Presidente do Sindipães, Ricardo Augusto Pinto, considera situação preocupante
A eleição presidencial na Argentina, neste domingo (19), tem muito a ver com o Brasil, que pode ter problemas que vão desde as relações entre países da América Latina até o pão de cada dia dos brasileiros, caso vença o pleito o candidato da extrema direita, Javier Milei. Ele tem apoio do bolsonarismo e de outros movimentos extremistas, como parte de um movimento global de ideologia nazista.
Milei disse que irá cortar relações com o Brasil, o maior destino de suas vendas externas, seguido por Estados Unidos e China, o que pode afetar vários setores produtivos, entre eles o de moagem, que envolve as padarias, confeitarias e toda essa cadeia produtiva. Para o presidente do Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria do Espírito Santo (Sindipães), Ricardo Augusto Pinto, a situação é preocupante.
“Caso haja suspensão do comércio, com certeza, haverá desabastecimento”, afirma Ricardo, e complementa: “a Argentina vive, além do impacto negativo por causa da seca na última safra, uma grande tensão política. E isso pode refletir no mercado brasileiro e capixaba. Os moinhos que abastecem o Estado trabalham com estoque, o que deve gerar uma garantia de abastecimento durante uns três a quatro meses”.
A Argentina é um grande parceiro comercial e principal fornecedor do Brasil – fornece 80% do cereal utilizado pela indústria moageira -, informa Ricardo, destacando que 70% do trigo usado na panificação são importados.
“Isso significa que a cada 10 sacos de trigo usados na panificação, três são produzidos no Brasil. O restante é comprado na Argentina, e quando não há quantidade suficiente no país, os Estados Unidos e o Canadá abastecem o setor, a preços mais altos”, explica o presidente do Sindipães.
Javier Milei, candidato da coalizão de direita “A Liberdade Avança”, que enfrenta o candidato peronista Sergio Massa, da “União pela Pátria”, disse que, num eventual governo estritamente liberal, os cidadãos poderiam escolher com quem comercializar, sem a intervenção do Estado. “A partir da minha posição como chefe de Estado, meus aliados são os Estados Unidos, Israel e o mundo livre”, afirmou o ultraconservador, que considera o presidente Lula um “comunista”.
Comércio
De acordo com dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), de janeiro a outubro deste ano, foram exportados 2,28 milhões de toneladas do Espírito Santo para a Argentina, enquanto foram importadas 283,25 mil toneladas. “Em termos de valores, foram US$ 451,86 milhões exportados e US$ 877,69 milhões importados, no acumulado de janeiro a outubro de 2023”.
Nas importações da Argentina para o Estado, destacaram-se, no mesmo período, produtos da indústria de moagem, que responderam por 12% do valor ou US$ 105,37 milhões; laticínios, com 3,42% ou US$ 30,03 milhões; cereais, com 1,53% ou US$ 13,40 milhões; e veículos, partes e acessórios, com 79,7% do valor, um total de US$ 699,49 milhões.
Quanto aos principais produtos exportados pelo Espírito Santo, o minério de ferro respondeu por 74,57% do valor total ou US$ 336,94 milhões; produtos semimanufaturados de ferro e aço não ligado por 9,50% do valor ou US$ 42,92 milhões; café em grãos, por 8,84% do valor ou US$ 39,96 milhões; e rochas ornamentais trabalhadas, que respondeu por 1,67% ou US$ 7,53 milhões.