duas facções, a que houve à parte entre as famílias de Josélio Barros e do Antonio Pinto. A ponto de o Antonio Pinto mandar seus pistoleiros invadirem a fazenda do pai do Josélio para matá-lo. Ele safou-se na hora por se encontrar montado num cavalo que disparou ao estampilho do primeiro tiro. Em revide, Josélio matou os dois jagunços que atentaram contra a morte do pai, invadindo depois a fazenda de Antonio Pinto. Como era noite, ele não conseguiu abatê-lo e ainda saiu com dois de seus pistoleiros gravemente feridos. Antonio Pinto morreria, pouco tempo depois, fuzilado numa tocaia nas imediações de sua fazenda.
O armistício entre as duas famílias foi selado num encontro entre Josélio de Barros e João Pinto, quando ambos já tinham deixado o palco de luta, que era Baixo Guandu, indo João para o sul da Bahia e Josélio para o Pará, instalando-se em Rondon do Pará.
Os dois tornaram-se influentes nas novas regiões que adotaram e enriqueceram, sendo que em Rondon do Pará a filha de Josélio, Cristina, elegeu-se prefeita pelo PSDB.
O velório dele foi muito concorrido, seguindo o corpo depois para ser cremado em Belém. Na última segunda-feira, retornou a Rondon do Pará para serem espalhadas pelas suas propriedades, onde Josélio viveu 40 anos de seus 79 e criou seus seis filhos.
Dos homens que fizeram a maior história de violência do solo capixaba e trecho mineiro do Rio Doce, sobrou apenas João Pinto, de 84 anos, ainda em plena atividade no sul da Bahia. Pois dos demais que não morreram a tiro, morreram de morte natural, como o empresário Renato Paiva, o coronel Jádir Rezende, e a figura emblemática do coronel (de título) Bimbim, a quem se atribui a ideia da criação do Sindicato do Crime.
(Rogério Medeiros)