O cenário político dos primeiros cem dias do governo Paulo Hartung (PMDB) foi marcado pelos ecos da disputa polarizada e radicalizada contra Renato Casagrande (PSB) em 2014. O processo de desconstrução da imagem do antecessor, que teve início ainda antes da eleição, com a defesa da ideia de que o Estado vivia um momento de descontrole financeiro, foi intensificado no período de transição e persiste ainda nesses primeiros meses de governo.
Nessa disputa estendida entre as duas principais lideranças do Estado, a classe política observa os movimentos das duas lideranças. Hartung criou um cenário de caos, que serviu tanto para o intento de desqualificar o socialista, como para fechar o cofre do Estado.
Os encontros do governador com prefeitos, deputados, empresas prestadoras de serviço e até para a mídia, que tanto lhe foi paciente nos dois mandatos anteriores, serviram apenas para promessas e lamentações do chefe do executivo estadual.
Hartung não tem concedido cargos aos aliados da Assembleia Legislativa, não fez acomodações políticas para atender os que ficaram de fora da eleição, cortou verbas para os municípios do Estado e a verba publicitária. Isso tem causado um grande mal-estar na classe política.
Mas em um primeiro momento, as lideranças mantiveram uma postura de cautela diante do cenário que era apresentado por Hartung. Afinal, o governador afirmava que encontrou o cofre vazio e que seria necessária a união de todos para reequilibrar o Estado.
Renato Casagrande, que viu sua base de apoio se desmoronar após a eleição, assumiu uma postura de contra-ataque. Desde a eleição prometera rebater as críticas de seu sucessor todas as vezes que seu governo fosse colocado em xeque. Para isso, vem usando as redes sociais para contrapor as afirmações de Hartung e sua equipe.
A defesa do socialista tem se baseado em afirmar que Hartung mente ao dizer que o Estado está quebrado. O socialista mantém o discurso de que entregou o Estado com equilíbrio financeiro e dinheiro em caixa. Ele também acusa o peemedebista de fazer uma política de desconstrução de sua imagem.
O ranço da eleição fica transparecido nos dois discursos. Para a classe política, a avaliação sobre quem tem a verdade é uma questão de tempo. A divulgação dos primeiros números do governo de Hartung começou a clarear o cenário. E a impressão de que a crise é política e não financeira começou a ganhar corpo depois da divulgação do Demonstrativo do Resultado Primário do governo do Estado no final de março.
O balancete desconstruiu o discurso do caos que vem sendo propagado pelo governador Paulo Hartung desde a campanha eleitora de 2014 e colocou em xeque o discurso de que o governo não tem dinheiro para investimentos e ajuda aos municípios. O superávit primário nos dois primeiros meses do ano de R$ 630,48 milhões pode mudar de vez a relação entre governador e as demais agentes políticos do Estado.
A discussão sobre os empenhos deixados por Casagrande também é outro capítulo dessa disputa. Hartung determinou a seus comandados uma devassa nas secretarias e órgãos do governo. Mas até o momento, as três auditorias realizadas – Casa Militar, Secretaria de Agricultura e Instituto de Obras Públicas – não tiveram os resultados esperados pelo governador, o que teria causado a exoneração de quatro funcionários que participaram dos trabalhos.
Na guerra de números entre Paulo Hartung e Renato Casagrande, por enquanto, quem tem levado a melhor é o socialista, o que pode fortalecê-lo em um embate polarizado, que não terminou com a contagem dos votos no último 5 de outubro.