José Marques Porto e Francisco Celso Calmon apontam perda de espaço pelos partidos de esquerda
Para onde irá a política no Espírito Santo e no Brasil depois das eleições deste ano? A resposta à pergunta não é muito animadora, segundo a opinião de analistas políticos ouvidos por Século Diário neste final de semana, que projetam um recuo dos partidos de esquerda na votação que ocorre daqui a três meses, em 6 de outubro, por falta de ativismo e ineficiência na comunicação, tanto no cenário local quanto nacional.
No Espírito Santo, quase três milhões de eleitores escolherão, pelo voto, 78 prefeitos, igual número de vice-prefeitos e perto de 900 vereadores, em clima focado em questões locais de cada município, mas com ligações a temas nacionais. Isso porque daqui a dois anos, nas eleições de 2026, os eleitos neste ano representarão importantes agentes no contexto mais abrangente, para eleger o presidente da República e, no Estado, dois senadores, 10 deputados federais e 30 estaduais.
O nome de todos os candidatos será conhecido em 5 de agosto, prazo final das convenções partidárias iniciadas no último dia 20 para homologar os inscritos, em número considerável vindos das chamadas igrejas evangélicas e da área de segurança pública, ainda na esteira do bolsonarismo.
Esse movimento, de forte coloração fascista, com desinformação e discurso de ódio gerando violência, foi introduzido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018, tornado inelegível e com possibilidade de ser preso acusado de vários crimes, inclusive roubo de joias e tentativa de golpe de Estado, configurado no levante de 8 de janeiro, em Brasília.
O questionamento de Século Diário teve por base três eixos para avaliação: as possibilidades da direita e da esquerda nas eleições municipais; os erros e acertos desses campos políticos e qual o saldo de cada um para o pleito de 2026; e com tantos inquéritos e indiciamentos de Bolsonaro, como continua solto, pode ser um bom cabo eleitoral?’.
“Creio que a centro-direita, a direita e a extrema direita têm mais chances de crescer, ou seja, eleger um maior número de vereadores e prefeitos, que os partidos de centro-esquerda, nominalmente o PT e o Psol, pois não considero haver partidos de esquerda representativos hoje no Brasil”, projeta José Marques Porto, bacharel em Ciências Políticas e Sociais.
Acrescenta que, “com a polarização em curso, vejo que a direita e a extrema direita têm mais espaço para crescer, em razão do peso da segurança pública nas eleições municipais e, cada vez maior, a ‘militarização da sociedade e da política’.
A opinião de Porto é reforçada pelo advogado e militante político Francisco Celso Calmon, o Xyco, coordenador e um do autores do livro coletivo 60 anos do golpe de 64. “Talvez meu termômetro esteja com defeito, e tomara que esteja, porém está marcando mais êxito para a direita. A esquerda continua pecando na comunicação e na renovação, e a mesmice de quadros antigos já não empolga”.
No entanto, Xyco faz uma ressalva e aponta que “a extrema direita bolsonarista deve recuar de suas expectativas e possibilidades, já que a classe média, pêndulo politico eleitoral, costuma se guiar por alguns valores morais”, e “há elementos técnicos suficientes para a prisão preventiva de Bolsonaro”. Para ele, a liberdade do ex-presidente “envenena o pleito municipal e desacredita a justiça”.
O ativista lembra do caso das joias e aponta “corrupção e negociatas na privatização do patrimônio público; genocídio de indígenas; negacionismo de vacinas e oxigênios, sendo responsável por mortes pela Covid-19 que poderiam ter sido ser salvas; fomento do ódio; descaso com o sofrimento do povo; e a intentona do golpe de 8 de janeiro ao Estado Democrático de Direito”. “Não digo que possa ser um cabo eleitoral, mas tenente de uma nova conspiração ao sistema eleitoral e ao incentivo à radicalidade da barbárie”, afirma.
Marques Porto destaca que sua análise “foge da usual, em virtude da necessidade de se utilizar de ferramentas de acordo com a realidade econômica, social e política vigente”. Em seu entendimento, “no mundo em geral, no Brasil em particular, não temos mais uma esquerda clássica ou raiz. O PT, hoje, é, no máximo, um partido de centro-esquerda, mas de ideologia liberal. O Psol não passa de um agrupamento de ‘identitários’, também de ideologia liberal. Ambos, são ‘atlanticistas’ pró Otan, defendem o Partido Democrata dos Estsdos Unidos, agora mais que nunca engajados na candidatura de Kamala Harris, diz.
Dentro de um visão ampliada, afirma: “O capitão Bolsonaro só está solto, e condenado de maneira frágil, pois existe uma relação de sinergia secular entre as cúpulas hierárquicas das Forças Armadas com as altas cortes da magistratura brasileira dos tribunais superiores. Continuará solto, enquanto for útil para o sistema, como catalizador desse pensamento de extrema direita, enquanto o capitão Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] vai se construindo como a alternativa mais de centro direita e de direita”.
Destaca que falta um programa de nação para o Brasil, agravado com o fato de que “o caráter nacional e popular, que foi perdido, afasta o eleitor, porque se iguala à direita e a extrema direita, no papel de vassalos do decadente império estadunidense, entregando tanto os generais, quanto Lula e o PT, nossas empresas e riquezas”.
Outro ponto que destaca importante é “o abandono da reforma agrária, capitulação imperdoável de Lula e do PT, com a Reforma Civilizatória, onde 1% dos proprietários concentra metade das terras agricultáveis. Ao perder substância, PT e Psol perdem eleitores para a direita”.