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Comitiva de vereadores questiona obras paralisadas em Linhares

Ação de 10 dos 17 vereadores mostra perda de apoio do prefeito Bruno Marianelli, substituto de Guerino Zanon

Uma comitiva formada por dez dos 17 vereadores de Linhares, no norte do Estado, realizou vista a três obras paralisadas no município. O ato traz consigo um grande significado político, pois explicita o esfacelamento da base parlamentar do prefeito Bruno Marianelli (Republicanos), que era vice-prefeito e assumiu em abril do ano passado, quando o titular Guerino Zanon (PSD), renunciou ao cargo para concorrer ao governo do Estado, tendo ficado em terceiro lugar com 7% dos votos.

As obras referidas visitadas pelos vereadores são a reforma e revitalização da Linha Verde, com a construção de um Complexo Esportivo e Cultural em Palmital, considerado um dos pontos turísticos do município; a ciclofaixa que liga o bairro Aviso ao Residencial Rio Doce; e uma quadra esportiva no bairro Interlagos. “Do ponto de vista político, simbólico quisemos chamar atenção sobre essa situação de abandono das obras. A gente vem cobrando de forma administrativa mas sem ter respostas”, diz o vereador Professor Antônio Cesar (PV), que foi acompanhado na comitiva por Tarcísio Silva (PSB), Alysson Reis (DC), Roninho Passos (DC), Carlos Almeida (PDT), Guigui (PSC), Jonathan Maravilha (Podemos), Urbano D’avila (PTB), Wellington Vicentini (Rede) e Juninho Buguiu (PV).

As obras somam investimentos de R$ 14 milhões, iniciados na gestão passada de Guerino, que havia sido reeleito antes de renunciar, e que já deveriam ter sido entregues segundo o cronograma oficial. A reportagem também fez contato com a Prefeitura Municipal de Linhares, que preferiu “não se manifestar sobre o assunto”. 

Professor Antônio César reclama que além de representarem obras importantes para a cidade que não foram concluídas, os canteiros de obras, cercados de tapumes, como em Palmital, são motivos de queixas por gerar sensação de insegurança a moradores. “A ciclofaixa liga o residencial criado pelo programa Minha Casa, Minha Vida, com cerca de 900 famílias em condições de vulnerabilidade social, sendo que muitas usam bicicletas e precisam transitar pela pista. Não é raro que aconteçam acidentes, pois a obra ficou inacabada”, agrega o vereador.

A manifestação coletiva dos vereadores ao visitar as obras mostra a posição delicada do prefeito e outras questões políticas do município. Único vereador que assumiu o mandato como oposição assumida em 2020, Professor Antônio César ganhou mais três aliados ao longo da gestão iniciada por Guerino, que exercia seu quinto mandato como prefeito. Desde que Marianelli assumiu, porém, a oposição chegou a 10 e formou maioria, algo pouco comum na política capixaba, já que quem tem a máquina nas mãos conta com muitos artifícios para atrair sua base, mais ainda no interior.

A isso se podem atribuir algumas causas. Primeiramente, o fato do atual prefeito, aliado de longa data de seu antecessor, não ter nem o carisma, nem a experiência e nem a capacidade de articulação política de Guerino Zanon, embora este, ao que tudo indica, ainda exerça forte influência sobre seu antigo vice. “Guerino era mais opressor, não dava muito espaço. Tinha punho de ferro. Bruno não consegue se opor pelo medo como Guerino fazia, mas também não é aberto à conversa. Promete e não cumpre, promete e volta atrás. Alguns vereadores se sentiram desvalorizados e saíram fora. Se é para ficar na base e não ter entregas é melhor ficar na oposição e fazer enfrentamentos”, analisa Antônio Cesar. 

Prefeito Bruno Marianelli enfrenta oposição da maioria dos vereadores na Câmara. Foto: Divulgação

Para além disso, a saída de cena da principal figura política do município deixou um vácuo de poder. Os impactos das últimas chuvas no município também ajudaram a desgastar ainda mais a gestão do substituto. Marianelli será candidato à reeleição? Terá apoio ou aliança com Guerino? Se chegar enfraquecido abrirá campo para outras candidaturas ao executivo? A movimentação dos vereadores precisa ser ágil nesse sentido. E não tendo confiança no atual gestor e em sua movimentação, o distanciamento pode ser estratégico.

Uma das figuras em alta em Linhares para 2024 é Lucas Scaramussa (Podemos), segundo colocado nas eleições para a prefeitura em 2020, que conseguiu eleger-se deputado estadual. Os outros ex-deputados estaduais do município ficaram na planície: Luiz Durão (PDT), que já foi prefeito e assumiu o mandato no legislativo como suplente, não conseguiu se reeleger, enquanto Marcos Garcia (PP), que também concorreu a prefeito em 2020, tentou dar um passo maior que as pernas e não logrou o almejado cargo como deputado federal. Podem voltar à cena e têm suas alianças que repercutem na Câmara. Além de outros vereadores que também podem tentar se projetar para o executivo municipal.

Uma movimentação no município busca consolidar uma candidatura que venha com o carimbo do governador Renato Casagrande (PSB), unindo seu partido, a federação PT-PCdoB-PV e outros possíveis aliados. Não deixa de ser desejável ao governador, já que Guerino, além de ser aliado do ex-governador Paulo Hartung (sem partido), rival de Casagrande, aderiu ao bolsonarismo em sua campanha, compactuando com outro desafeto velado do governador. A votação de Zanon foi decisiva para provocar um segundo turno. “Queremos desconstruir essa falsa imagem de boa gestão. E criar a possibilidade de que alguém possa vencer essa eleição que não seja desse grupo político que está no comando da cidade há 30 anos”, diz o Professor Antônio Cesar, que se coloca no grupo que defende a construção dessa candidatura opositora, considerando que todos os outros foram ou são aliados de Guerino Zanon e não possuiriam diferenças significativas com o mesmo.

Vereador Professor Antônio César é um dos críticos a Marianelli e a seu antecessor, Guerino Zanon. Foto: Divulgação

Ele ainda avalia a possibilidade de se viabilizar uma candidatura de extrema-direita, já que no município de tradição conservadora Jair Bolsonaro teve 55,6% dos votos no primeiro turno. Essa candidatura poderia ser representada por algum empresário linharense ou alguma figura política que se viabilize nesse campo.

Outra questão é que a articulação opositora levou à presidência da Câmara Wellington Vicentini, que assumiu no início do ano no lugar de Roque Chile (PSDB), aliado do executivo. Tendo Bruno Marianelli sido eleito como vice, ao ocupar o cargo de prefeito em substituição ao titular, o município fica sem vice-prefeito, fazendo com o que substituto imediato seja o presidente da Câmara, que foi aliado de Guerino, mas agora faz oposição. Por isso, espera-se que os vereadores analisem com lupa cada contrato e ação política do prefeito, pois um afastamento mudaria de mãos o controle da máquina.

A artilharia da oposição já está aberta logo no início de 2023. Além da comitiva de fiscalização das obras, o legislativo, com maioria, já convocou para prestar contas em fevereiro na Câmara, João Cleber Bianchi, secretário municipal de Obras e Serviços Urbanos, que terá que responder publicamente pelas paralisações, e a secretária de Educação. E pretende ainda chamar os responsáveis pelas pastas de Segurança Pública e Transportes e de Cultura, Esporte e Turismo. E certamente não será fácil para os secretários enfrentar um Câmara de Vereadores com maioria de oposição.

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