quarta-feira, dezembro 18, 2024
24.9 C
Vitória
quarta-feira, dezembro 18, 2024
quarta-feira, dezembro 18, 2024

Leia Também:

Acusação de compra de votos agita cenário político em Apiacá

Chapa de Márcio Keres é acusada de oferecer tratamento de saúde em troca de apoio eleitoral

Redes sociais

Em Apiacá, município do sul do Estado, duas Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) movidas pela coligação de Diego do Betinho (PSD), candidato a prefeito derrotado, podem embaralhar o cenário político. A acusação é de que Márcio Keres (PSB) e Ricardo Figueiredo (União), prefeito e vice-prefeito eleitos, praticaram abuso de poder político e econômico e compra de votos, dentro de esquemas que também envolvem outras pessoas – incluindo o atual prefeito, Fabrício Thebaldi (PP), conhecido como Fabrício do Posto.

Segundo uma das ações, protocolada na última sexta-feira (13), uma eleitora de Mimoso do Sul, que estava com dificuldades para marcar uma cirurgia médica, teria recebido a promessa de acessar o procedimento, sob a condição de mudar o título eleitoral para Apiacá.

A ação apresenta prints e áudios de conversas mantidas com a eleitora, que prestou depoimento na Delegacia da Polícia Federal de Cachoeiro de Itapemirim e teve o celular periciado. A vantagem teria sido oferecida por uma mulher chama Suelen, funcionária da esposa do vice-prefeito eleito, Ricardo Figueiredo. Rúbia Figueiredo (PRD), candidata a vereadora eleita, seria a responsável pela transferência de domicílio eleitoral.

Conforme o prints de uma das conversas, Rúbia informou à eleitora que “o márcio me disse que fez o encaminhamento”, e alguns dias depois avisou a eleitora da marcação de uma consulta médica. De acordo com a transcrição de outro áudio encaminhado por Suelen a eleitora de Mimoso, ela disse que “o patrão (Ricardo) que conseguiu fazer a sua carteirinha do SUS aqui em Apiacá, ele perguntou se teria como você vir amanhã pra você poder transferir o seu título, se não quarta”.

Ricardo teria dado R$ 50 para a eleitora ir até o cartório fazer a transferência do título, e Rúbia supostamente pagou R$ 100 para ela ir até Apiacá e votar nela e na chapa vencedora da eleição majoritária.

“Com a transferência do título eleitoral, a consulta médica foi agendada por Márcio, conforme captura de tela acima, todavia, o procedimento cirúrgico prometido não fora realizado, evidenciando o caráter de promessa falsa com o objetivo único de angariar votos. As vantagens oferecidas eram todas vinculadas ao apoio eleitoral às candidaturas de Márcio Kéres, Ricardo Figueiredo e Rúbia Figueiredo”, diz a ação.

Outro fato mencionado é a existência do carimbo da secretária de Saúde, Flávia Basílio Zanardi, na carteira municipal do Sistema Único de Saúde (SUS) da eleitora cooptada. Segundo a acusação, Flávia “trabalhou ativamente na campanha de Márcio Keres, seja nas dependências da Secretaria Municipal de Saúde ou nas ruas empunhando as bandeiras do mencionado candidato”.

Também é citado o crescimento do número de eleitores em Apiacá em 2024, com 320 títulos transferidos, o que seria mais do que o dobro dos anos anteriores – um indício, segundo a coligação perdedora, de que o esquema de cooptação de eleitores poderia ser muito maior.

Uso da máquina pública

Na segunda Ação de Investigação Judicial Eleitoral, a coligação de Diego do Betinho acusa a gestão do prefeito Fabrício do Posto de fazer contratações por Recibo de Pagamento Autônomo (RPA) durante o período eleitoral, o que é proibido, motivadas pela enchente no município, que ocorreu no início do ano.

Um dos contratados prestou depoimento à Polícia Federal, dizendo que foi contratado para trabalhar no município faltando apenas 15 dias para as eleições, sob a condição de votar na chapa de Márcio Keres, um pedido feito pelo prefeito Fabrício. Entretanto, o eleitor foi dispensado dois dias depois das eleições.

Ainda de acordo com a reclamação, a prefeitura adquiriu bonés com a inscrição “I Love Apiacá”, utilizados em atividades de campanha, e depois o prefeito foi “estranhamente ressarcido” pela aquisição dos produtos, segundo informações do Portal da Transparência. A chapa vencedora também foi acusada de “distribuição indiscriminada à ampla população de cerveja gratuitamente fornecida pelos correligionários da campanha eleitoral dos investigados”.

As duas ações ressaltam, ainda, que Márcio Keres já foi condenado por corrupção eleitoral pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, o que o tornaria um “reincidente”. Dessa forma, é pedida a cassação do registro e da diplomação dos candidatos eleitos, e da condenação dos acusados a inelegibilidade de oito anos.

Além de Apiacá, também existem ações de investigação eleitoral em andamento em outros municípios do Estado. Em Laranja da Terra, o prefeito eleito, Joadir Lourenço (PSDB), foi mais um candidato vencedor acusado de compra de votos.

Márcio Keres e Ricardo Figueiredo foram diplomados nessa terça-feira (17). Nas eleições de outubro, o prefeito eleito ficou com 2,8 mil votos (53,18%), contra 2,4 mil (45,95%) de Diego do Betinho e 47 votos (0,87%) de Marcio Careca (Agir).

‘Desespero’

Em nota para Século Diário, a Prefeitura de Apiacá afirma que “não recebeu notificação de citação em ação envolvendo o recente processo eleitoral”. A coligação “União e Força por Apiacá”, de Márcio Keres, também alega “que não foi informada oficialmente sobre a citação e reforça o compromisso de seus candidatos com a lisura nas eleições”.

“Por meio de seus candidatos, a coligação atuou com respeito pleno à legislação eleitoral em vigor. Salienta, ainda, que o grupo político que vem fazendo ataques aos candidatos da coligação tem histórico de acusações sem fundamento e já demonstrou comportamento de desespero diante da derrota nas urnas”, fecha a nota da coligação.

Mais Lidas