Pessoas de diferentes credos disputam as eleições no Espírito Santo. Vinte e quatro delas usam títulos religiosos na urna
O Espírito Santo, nas eleições deste ano, conta com 24 candidatos que usam títulos religiosos na urna, como os de pastor, pastora, missionário, bispo e evangelista. Há ainda aqueles que têm religião, sem um título específico, ou até mesmo atuam como sacerdote, mas preferiram não inserir essas informações. O número de religiosos no pleito, portanto, é ainda maior, o que não é de se estranhar, em um país com diversidade religiosa como o Brasil.
Contudo, diversidade não é sinônimo de respeito e tolerância. Por saber bem disso, Mãe Yara (PSDB), sacerdotisa de Umbanda, decidiu se candidatar, considerando a falta de representatividade das religiões de matriz africana. “Tem políticos que até nos recebem bem para discutir política pública, mas vemos crescimento dos evangélicos na política e, muitos deles, não querem tratar disso com a gente, motivados pelo racismo religioso”, afirma.
Mãe Yara explica que as religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, e qualquer outra religião, não podem ser alvo de política pública, pois o Estado é laico. Entretanto, essas crenças compõem as comunidades tradicionais, podendo, em virtude disso, haver políticas voltadas para esse foco. Uma de suas propostas como candidata a deputada estadual é o apoio às comunidades tradicionais, não somente as de religiões de matriz africana, mas também as demais existentes em solo capixaba, como ciganos, pescadores, marisqueiros e pomeranos.
A sacerdotisa relata que as dificuldades impostas a sua fé acontecem, inclusive, nos procedimentos burocráticos relativos ao processo eleitoral. De acordo com ela, uma das orientações dadas aos candidatos para a foto da urna é de que não usem acessórios. Isso fez com que tivesse que abrir não de suas guias e de seu turbante, a descaracterizando como mãe de santo.
“Minha candidatura vem em função daquilo que sempre trabalhei. Meu despertar para a política veio dentro da Igreja, desde quando estava no seminário. Quero defender uma sociedade justa, que foi o que aprendi dentro da Igreja”, diz o candidato, que é membro da Rede Nacional de Assessores do Centro de Fé e Política Dom Helder Câmara, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); e coordenador pedagógico da Escola de Fé e Política da Arquidiocese de Vitória.
A professora Thayane Oliveira, que é evangélica da Igreja Batista, faz parte de uma candidatura coletiva composta por cinco mulheres, registrada em nome da empreendedora Fernanda Pereira (PSB) e que tem como foco a Câmara Federal. Thayane acredita que, independentemente da religião, a meta dos candidatos tem que ser “a questão social e humana” e que “o amor ao próximo é a base do respeito à escolha que o outro fez para si, inclusive na fé”.
O mandato coletivo conta, inclusive, com uma mãe de santo, a Karla Regynna, da Serra. “Ela está ali não somente pela questão da diversidade, mas também por ser uma pessoa que através da fé dela realiza um importante trabalho social, um trabalho de caridade, que não deixa de ser política”, afirma. Thayane relata que uma das coisas que a fez ingressar na candidatura coletiva foi a baixa participação das mulheres na política.
Cenário
‘A política só tem sentido na ótica do bem comum’
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