Tema gera desgaste para Victor Coelho e a pré-candidata a prefeita Lorena Vasques
O deputado estadual Callegari (PL) decidiu abraçar de vez a briga dos vendedores ambulantes de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, que passaram por uma realocação forçada no mês de março. Em vídeo gravado com os camelôs, o parlamentar bolsonarista afirmou que acionará o Ministério Público do Estado (MPES) e levará o assunto à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, da qual faz parte.
O tema tem sido uma das fontes de desgaste para o atual chefe do Executivo Municipal, Victor Coelho (PSB), e sua supersecretária de Obras e Manutenção e Serviços, Lorena Vasques (PSB), pré-candidata a prefeita. O também pré-candidato a prefeito Diego Libardi (Republicanos) foi outro que explorou esse tema recentemente, mas a iniciativa de Callegari – que trabalha pela eleição de Léo Camargo (PL) em Cachoeiro – é uma investida ainda maior.
“Prefeito Victor Coelho (PSB), o homem da cidade inteligente. O quê que ele fez? Pegou os camelôs de Cachoeiro e simplesmente fez isso, enfiou eles nessa rua. Não tem tapagem, não tem nada. […] Têm pessoas aqui que já até desistiram de ser camelô. Largaram, tem caso de depressão. Não tem banheiro químico, tem gente urinando aqui nas paredes. A situação aqui é difícil. […] Não tô aqui pra fazer sensacionalismo. Só pra mostrar que essa cidade, de inteligente, não tem nada, mas de desumana tem muito”, discursou Callegari.
“Porque antes existia um acordo com o prefeito e com a Lorena de que a gente viria para cá somente com o local pronto. Aí falaram: tudo bem. Aí depois de dois meses, foi lá e tirou à força. Mentiram descaradamente, foi um pessoal desonesto”, denunciou o vice-presidente da Associação dos Vendedores Ambulantes de Cachoeiro, Enoque Santos, ao lado de Callegari.
No dia 20 de março, a Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim iniciou a realocação de bancas de vendedores ambulantes que atuam nas calçadas dos bairros Guandu e Centro para a rua Joaquim Vieira, onde está situado o Teatro Municipal Rubem Braga. No ano passado, o tradicional Shopping Popular também foi demolido.
Na ocasião, a gestão do prefeito Victor Coelho alegou que “a medida se faz necessária para viabilizar a continuidade das obras de macrodrenagem na área central da cidade”, e a “realocação” estava prevista para agosto de 2023, mas foi adiada “sucessivas vezes” a pedido dos trabalhadores, para não atrapalhar nas vendas relativas a datas comemorativas.
Entretanto, segundo os vendedores, o acordo era de que eles seriam transferidos quando fossem instaladas as estruturas para um mercado popular no local, o que não ocorreu. Os camelôs também reclamam da falta de estrutura do espaço, que não possui banheiro e nem proteção contra o sol.
Victor Coelho foi criticado sobre a condução do assunto por Diego Libardi na audiência pública que tratou do empréstimo de 50 milhões de dólares – um dos projetos a serem realizados com o dinheiro é a construção do novo “camelódromo”. Em resposta, o prefeito apresentou uma motivação adicional para a retirada dos vendedores ambulantes das calçadas.
“Nós nos reunimos com as associações de representantes dos camelôs, mostramos uma determinação judicial por conta de não ocuparem as calçadas do município, não é local de ter os ambulantes em calçadas. E aí, se você fizer uma pesquisa no comércio, você vê que os próprios comerciantes pediram para os ambulantes não ficarem ocupando as calçadas”, afirmou o prefeito.
“Colocamos de forma provisória ali na rua do teatro e outros camelôs que estavam no Shopping Popular, dentro do Mercado da Pedra. Então, daquele imóvel que foi desativado, todos estão dentro do Mercado da Pedra, não estão desalojados. Só os que estavam na rua, nós colocamos na rua do teatro. Apresentamos esse projeto para eles que, através dessa operação de crédito, nós vamos dar dignidade aos comerciantes ambulantes”, completou o prefeito.
Macrodrenagem
No segundo semestre de 2023, foram iniciadas as obras de macrodrenagem na região central de Cachoeiro, nas quais o prefeito apostou no fim de seu mandato, com a promessa de acabar com os históricos alagamentos do bairro Nova Brasília e do entorno. Trata-se de um investimento de R$ 55,2 milhões da gestão do governador Renato Casagrande (PSB), principal aliado de Victor Coelho.
Enquanto os benefícios da obra não aparecem, os transtornos se multiplicam. Têm sido constantes as reclamações dos comerciantes por conta da poeira, dos fechamentos de ruas, da quebradeira em geral nas vias e nas calçadas, que, segundo eles, contribuem para a grande redução das vendas.
A macrodrenagem também tem sido usada para dar solução a imbróglios de longa data. Um deles é a própria retirada dos vendedores ambulantes, que ocupavam ruas na região em que as obras acontecem. Já em 2002, na última gestão de Theodorico Ferraço (PP) na prefeitura, havia determinações para a remoção de camelôs das vias públicas.
No início deste ano, a gestão municipal também ganhou uma ação de reintegração de posse do local em que fica o Posto Oásis, na entrada para o bairro Guandu. O estabelecimento de venda de combustíveis ocupa há quase 60 anos um espaço público. Seu contrato de concessão venceu em 2015 e, mesmo assim, estava se recusando a deixar o espaço. Na semana passada, a empresa anunciou o fim das atividades. Antes disso, Callegari também fez um protesto no local.
“Os camelôs já foram tratados a pontapés, e nós temos que resolver também essa situação. Os comerciantes também estão sendo tratados a pontapés. Querem arrancar o posto de gasolina agora para fazer uma praça. Pergunto: para quê mais uma praça, se não cuida nem das praças que tem? São ponto de noia. Parece que o prefeito gosta de ponto de ‘noronha’ é o prefeito dos ‘noinhas’, mais espaço para o camarada usar droga aqui”, vociferou o deputado, usando termos discriminatórios para falar de pessoas em situação de rua.