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Candidatura camponesa quer ser terceira via em Santa Maria de Jetibá

Psol tem primeira candidatura com Jorge Zatta e o vice Tião, enfrentando atual prefeito e seu rival da última eleição

Este ano, as eleições para a prefeitura de Santa Maria de Jetibá, região serrana do Estado, repetem o pleito passado, colocando novamente em disputa as únicas duas candidaturas de 2016, o atual prefeito Hilário Roepke (PSB) – Gatinha, que venceu com quase dois terços dos votos, e seu anterior oponente, Hans Dettmann (Patri). Uma outra candidatura, porém, quer abrir caminho para uma terceira via no município, acostumado com a polarização entre dois grupos políticos.

Pela primeira vez, o Psol vai lançar candidatos à prefeitura, numa chama puro-sangue capitaneada por Jorge Zatta, tendo como vice Tião, ambos agricultores familiares do distrito de Garrafão e engajados nos movimentos sociais há décadas, desde os tempos das comunidades eclesiais de base. “Muitos eleitores não concordam com esses grupos e há muito tempo pediam uma terceira via. Estamos preparados para ser uma opção de voto para que as pessoas tenham de fato uma alternativa que os represente e conheça as necessidades do povo de Santa Maria”, aponta Tião, que trabalha com agricultura orgânica desde 2000 e já foi candidato a deputado federal pelo Psol.

“Estamos incomodando muito as pessoas das elites tradicionais, que praticam a mesma política de ‘toma lá dá cá’. Mas para isso viemos, para incomodar e trabalhar para mudar o município”, aponta o candidato a prefeito. “Entendemos o que é socialismo e entendemos que o recurso público deve ser destinado a melhorar a vida das minorias, das pessoas que não têm vez nem voz no município. Somos candidatos porque queremos promover a participação das pessoas e porque pensamos que o município tem responsabilidade no uso do dinheiro público”, afirma Jorge Zatta.

Considerado como “município mais pomerano do Brasil”, Santa Maria de Jetibá também é um dos principais celeiros agrícolas do Estado, responsável por boa parte do abastecimento de alimentos na Grande Vitória. Mas vive um paradoxo: ao mesmo tempo em que é um importante polo de produção orgânica, também é um dos municípios em que há elevado uso de agrotóxico em outros cultivos. “Em relação ao uso de agrotóxico é preciso fazer um trabalho para mostrar ao produtor convencional a grande diferença entre os dois caminhos. Há uma disputa pelo mercado de agrotóxico, as empresas jogam pesado, e o prefeito pouco faz em relação a isso”, diz Tião. Ele aponta a vantagem do município ter uma escola família agrícola que forma jovens dentro das práticas da agroecologia, porém, por falta de políticas e apoio, muitos acabam buscando outras formas de sustento.

Os candidatos do Psol são críticos à atual gestão de Hilário Roepke, com fortes críticas à gestão da saúde no município, mas também são pontos vistos como problemas a educação, agricultura, a falta valorização de servidores e a situação das estradas do campo.

No plano de governo, o Psol apresenta como eixos Educação, Cultura e Turismo; Economia; Gestão Pública e Tributária; Segurança Pública, Assistência Social; Política Urbana e Meio Ambiente; e Saúde, reunindo diversas propostas para cada ponto.

Uma das bandeiras fortes é pelo maior diálogo da municipalidade com a população e suas organizações sociais e o fortalecimento da participação popular, por meio do incentivo à atuação dos conselhos municipais e criação de novos, como o Conselho de Acompanhamento de Obras, além da implantação da Casa dos Conselhos, com intuito de fortalecer sua atuação. “Mas não basta ter participação popular, é preciso qualificar e quantificar, fazer com que o trabalhador tenha voz e voto no conselhos”, alerta o candidato a prefeito.

“Político é como milho de pipoca. Se você colocar ao fogo e na pressão, vai dar pipoca de qualidade”, aponta em metáfora Jorge. Além da candidatura majoritária pela primeira vez, o Psol também aposta na juventude para crescer no município a longo prazo, lançando para a Câmara as candidaturas da estudante Josi Chagas, de apenas 18 anos, e do arquiteto e urbanista Raphael Potratz, de 34.

O cenário municipal, no entanto, é de Davi contra dois Golias. Contando com a máquina pública a favor, o atual prefeito, eleito pelo MDB e agora filiado ao PSB, do governador Renato Casagrande, formou uma coligação forte, com o próprio MDB, Republicanos, PP, PTB, PMN, PDT e PSL. Gatinha foi vereador na primeira gestão do município, após sua emancipação em 1988, tendo sido vice-prefeito e prefeito por dois mandatos antes do atual. Em 2016, quando voltou a comandar a prefeitura, derrotou com 64,5% dos votos o professor Hans Dettmann, então candidato pela primeira vez pelo Solidariedade.

Dettman, hoje com 36 anos de idade, chega este ano, porém, com maior experiência e estatura política. Passou pelo curso de formação do Renova BR, embarcou no bolsonarismo e se candidatou a deputado federal pelo PSL, embora tenha trocado o partido pelo Patriota para concorrer novamente à prefeitura em 2020. Em sua chapa, cujo nome imita o slogan presidencial de Jair Bolsonaro (sem partido), “Santa Maria acima de tudo, Deus acima de todos”, reúne além de seu novo partido o PSDB, Pros e PSD.

Depois da derrota para prefeitura, ele saiu por cima das eleições de 2018: foi de longe o mais votado no município para deputado federal, conquistando um total de 14,6 mil votos, sendo 10,5 mil em Santa Maria do Jetibá, o que equivaleu a mais da metade dos votos válidos do eleitorado local. Carimbando o selo bolsonarista, ele chegou a se reunir com a ministra Damares Alves, a quem presenteou com um chapéu típico pomerano. Em Santa Maria, Bolsonaro teve mais de 62% de votos no primeiro turno em 2018, mostrando o perfil predominantemente conservador do eleitorado.

O desafio não vai ser fácil nem agora, nem a longo prazo, mas o primeiro passo está sendo dado pelo Psol em Santa Maria de Jetibá. O primeiro teste para o projeto do partido no município terá seu resultado divulgado no dia 15 de novembro, com o abrir das urnas, mostrando o alcance e aceitação que esse projeto pode ter, como uma terceira via de fato ou apenas como uma alternativa para descontentes.

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