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Escola Viva dá destinação a ‘elefante branco’ da Faesa

Não bastasse toda a polêmica em torno do Escola Viva – aprovado pela Assembleia na semana passada sob protestos da comunidade escolar -, o governador Paulo Hartung (PMDB) mostrou que não está nem um pouco preocupado com as críticas da sociedade. O secretário de Educação, Haroldo Rocha, confirmou que o governo vai alugar um dos prédios da Faesa do campus de São Pedro, em Vitória, para abrigar o piloto do projeto.
 
A notícia poderia ser interpretada como corriqueira se o dono da Faesa, Alexandre Nunes Theodoro, não fosse membro dos conselhos Deliberativo e Operacional da ONG Espírito Santo em Ação, que é parceira do Escola Viva. Theodoro, aliás, também faz parte do Grupo de Trabalho “Educação em Tempo Integral” da ONG, cuja missão é dar suporte ao Escola Viva. 
 
Como não existe coincidência e nem almoço grátis, é inevitável deduzir que o aluguel do prédio foi resultado de um lobby articulado nas reuniões da ES em Ação e o governo. Ou alguém acredita que a ES em Ação é uma ONG formada por empresários cheios de boas intenções que querem apenas ajudar o Espírito Santo, sem esperar nada em troca? 
 
Depois de perceber que a construção de um megacampus em São Pedro – três prédios de 35 mil m2 de área construída, ocupando uma área de 280 mil m2 – foi uma estratégia equivocada do grupo educacional, Theodoro começou a pensar numa saída para se livrar do “elefante branco”. 
 
A primeira tentativa foi ainda em 2009, penúltimo ano do segundo mandato do governo Paulo Hartung – outra coincidência? O Estado, à época, sinalizou interesse em adquirir os prédios para abrigar a academia da polícia. Mas as negociações não avançaram. A época a Faesa pedia R$ 60 milhões pelo imóvel. Em 2012, em entrevista ao jornal A Gazeta, Theodoro justificou os motivos que levaram a Faesa a transferir o curso de Odontologia de São Pedro para o campus da avenida Vitória, também na Capital. Ele explicou que o tempo gasto pelos alunos com deslocamento ao campus de São Pedro praticamente dobrou, em função dos problemas demobilidade urbana.
 
O Escola Viva aparece agora como uma excelente oportunidade para se livrar do prédio. Quando se analisa os antecedentes do projeto, fica evidente que estratégia fora premeditada há tempo. A ideia de implantar o piloto do Escola Viva num espaço sem atividade letiva foi uma proposta da deputada Luzia Toledo, governista de carteirinha e presidente da Comissão de Educação da Assembleia. A peemedebista, quando incluiu a emenda ao projeto do Escola Viva, destacou que a proposta atendia a uma das principais demandas da comunidade escolar: a não implantação do projeto este ano nas escolas em atividade. 
 
A “saída” para o governo seria correr atrás de um espaço para abrigar o projeto. Em menos de uma semana da aprovação do projeto surgiu a solução: o campus da Faesa em São Pedro. Rapidamente, o secretário Haroldo Rocha já anunciou as condições do contrato com a instituição de ensino, parecia até que já tudo estava acertado há tempos. Coincidência? O Estado vai pagar à Faesa R$ 62 mil mensais por um dos prédios, com a opção de compra no trigésimo mês de contrato. Tudo sem licitação, conforme publicado no Diário Oficial do Estado dessa terça (16). “A Sedu, através da Comissão Permanente de Licitação de Obras e Serviços de Engenharia, tornou pública a dispensa de licitação para a locação do prédio da Associação Educacional Vitória (AEV)”.
 
Para valorizar o contrato, Haroldo fez questão de afirmar que a reforma ficará por conta da Faesa, como se isso fosse uma grandiosa contrapartida. Ora, qualquer locador é obrigado a dar uma boa mão de tinta nas paredes e fazer a manutenção básica num imóvel que está fechado há mais de quatro anos, antes de entregá-lo ao locatário, ainda mais se tratando de um cliente com alto potencial de compra, que é o caso do Estado.
 
Valorizar o contrato como um “achado” faz parte da estratégia do governo para evitar conjecturas sobre os reais interesses que motivaram o aluguel do imóvel de um membro da ES em Ação para abrigar o Escola Viva. Se já havia um mundo de controvérsias em torno do Escola Viva, o governo acaba de criar mais uma.

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