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Bispos pedem ‘avaliação muito criteriosa’ na escolha dos candidatos nas eleições

Bispos da Regional Leste 3, presidida por Dom Dario Campos, divulgaram instruções para escolha de candidatos

Os bispos da Regional Leste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que abrange as dioceses do Espírito Santo, divulgaram uma carta pastoral na qual pedem “avaliação muito criteriosa” na escolha dos candidatos nas eleições 2022. No documento, eles convidam “católicos e outras pessoas de boa vontade” a encontrar “os melhores caminhos para colaborar na construção de um Brasil justo, fraterno e solidário”.

A carta é assinada por Dom Dario Campos e Dom Andherson Franklin Lustoza de Souza, da Arquidiocese de Vitória; Dom Paulo Bosi Dal’Bó, da Diocese de São Mateus; Dom Luiz Fernando Lisboa, da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim; e Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, da Diocese de Colatina. Dom Dario preside a Regional, Dom Paulo é vice-presidente e Dom Luiz, secretário.

A necessidade de “avaliação criteriosa”, segundo os bispos, existe pelo fato de que “o voto tem consequências na situação econômica, social, cultural e ambiental de nosso País, nossos estados e municípios”, sendo assim, “necessária uma análise da história e das propostas daqueles que desejam ser nossos e nossas representantes no exercício de mandatos políticos”.

Os sacerdotes acreditam que “a participação consciente e efetiva dos cristãos, desde que inspirada nas fontes autênticas de nossa fé, pode reverter o quadro geral no qual se encontra o nosso País e contribuir para que os poderes Executivo e Legislativo de nossa República sejam moralizados e ocupados por pessoas com mais consciência de seu papel de representantes do povo”.
Entre os problemas vividos no Brasil, os bispos destacam a pandemia da Covid-19, a qual acreditam ter sido agravada pela “incompetência, insensibilidade, corrupção e preocupação com interesses próprios por parte das autoridades que deveriam cuidar de nosso povo”. Afirmam, ainda, lamentar as mais de 670 mil mortes por Covid-19 no Brasil e demonstram que a “tristeza é ainda mais profunda quando sabemos que grande parte dessas mortes poderia ter sido evitada”.
O documento também denuncia outros problemas sociais, como os “elevados preços dos combustíveis, gás de cozinha, energia elétrica, carnes, óleo de cozinha e outros produtos da cesta básica”, além do “número de pessoas desempregadas e que amargam situação de extrema pobreza”, a “destruição de biomas fundamentais ao equilíbrio ecológico, além do avanço do garimpo e do agronegócio sobre terras indígenas”.
Os bispos afirmam que se criou, no Brasil, nos últimos anos, “um clima de ódio na política que acabou por se converter em ataque aos direitos humanos e das minorias, fazendo aumentar o fundamentalismo religioso, intolerância, racismo, xenofobia, machismo, homofobia e outras formas de preconceito, que muitas vezes se concretizaram em atos de violência, como feminicídio e outros”. Eles também tecem críticas ao fato de há momentos em que esses atos “são justificados por uma suposta adesão à Palavra de Cristo”.
Os bispos denunciam que os parlamentares, nas três esferas, “reproduzem esses aspectos negativos da política e não têm demonstrado a reta conduta que se espera de representantes eleitos para o Poder Legislativo. Muitos também se vendem em função de emendas parlamentares, mesadas ou doações para campanhas eleitorais e esquecem a sua função de atuar pelo bem dos que os elegeram”.
É alertado, por meio da carta, que as eleições deste ano exigirão “um esforço maior de compreensão da conjuntura e engajamento efetivo no processo eleitoral”, pois “muitas serão as armadilhas ideológicas e informacionais, as notícias falsas e os apelos pseudorreligiosos – sem nenhum amparo nem nas Escrituras, nem na Doutrina Social da Igreja – que tentarão nos capturar em nome de interesses eleitoreiros”.
Os bispos apontam algumas questões que devem ser levadas em consideração na escolha dos candidatos, que são a preocupação com a Casa Comum, a defesa da vida desde a concepção até o fim natural, segurança e direitos humanos, economia a serviço da vida, defesa da democracia, compromisso com a verdade e honestidade como pressuposto.
No que diz respeito à preocupação com a Casa Comum, no documento consta que “quem não integra a concepção ecológica profunda a seus projetos políticos ou já demonstrou descaso com o ecossistema em sua gestão ou mandato não merece nosso voto e não pode dizer-se em sintonia com o pensamento de nossa Igreja”.
Quanto à defesa da vida desde a concepção até o fim natural, os bispos ratificam a posição contrária ao aborto dizendo que a defesa do nascituro “deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento”. Entretanto, destaca que “igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura e em todas as formas de descarte”.
No tópico segurança e direitos humanos, os sacerdotes rechaçam a ideia de que “a violência e a criminalidade se combatem com mais violência ou com a ação criminosa dos agentes do Estado”, evidenciada, segundo os bispos, em discursos favoráveis à tortura, linchamento, pena de morte, prisão perpétua e ao armamento. “O que revela a hipocrisia dessa posição é o fato de que esse ódio, na maioria das vezes, se direciona apenas aos criminosos das classes baixas. Muitos dos que dizem odiar o crime e os criminosos figuram entre os seguidores de políticos e empresários que assaltam os cofres públicos ou têm relações com o crime organizado”, dizem os bispos.
Os líderes religiosos defendem que quem baseia “suas propostas de segurança na defesa da prisão perpétua, pena de morte, prática de tortura e armamento da população civil não pode se apresentar como representante dos valores defendidos pela Igreja Católica. O mesmo ocorre com aqueles que homenageiam e defendem publicamente torturadores ou agentes de segurança que agem fora da lei”.
Defendem também que “o discurso político que só reconhece como meta da economia o crescimento da riqueza, os resultados financeiros, a austeridade fiscal e o compromisso com as grandes corporações e com os agentes financeiros está em contradição com o ensino social da Igreja. O mesmo ocorre com os programas de governo que não assumem o papel determinante do Estado na gestão da economia na perspectiva da vida humana – e mais ainda as ideias de fim do Estado para que este seja substituído pelo mercado”.
No item sobre defesa da democracia, são rechaçados “partidos, candidatos ou candidatas e cabos eleitorais que simpatizam com regimes ditatoriais ou que atentam, com palavras e atos, contra a democracia e suas instituições” e defendidas “propostas que fortaleçam a participação popular por meio de conselhos populares, fóruns, conferências, plebiscitos, referendos e outras formas de proposição e controle da sociedade sobre temas que envolvem a todos”.
No que diz respeito ao compromisso com a verdade, os bispos lamentam “que a mentira esteja sendo usada como arma política e método para arregimentar apoiadores e seguidores de ideias políticas”, conclamando os eleitores a buscar “o debate eleitoral aberto, no qual não se escondam as propostas e projetos” e evitar as candidaturas e campanhas pautadas na difamação do outro, nas falsas notícias, no discurso raivoso e nas mensagens de ódio transmitidas por aplicativos”.
Por fim, na honestidade como pressuposto, é apresentada como forma de enfrentamento à corrupção a oposição quanto “à compra e venda de parlamentares, seja por empresas privadas ou por verbas públicas e cargos nos governos em troca de apoio no Legislativo”, bem como ao “uso dos mandatos políticos para a criação de vantagens individuais ou de grupos particulares também corrompe o sentido da política e da coisa pública”.
A honestidade, conforme consta na carta, não deve ser apresentada como promessa de campanha ou plataforma política única, pois “ela está no terreno da ética e só por derivação faz parte da política. Por isso, não devemos nos contentar apenas com a promessa de honestidade, mas, tendo a conduta moral como pressuposto, devemos inquirir se os candidatos sabem a função e os limites dos cargos para os quais se candidatam”.


Igreja Católica divulga carta com orientações para eleições no Estado

Arcebispo de Vitória, Dom Frei Dario, e os bispos de Colatina e São Mateus, Dom Joaquim e Dom Paulo Bosi, assinam o documento


https://www.seculodiario.com.br/politica/igreja-catolica-divulga-carta-com-orientacoes-para-eleicoes-no-estado

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