Eleição da Corregedoria nesta terça-feira foi polêmica e terminou com a nomeação de Anderson Goggi para comandar o colegiado
Após quase cinco meses de legislatura, a Câmara de Vitória (CMV) finalmente elegeu a composição de sua Corregedoria-Geral, responsável por julgar decoro parlamentar, ordem e disciplina na Casa. A definição foi na sessão realizada na manhã desta terça-feira (27), após debates, polêmicas e uma composição inicial desfeita. O clima da eleição, feita por sorteio seguido de votação, ficou ainda mais quente, pois a vereadora Camila Valadão (Psol) já havia anunciado antecipadamente que entrará neste mesmo dia com uma representação contra Gilvan da Federal (Patri), que vem sistematicamente a atacando, junto com a vereadora Karla Coser (PT).
No fim do processo, quem assume a função de corregedor-geral é Anderson Goggi (PTB), que compõe uma visão mais ao centro dentro da Casa. Além dele, participam como membros do colegiado a própria Camila Valadão, André Brandino (PSC), Duda Brasil (PSL) e Maurício Leite (Cidadania). No procedimento contra Gilvan, porém, Camila não poderá participar como membro da Corregedoria do julgamento, já que é acusadora, e, nesta condição, fica de fora em situação de requerimentos entre vereadores.
A denúncia a ser apresentada deve ser por quebra de decoro parlamentar, especialmente por conta dos episódios que tiveram grande repercussão midiática, como no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, quando Gilvan questionou até a vestimenta da vereadora, e também nos ataques mais recentes a ela e a Karla no dia 14 de abril, que geraram notas de repúdio da sociedade civil organizada.
Embora a postura de Gilvan venha incomodado também vereadores mais ao centro e até à direita na Câmara, parece pouco provável que esta primeira representação tenha algum efeito grave para o vereador de extrema-direita, a não ser que haja uma forte pressão da sociedade civil. Mas já acende um alerta para situações futuras, caso o vereador do Patriota mantenha a postura na Casa, o que parece reafirmado por sua fala e também por seu alinhamento incondicional com o bolsonarismo, que tampouco tem recuado de sua linha extremista e agressiva.
No fim, a composição da Corregedoria-Geral acabou sendo desfavorável a Gilvan, deixando de fora ele e Armandinho Fontoura (Podemos), vereador também mais à direita, e incluindo Camila e outros vereadores que, dependendo da situação, poderiam se ver obrigado a dar alguma resposta caso Gilvan siga tumultuando o ambiente da Casa e agredindo opositores.
Manhã tumultuada na Câmara
O primeiro sorteio feito na manhã compôs a Corregedoria com Armandinho, Camila Valadão, Karla Coser, Duda Brasil e André Brandino. Mas após questão de ordem no plenário, a “chapa” foi rejeitada, sendo apontada a necessidade de que o sorteio fosse individual de cada membro, a partir de interpretação do regimento interno. Depois do sorteio, cada nome foi votado individualmente para ser aceito como membro.
Diante dos diversos embates, depois da segunda e definitiva eleição, Mauricio Leite pediu para que seu nome fosse retirado da Corregedoria, porém sua justificativa foi negada pelo plenário. Após o fim da eleição, ele declarou que não se sentia à vontade no cargo, mas que cumpriria com responsabilidade a função.
Vereadores como Duda Brasil e André Brandino, integrantes do colegiado, e Leandro Piquet (Republicanos), líder do Governo, justificaram seu voto contrário à indicação de Camila Valadão, aprovada pela maioria, dizendo que também votariam contra caso Gilvan fosse sorteado, evitando colocar pessoas que tenham “desavenças”, como alegou Piquet. “Não julguem pessoas, julguem fatos, se atenham aos fatos”, disse. De fato, a Corregedoria surge atrasada, mas já muito agitada pelos embates entre o vereador de extrema-direta e as vereadoras de esquerda que ocorre desde as primeiras sessões da legislatura.
“Não vamos tolerar nem agressões nem vitimismo nessa casa”, resumiu Brandino, no discurso que ecoa em parte dos integrantes do legislativo municipal, que tentam colocar as agressões de Gilvan e a defesa das vereadores como se fossem polos equivalentes. Denninho Silva (Cidadania) chegou a acusar Karla de posar de “coitada”.
A vereadora petista respondeu a diversas falas e disse que mesmo discordando de “todas as palavras que saem da boca de Gilvan”, não o tem desrespeitado nem tentando cercear suas falas. “A Corregedoria não é um órgão pontual, não é um tribunal de exceção. Ela vai fazer a lisura da democracia e dessa liberdade de expressão que os vereadores têm, mas que não é irrestrita nesse sentido. A gente tem que respeitar os colegas que estão nesse espaço, que foram eleitos democraticamente para ocupar esse espaço”, declarou na tribuna.
O político do Patriota reagiu à composição da Corregedoria, da qual ficou de fora pelo sorteio, voltando a atacar, afirmando que continuará confrontando colegas de legislatura que defendem “assassinato de bebês” (aborto), legalização das drogas, “ideologia de gênero”, promiscuidade e “pornografia para nossas crianças”, e a imprensa que chamou de “manipuladora, covarde e mentirosa”. Como fazem seus colegas da extrema-direita em outros parlamento do país e do mundo, vem testando os limites e contradições entre democracia, liberdade de expressão, manipulação e fake news. “Enquanto tiver força e saúde, não deixarei que a nossa nação seja entregue ao comunismo”, exasperou num delírio que só seus pares acompanham. “O confronto continuará. Intimidar com imprensa, nota de repúdio, podem fazer um milhão, eu ‘tô’ pouco me lixando para vocês”, afirmou.
Camila Valadão reafirmou na tribuna a representação contra Gilvan. Citando a boa relação que mantém com Piquet e Duda, aliados do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), a vereadora de oposição afirmou: “Diferenças políticas e divergências não são o problema. O problema é a falta de respeito. Nós mulheres temos muitas dificuldades para chegar aos espaços de poder, como a Câmara Municipal, prova disso é a representatividade de mulheres aqui na Câmara. E quando chegamos somos vítimas sistematicamente da violência contra a mulher”, criticou a legisladora do Psol.