Estádio está envolvido em ação que cobra uma dívida de R$ 800 milhões, que “inventaram”, afirma deputada
Tramita na Assembleia Legislativa, o Projeto de Lei (PL 347/2024), da deputada Janete de Sá (PSB), que pode tornar patrimônio cultural do Estado o Estádio Engenheiro Araripe, da Desportiva Ferroviária. O clube está em um processo judicial envolvendo o empresário Marcelo Villa-Forte, do Grupo Villa-Forte & Oliveira Empreendimentos e Participações S/A, que se tornou sócio majoritário de uma sociedade anônima formada com o clube e não integralizou o capital.
De acordo com a parlamentar, a proposição busca “salvaguardar a memória do povo capixaba”. O estádio foi inaugurado em 1966, no bairro Jardim América, em Cariacica, e tem o nome em homenagem póstuma ao engenheiro Delecarliense de Alencar Araripe, que foi diretor da Companhia Vale do Rio Doce e morreu em 1964, sem ver a conclusão da obra.
“O Engenheiro Araripe é um marco fundamental na história e na cultura capixaba, tendo sido palco de inúmeras conquistas futebolísticas e eventos de relevância nacional”, aponta Janete de Sá.
Ela afirma que, se o estádio se tornar patrimônio cultural material, não vai poder ter outra destinação, que não seja aquela para a qual foi construído. “Não vai poder se tornar um complexo imobiliário, nem ser demolido. Estamos protegendo o espaço dessa especulação”, garante.
“O tradicional time capixaba, sua diretoria, torcedores e jogadores vivem, atualmente, um pesadelo que se iniciou em 1999 e, que, após a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, a Desportiva Ferroviária ficou com dificuldades financeiras. Acreditou-se que ao se unir ao clube Desportiva Capixaba poderia solucionar o problema financeiro. Logo, a Desportiva percebeu que foi vítima de golpe da empresa Villa-Forte”, destacou.
Segundo Janete, “inventaram uma dívida de R$ 800 milhões, quando o clube deve R$ 6 milhões de IPTU, que é negociável. Produziram essa dívida para justificar a venda de um patrimônio que é nosso, que é do torcedor, que é da Desportiva, que é da diretoria, que é de Cariacica e do povo do Espírito Santo”.
Pelo projeto, serão declarados como patrimônio cultural material o campo de futebol; as arquibancadas; a parte de trás do estádio (usada como área de treinamento e localizado no lado oposto à Estação Ferroviária Pedro Nolasco); e a arquibancada que abriga o Complexo Municipal Educacional Público Eliezer Batista.
Mobilização
Após a divulgação de que o Engenheiro Araripe iria a leilão, torcedores do clube se mobilizaram e, em 14 de maio, foram à Assembleia pedir o apoio dos parlamentares, resultando em suspensão da sessão ordinária para receber o grupo, quem incluía, além de torcedores, jogadores e diretores da Desportiva.
Com uma área de 72 mil metros quadrados, o Estádio Engenheiro Alencar de Araripe consta como garantia para as dívidas contraídas pelo seu antigo proprietário, Marcelo Villa-Forte, do grupo Villa-Forte & Oliveira, que foi sócio majoritário em outro empreendimento com a Desportiva Ferroviária.
O estádio chegou a ser colocado à venda, com ação de despejo do clube das instalações esportivas e de usá-lo para treinamento. Na área interditada estão localizadas, ainda, duas escolas municipais.
A Desportiva já havia entrado com representação criminal junto ao Ministério Público Estadual (MP-ES) denunciando Villa-Forte. A deputada Janete Sá (PSB) relatou a situação em que se encontra o clube de futebol, que tem 61 anos de fundação.
A deputada explicou que após denúncia na Justiça pela parte minoritária da sociedade (a Desportiva Ferroviária), o empreendimento foi extinto.
“A Desportiva Ferroviária foi novamente surpreendida com a tentativa de vender, alugar ou fazer do estádio uma atividade econômica privada. Foi feita uma ordem de desocupação do estádio pelo administrador judicial, designado pelo juiz da segunda vara da Justiça. Acontece que o administrador judicial, o perito judicial e auditor Vaner Corrêa Simões é servidor público e auditor de controle externo do Estado, o que para nós é, no mínimo, antiético. Ele deveria se declarar impedido e sair do processo”, considerou a deputada.