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Casagrande e Hartung polarizaram embate eleitoral

A campanha eleitoral para o governo do Estado foi marcado por um embate duro entre o governador Renato Casagrande (PSB) e seu antecessor, Paulo Hartung (PMDB). Mas a postura dos coadjuvantes do processo ajudou na definição do cenário político da disputa deste ano.
 
A postura que mais sofreu mudança foi a do governador Renato Casagrande. O socialista iniciou sua campanha propondo um debate de comparação de realizações de seus quatro anos contra os oito de Hartung, mas rompeu com o posicionamento distante ao ser criticado por Hartung, e chamou o peemedebista para o embate de perfis a partir de setembro, o que lhe garantiu uma reação na corrida eleitoral. 
 
O Casagrande de julho e agosto foi completamente diferente do Casagrande de setembro. Nos dois primeiros meses de campanha, o governador apresentou propostas de governo e fazia críticas abstratas, sem nomear seu principal alvo. 
 
Em agosto, após a morte de Eduardo Campos, o presidenciável do partido, seguida do acidente fatal com o deputado estadual Glauber Coelho, membro recente do partido e uma das lideranças capazes de induzir votos no sul do Estado, Casagrande sentiu um abalo não só pessoal, mas também do ritmo de campanha. 
 
No início de setembro, porém, com a ebulição de uma série de denúncias contra seu principal adversário e a consolidação do nome de Marina Silva como substituta de Campos na chapa e em ascensão na corrida eleitoral, Casagrande mudou sua postura. 
 
Passou a fazer críticas contundentes ao adversário, levando os temas para os programas eleitorais e debates, abalando a confiança de seu principal oponente. Casagrande mudou inclusive a fisionomia, de carrancudo e indireto, passou a criticar diretamente seu adversário com um semblante mais leve e chegou ao final do processo eleitoral acirrando o duelo com seu principal adversário.
 
Paulo Hartung
 
A campanha eleitoral para Paulo Hartung começou bem antes de julho. Até o início do processo, ele manteve um jogo político já bem conhecido no mercado capixaba de manter o mistério sobre seu posicionamento político. As movimentações do candidato apontavam para uma composição ao Senado ao lado de Renato Casagrande, mantendo um modelo de unanimidade política, instituída pelo próprio Hartung ao chegar ao governo. 
 
Mas a partir da divulgação de um estudo econômico sobre o governo de Renato Casagrande, assinado por aliados de Hartung, e que mostrava um aumento de gastos na gestão socialista, sugerindo uma possível quebradeira do Estado, a ideia de que Hartung seria candidato ao governo começou a crescer nos meios políticos. 
 
E foi o com discurso da quebradeira que ele se lançou ao governo. Adotou ainda a pauta da educação como condutor de um projeto político que buscava atrair a juventude, tentando evitar o rótulo de “velha política”, rejeitado pelo movimento que tomou as ruas do País em 2013. 
 
Detentor de um grande recall com a população devido aos dois mandatos e imagem criada às custas do fim da oposição em seu governo e do arranjo institucional, Hartung entrou na disputa em clima de “já ganhou”, mas ao longo dos meses esse ritmo estagnou. 
 
Ao chegar ao teto eleitoral de cerca de 40%, o ex-governador ficou sem respostas para as críticas aos indícios de corrupção em seu governo, como o Posto Fantasma, as viagens da primeira-dama nos fins de semana, o “pedágio” de empreiteiras à empresa de consultoria Éconos, e uma mansão não declarada à Justiça Eleitoral fragilizaram a imagem ilibada do ex-governador. 
 
Outro momento que desestruturou o ex-governador foi a veiculação no programa eleitoral de Casagrande de uma escola no interior do Estado que vinha funcionando em um curral. Como seu programa político se baseava na educação, as imagens causaram um grande estrago na construção do discurso. 
 
A partir daí, Hartung passou a ser visto por parte da população e da classe política como um político não muito diferente do restante no Estado, o que prejudicou a ultrapassagem do teto eleitoral, acirrando ainda mais a disputa pelo governo. 
 
O ex-governador tentou reagir na reta final, ao ressuscitar a inclusão do nome de Casagrande na investigação de um esquema de corrupção na Camargo Correia, mas a reação aconteceu às vésperas da eleição, quando não havia mais tempo para que o  impacto se espalhasse. Além disso, a denúncia é fragilizada e não afetou o cenário. 
 
Camila Valadão
 
Casagrande e Hartung protagonizaram o pleito, mas o papel de Camila Valadão na eleição não pode ser descartado. Enfrentando de igual para igual os candidatos favoritos, a assistente social de 30 anos mostrou personalidade para colocar no debate eleitoral temas que deixaram contra a parede os adversários, a quem ela chamou de “sócios” de um projeto político que dura 12 anos no Estado e que não visa a atender ao interesse da população, e sim de um grupo político e econômico. 
 
Camila teve coragem de mexer em temas delicados como as “masmorras” do período de Paulo Hartung e a truculência policial contra as manifestações populares no governo de Renato Casagrande. Criticou a lógica economicista dos dois governos e propôs uma inversão da pauta política do Estado, colocando o cidadão como centro das atenções da política institucional.   
 
A candidata não mudou sua postura durante todo o processo eleitoral, tratando com seriedade e coerência os temas defendidos pelo partido. Conseguiu com isso criar uma imagem muito positiva não só de sua candidatura, mas também das ideias defendidas pelo PSOL. Tudo sem adotar um discurso de ódio ou truculento contra seus adversários, que logo perceberam que tentar descreditá-la pela idade ou pelo ineditismo na política não seria uma boa ideia. Tanto que a partir do primeiro debate a candidata já mostrou a que veio e não permitiu ser instrumento de ataques indiretos entre Casagrande e Hartung.
 
Roberto Carlos 
 
O candidato do PT ao governo do Estado teve um desempenho muito abaixo do que o partido geralmente tem em disputas eleitorais no Estado. Mas o insucesso do partido neste processo eleitoral não se deve apenas à escolha de um candidato em primeiro mandato de deputado estadual. Houve uma sequência de escolhas equivocadas que acabaram isolando o partido na disputa majoritária. 
 
O projeto inicial do PT era o de se manter dentro do processo de unanimidade ao lado de Paulo Hartung e Renato Casagrande. Mas diante da ruptura do processo, o partido não soube para que lado caminhar. Casagrande ofereceu um palanque neutro em que o partido poderia ter seu espaço para a candidatura de Dilma Rousseff ou com a candidatura a senador de João Coser ou com a vice. Mas o partido tendia a caminhar com Paulo Hartung, de quem Coser é aliado.
 
Com a aliança fechada do ex-governador com o ninho tucano, a ida do PT para seu palanque ficou impossibilitada. O partido se viu sozinho e com a necessidade de erguer um palanque para Dilma no Estado, fortalecendo uma candidatura ao Senado, prioridade para o PT nacional. 
 
Nesse contexto, Roberto Carlos entrou na disputa ciente de que não seria bom negócio para os interesses do grupo se indispor nem com Casagrande, nem com Hartung. Por isso, passou a defender o palanque de Dilma e apresentar propostas que já defendia na Assembleia, como a universidade federal. Como não atacava nenhum dos lados, acabou servindo nos debates de subterfúgio para que Hartung fugisse do embate direto com Casagrande. 

Ideologia

 
Já o candidato do PCB, Mauro Ribeiro, com nenhuma estrutura e sem participação em debates, cumpriu o papel de sua candidatura ideológica, defendendo o projeto socialista com um ar bem leve, que pode lhe render alguns votos pela simpatia.   

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