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‘Eu incomodo porque sou comunista’, diz capitão PM do Movimento Antifascismo

Capitão Sousa responde a dois processos por ter participado de manifestações contra Jair Bolsonaro

Arquivo Pessoal

Cinco meses depois de ter participado de manifestações populares, como o “Fora Bolsonaro”, no dia 24 de julho de 2021, o capitão da Polícia Militar do Espírito Santo (PM-ES) Vinícius Sousa será submetido a interrogatório nesta segunda-feira (17), na Corregedoria da corporação, como parte de dois processos instaurados no último mês de dezembro. Sousa, que integra o Movimento Policiais Antifascismo, reafirmou nesta quinta-feira (13), que não desrespeitou nenhuma autoridade e não teme se manifestar contra a injustiça e a desigualdade.

“Eu incomodo porque sou comunista”, declarou o militar, ao defender o direito de ter uma ideologia que direcione sua visão de mundo, no sentido filosófico, destacando o fato de não pertencer a nenhum partido político. Ele aponta, de forma crítica, o controle exercido “pela classe dominante”, que impede uma transformação social mais igualitária.

O primeiro interrogatório, dos dois determinados pela Corregedoria da PM-ES, é referente a entrevistas dadas a Século Diário e A Tribuna sobre assuntos relacionados à segurança pública com críticas à Corregedoria e ao governo federal. O segundo foi instaurado por ele ter feito postagens em redes sociais sobre segurança pública e, também, por sua participação em manifestação popular.

O capitão Souza, lotado em Cachoeiro de Itapemirim,sul do Estado, tem na defesa o advogado André Perecmanis, que assumiu o caso voluntariamente e virá ao Estado nos próximos dias. Além desses processos, tramitam ações disciplinares, cuja defesa está a cargo da Rede Liberdade, que reúne renomados criminalistas de todo o Brasil comprometidos com a liberdade de opinião e pelo movimento “Cala-Boca Já Morreu”, liderado pelo youtuber Felipe Netto. Ele conta, também, com o apoio do advogado André Moreira, ativista de direitos humanos no Espírito Santo.

“Não há nenhum crime, tanto que minha atuação profissional em momento algum foi questionada. É apenas uma questão política, porque defendo que o povo participe e decida”, enfatiza, e denuncia: “Essa violação não ocorre só comigo, pois há um documento oficial afirmando que todo o Movimento de Policiais Antifascismo está sob devassa na Corregedoria, embora o STF [Supremo Tribunal Federal] tenha proibido expressamente essa investigação”.

“Temos que trazer de volta esse debate para que qualquer pessoa tenha o direito de professar sua ideologia”, reafirma o militar, que faz um alerta sobre as formas que a classe dominante usa para paralisar as ações populares que possibilitariam ao trabalhador ampliar sua participação na tomada de decisões.

“As transformações não ocorrem porque a burguesia controla a mídia, monitora os partidos políticos, não permite plebiscitos e impede que a democracia chegue para as pessoas”, afirma, e destaca que o trabalhador tem que ter parte dos meios de produção, a fim de usufruir de benefícios gerados a partir do que ele ajudou a produzir.

O capitão Sousa diz que “a classe trabalhadora não tem voz ativa” e, por conta desse cenário, não tem saneamento adequado, transporte, segurança pública e, ao mesmo tempo, vê o “governo federal entregar o patrimônio do país às potências estrangeiras, que ainda dizem o que deve ser feito. O Brasil está virando um fazendão, com a desindustrialização”.

O capitão Sousa, 37 anos, casado, pai de três filhos, tem formação em Direito com pós-graduação em Gestão Pública, além do curso de oficiais da PM. Ele defende direitos plenos para os policiais, como qualquer cidadão, e destaca a vedação constitucional à greve, à sindicalização e à filiação partidária, procedimentos seguidos pelo Movimento Nacional de Policiais Antifascismo no Espírito Santo, do qual é integrante. O grupo é formado por policiais militares de várias patentes, policiais civis e rodoviários federais, agentes penitenciários e guardas municipais.

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