Denúncia sobre ex-vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane, foi a que mais repercutiu
O levantamento “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, realizado pela Justiça Global e pela Terra de Direitos, aponta que ocorreram 11 casos no Espírito Santo entre 1º de novembro de 2022 e 27 de outubro de 2024. Os registrados somam três assassinatos, dois atentados, cinco ameaças e uma agressão. Ao todo, foram 714 casos em todo o Brasil, sendo 558 somente em 2024, ano de eleição municipal.
A única agressão que consta no levantamento é o caso que mais repercutiu, que foi o da ex-vice prefeita de Vitória, a Capitã Estéfane (Podemos). Em novembro de 2022, ela denunciou a violência política de gênero praticada pelo prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), quando o gestor a impediu de falar durante uma ordem de serviço, em Jardim Camburi. Na ocasião, ele tirou o microfone das mãos dela.
Depois, Estéfane fez uma transmissão ao vivo, classificando a atitude do prefeito como “absurdo, desrespeito à população capixaba, um desrespeito ao valor do voto”. Afirmou, ainda, que isso era recorrente, que não vai mais silenciar, e que Pazolini agiu “de forma imatura, como sempre, irresponsável”. Dois dias antes, ela havia sido impedida de falar, também pelo prefeito, durante a entrega das viaturas da Guarda Municipal, na Praça Costa Pereira.
Em junho do ano passado, a Capitã também denunciou violência política de gênero cometida pelo vereador Leonardo Monjardim (Novo). Estéfane foi impedida de falar em sessão solene realizada por Monjardim na Câmara Municipal em homenagens aos empreendedores, numa repetição do episódio público ocorrido em 2022. Ela foi candidata vereadora de Vitória nas eleições 2024 após ensaiar uma candidatura a prefeita, mas não se elegeu.
Os assassinatos foram os de Renato Rosa (Podemos), primeiro suplente de vereador em Vila Valério, noroeste do Espírito Santo; Leomar Cazoti Mandato (PV), vereador de Governador Lindemberg, no norte; e Wellington Carlos Treichel (PSDB), fazendeiro e presidente do partido em Pancas, também no norte.
Renato, conhecido como Fenômeno, foi executado com mais de 10 tiros em 6 de outubro de 2024, dia do primeiro turno das eleições municipais, as quais disputou. Leomar também foi morto a tiros, em 30 de agosto do ano passado. Ele era candidato à reeleição e foi assassinado enquanto colocava adesivos nos carros junto aos seus apoiadores. Wellington, conhecido como Wellington Breda e cotado para disputar as eleições de 2024 como candidato a vice-prefeito, foi assassinado em 30 de junho após dois homens encapuzados invadirem sua casa. Seu corpo foi encontrado dentro de seu próprio veículo. Nenhum desses casos foi elucidado.
Os dois atentados foram contra Luciano Pimenta (PP), prefeito reeleito de Afonso Claudio, na região serrana, e Marlon Fred (PDT), vereador da Serra, na Grande Vitória. Luciano foi atacado a tiros em outubro último enquanto dirigia na zona rural do município, mas os disparos não o atingiram. Marlon recebeu um tiro de raspão no cotovelo em maio do ano passado dentro de uma oficina de bicicletas, onde um homem pediu que tirasse o cordão e a pulseira, que foram jogados no chão pelo vereador, que se encontrava sentado na porta do estabelecimento. O criminoso, então, pegou os objetos, e efetuou disparos na direção de Marlon quando ele se levantou.
As cinco ameaças foram contra Guilherme Nascimento (Psol), pré-candidato a prefeito de Marataízes, no sul; Célia Tavares (PT), que disputou a prefeitura de Cariacica, na Grande Vitória; Rafael Monteiro (PL), candidato a prefeito de Venda Nova do Imigrante; Devacir Rabello (PL), eleito vereador em Vila Velha; e Professor Jocelino (PT), eleito vereador em Vitória.
Guilherme retirou sua candidatura com a alegação de que estava sofrendo pressões psicológicas, ameaças e ofensas nas redes sociais por parte de apoiadores de outros pré-candidatos. Célia, que disputou a eleição com Euclério Sampaio (MDB), registrou Boletim de Ocorrência (B.O) durante as eleições, após uma pessoa dizer, em suas redes sociais, que “quando passou aqui ontem, a vontade era da (sic) um tiro no meio da cabeça”.
Rafael, em 1º de outubro último, também registrou BO pois, de acordo com ele, o funcionário de uma empreiteira que presta serviço para a prefeitura foi ao seu comitê e o ameaçou dizendo “não mexa com a gente”, “a gente acaba com você”, “cuidado comigo”. Rafael, que perdeu a eleição para Dalton Perim (Republicanos), alegou que as ameaças foram por causa de denúncias que ele havia feito contra a empreiteira. Uma situação semelhante foi relatada por Devacir. Em agosto último, em suas redes sociais o candidato, que se elegeu vereador, relatou que uma pessoa havia ido ao seu comitê e o ameaçado. Depois, essa mesma pessoa teria seguido ele de moto na rua.
Professor Jocelino, que foi eleito vereador, também registrou Boletim de Ocorrência em setembro último por ameaça de morte. Ele relatou que um de seus colaboradores recebeu, no telefone da campanha, uma ligação com “a voz de um homem, dizendo eu vou matar o Jocelino”. O BO foi registrado na Delegacia Regional de Santo Antônio. “A situação gera tristeza, impotência, mas não nos tirará das ruas”, lamentou Jocelino na época.
De todos os estados brasileiros, o Espírito Santo, juntamente com Sergipe, ficou em 20º lugar no ranking de casos de violência política e eleitoral. Estão abaixo Maranhão (9), Acre (9) Roraima (4), Rondônia (4) e Amapá (1). Estão acima, São Paulo (108), Rio de Janeiro (69), Minas Gerais (49), Pernambuco (35), Ceará (35), Santa Catarina (34), Paraíba (32), Roraima (30), Rio Grande do Sul (27), Pará (25), Distrito Federal (22), Piauí (22), Goiás (20), Rio Grande do Norte (19), Amazonas (18), Acre (17), Mato Grosso (16), Mato Grosso do Sul (15) e Tocantins (13).