Lula Rocha, da Rede Afirmação, defende que com alto desemprego e lentidão na vacinação, o benefício deveria ser retomado
A concessão do auxílio emergencial federal de R$ 600 até o fim da pandemia do coronavírus é pauta de campanha nacional, que reforça suas mobilizações. Surgida a partir da plataforma Renda Básica que Queremos, que reúne 270 organizações sociais, a campanha quer pressionar desde já o novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que assumiu o cargo no início deste mês, para que o tema possa avançar no poder legislativo.
Uma das primeiras ações da campanha é a coleta de assinaturas online para serem enviadas a Lira e aos deputados federais de cada estado, tendo já reunido mais de 60 mil assinaturas nos primeiros dias.
Recentemente, até o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou a reconhecer a possibilidade de retomada do auxílio ao ver sua popularidade começar a cair nos últimos meses, após o fim do benefício que atende pessoas que tiveram sua renda comprometida com a pandemia. O presidente, que tinha dito que um novo auxílio iria “quebrar o Brasil”, tem cogitado a volta do mesmo, mas com uma valor reduzido de R$ 200.
Os movimentos sociais que lutam pelo retorno do auxílio, porém, defendem a volta do valor original de R$ 600 e R$ 1.200 para mães-solo. Apontam que, com o fim do benefício, quase 27 milhões de brasileiros voltaram à linha da extrema pobreza.
“A pandemia não acabou e no ritmo que segue a vacinação demoraremos muito para imunizar a sociedade brasileira e retomar todas as nossas atividades com segurança. Neste contexto é fundamental fortalecermos a luta pela continuidade do auxílio emergencial”, afirma Lula Rocha, coordenador da Rede Afirmação, que organiza cursinhos populares em bairros periféricos da Grande Vitória. Para ele, o auxílio se mostrou um instrumento importante para os mais pobres no momento de crise e a luta deve ser para o retorno do mesmo sem redução do valor.
“Atuando junto aos nossos estudantes, percebemos como o início da pandemia foi cruel”, conta Lula. A rede de cursinhos realizou uma campanha de solidariedade que distribuiu mais de 800 cestas básicas e kits de higiene num momento inicial, onde houve um mais brusco impacto socioeconômico. “Depois as coisas foram amenizando e, possivelmente, o auxílio emergencial contribuiu para isso. As pessoas passaram a ter uma renda, mesmo que ainda pequena”.
Agora, depois do fim do auxílio em dezembro e de outras ações que eram feitas pelo poder público de forma emergencial, a Rede Afirmação estuda a possibilidade de retomar a campanha de solidariedade para arrecadar doações e apoiar os estudantes e suas famílias que estão em situação de vulnerabilidade, ao mesmo tempo em que participa da campanha Auxílio até o Fim da Pandemia junto a outras entidades do Espírito Santo e de todo o Brasil.
A campanha nacional fez um levantamento que mostra que quando teve início, em abril de 2020, o auxílio de R$ 600 equivalia a 125,44% do valor da cesta básica, implicando a possibilidade de garantir o necessário para a alimentação das famílias e para ajudar a cobrir outros gastos fundamentais, como os referentes a aluguel e transporte, por exemplo. Porém, em outubro e novembro, o valor do auxílio caiu pela metade, equivalente a 56,1% da cesta básica.
Segundo os dados, a maior parte do auxílio emergencial foi investido na compra de alimentos (53%), seguido do pagamento de contas de água e luz (25%), outras despesas domésticas (16%) e compra de remédios (1%). A campanha alega também que o auxílio teve um papel importante para a recuperação econômica do país após o choque do início da pandemia, por fomentar o consumo das famílias.