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Candidatos avançam na reta final e mantêm polarização

Na disputa à Prefeitura de Vitória, só Camila Valadão pode ser considerada de esquerda

O resultado da eleição do dia 6 de outubro deve deixar patenteado, mais uma vez, a polarização política, com avanço da direita, fincada no antipetismo inaugurado na fase imediatamente anterior à chamada “Operação Lava Jato”, hoje desmoralizada pela Justiça. Ali foi o eixo principal da construção do impeachment que derrubou a presidente Dilma Rousseff, em 2016, e serviu de berço para o surgimento do bolsonarismo ou do neonazifascismo.

O avanço de candidaturas atuantes no campo da direita e da extrema direita no Espírito Santo e no País mostra esse cenário, e pode ser comprovado também na rápida passagem de Jair Bolsonaro (PL) pelo Espírito Santo na próxima segunda-feira (30). Apesar da derrota para o presidente Lula em 2022 e dos indiciamentos que ele responde por roubo de joias, falsificação de documentos públicos e tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes, o movimento permanece, em meio ao aumento da violência e do clima de ódio que o caracteriza.

Uma decorrência do recuo de partidos do campo da esquerda, que perderam as ruas e se acomodaram em pautas distanciadas da ideologia política, mais voltadas ao assistencialismo eleitoral, como pode ser vista na disputa à Prefeitura de Vitória. Dos seis candidatos, apenas Camila Valadão, do Psol, pode ser considerada de esquerda.

João Coser (PT) e Luiz Paulo (PSDB) atuam no campo da centro-esquerda, e os outros três, Lorenzo Pazolini (Republicanos), Capitão Assumção (PL) e Du (Avante) militam na direita e na extrema direita, na linha de manutenção do bolsonarismo, com estratégias em formação para as eleições gerais de 2026.

“A função de um processo eleitoral, para aqueles que, mais do que conquistar voto, querem contribuir para uma transformação social, seja de um município, de um país, de um estado, é fomentar a organização e a politização da eleição. Não pode ser apenas uma ‘caça-votos’, inclusive porque quando é só uma ‘caça-votos’, tem pouca diferença de candidatos de direita e de esquerda”, comenta o analista político Francisco (Xico) Celso Calmon.

Ele acrescenta que, “hoje, o mundo, o Brasil, o Estado e o município vivem a contradição principal, que é entre a democracia e o fascismo, ou, mais especificamente, o neonazifascismo. Portanto, essa polarização não deve ser colocada para debaixo do tapete, porque é real. Os candidatos de esquerda têm que usar dessa polarização para deixar muito claro os campos em que se colocam. Os candidatos progressistas, democráticos, e os candidatos fascistas”.

Para Xico, “em Vitória, o atual prefeito, que tenta a reeleição, é um fascista, bolsonarista, que invadiu hospital na época da Covid, enfim, tem várias coisas que não estão sendo discutidas na campanha. A política está muito resumida a assistencialismo: quem vai fazer isso, quem vai fazer aquilo, que obra é prioritária ou não. E, aí, a direita costuma ter um desempenho melhor, porque ela atinge a classe média”.

O analista dá um exemplo: na véspera da eleição, com o “reasfaltamento” que o prefeito Lorenzo Pazolini faz em ruas e avenidas de Vitória, ele atinge a classe média, que a esquerda abandonou e demonizou durante muito tempo. “Não que o diagnóstico de classe média esteja errado; ela é pendular, tenta ser burguesia e quando em crise, se aproxima da classe trabalhadora, entretanto, por estar no meio da estrutura básica entre a burguesia e os trabalhadores, ela decide eleições. Então, não adianta à beira de uma eleição, procurar a classe média, quando às vezes nem entre os filiados se tem mais essa classe”, destaca.

Outra questão apontada para o recuo da esquerda é a comunicação. Para Xico, os partidos progressistas entregaram esse setor à utilização do marketing eleitoral, que é um invólucro e, por isso, sacrifica o conteúdo por meio da aparência. Quando isso acontece, todos são colocados no mesmo nível, só diferencia a criatividade, do marketing da direita e da esquerda.

“A comunicação, se não for de conteúdo, as propostas democráticas, progressistas, tendem a ficar niveladas, e vão depender muito de outros fatores, como o tempo que cada um tem de televisão, para expor suas mensagens, além da própria facilidade individual de cada um”.

Ele ressalta o que chama de “exemplo concreto”. “A candidata do Psol, Camila Valadão, é boa de comunicação, mas pelos debates que vi, ela vem servindo de escada para o candidato do PT. Quer dizer, provavelmente, na boa intenção de que isso está facilitando: não está! Está é perdendo as características do Psol, da candidata, que teria que ser mais aguerrida, fazer um discurso mais ideológico e menos ‘merchandising”.

Sobre a falta de uma base ideológica mais firme de alguns agentes políticos da esquerda, Xico diz não ter dúvidas, e comenta que faltou o incremento da luta ideológica nas novas gerações, que não fizeram parte do que a gente chama de ‘Geração 68’, não a que nasceu em 68, mas a que viveu o ano de 68, mundialmente, “o ano da rebeldia, da luta contra os costumes burgueses, o sistema, contra a guerra, a tese ‘é proibido proibir’ até contra a guerra do Vietnã, o racismo nos Estados Unidos”.

“Enfim, foi um ano espetacular, que ainda não terminou exatamente do ponto de vista democrático, porque houve repressão em todo o mundo: México, Estados Unidos, França, Brasil, Checoslováquia. Atualmente, há uma ideologia burguesa, capitalista, e tem que haver o contraponto, a outra ideologia. Mesmo que seja uma questão utópica, se não for colocada dentro do horizonte, não se prepara para alcançá-la”.

Xico também cita uma questão crucial nas campanhas à Prefeitura de Vitória, que é a segurança pública, e questiona: “E o que se vê de propostas? A reprodução do mesmo modelo, militarizado. Então eles dizem, vou botar mais armas, mais tecnologia, mas nós, progressistas, não queremos esse modelo”.

Para ele, a Polícia Militar, “um entulho mais perverso da ditadura, é mantido. Pegaram uma Guarda Municipal, que era para cuidar do patrimônio, e introduziram o uso de arma. O mais correto seria acabar com a PM e surgir uma polícia cidadã, que entenda que a vida é mais importante do que a propriedade, que a polícia é para garantir os direitos humanos, o ir e vir, e não para correr atrás de um celular e sair atirando”.

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