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Evento vai lembrar três anos do impeachment de Dilma Roussef

No próximo dia 31 de agosto cumprem-se três anos desde foi concluído o processo de impeachment que tirou do poder a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT). O tema provocou polêmicas familiares, parlamentares e também acadêmicos. Na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde foi realizado um curso sobre “O Golpe de 2016 no Brasil”, um grupo de professores de diversas áreas de conhecimento realiza um debate nesta sexta-feira (30) no auditório do Centro de Educação, no edifício IC-4 do campus de Goiabeiras.

Foto: Facebook

O tema disparador é: “O Golpe: três anos depois, como vai o Brasil?”. O foco é debater a conjuntura atual a partir da crítica construída sobre os fatos históricos que culminaram no golpe de 2016 e outros acontecimentos decorrentes, como a prisão de Lula e impedimento de sua candidatura e a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) com sua agenda neoliberal.

Na ocasião do evento ainda será feito o lançamento da segunda edição do livro “Foi Golpe! O Brasil de 2016 em análise”, lançado pela Editora Pontes numa coletânea feita a partir das contribuições de professores da Ufes para o curso “O Golpe de 2016 e a democracia no Brasil e na América Latina”, que aconteceu entre abril e junho de 2018.

O curso teve participação de professores de áreas como filosofia, ciências sociais, comunicação social, literatura, linguística, educação, história, biblioteconomia, entre outras. Os vídeos das aulas podem ser assistidos no YouTube. Os docentes foram Ana Carolina Galvão, André Ricardo, Camila Costa, Daniela Zanetti, Gaspar Paz, Juliana Gomes, Junia Zaidan, Lívia Moraes, Maurício Abdalla, Marcelo Barreira, Maria Amélia Dalvi, Mauro Petersem, Rosemeire Brito, Tom Gil, Wilberth Salgueiro, que estão convidados para participar do debate que acontece nesta sexta-feira. 

Alguns dos professores participantes dos debates sobre o golpe. Foto: Facebook

Conversamos com Junia Zaidan, professora do Departamento de Línguas e Letras da Ufes e uma das integrantes do grupo promotor do curso.

Século Diário: Qual a importância de lembrar essa data três anos depois do ocorrido?

Junia Zaidan: Aponto duas, dentre muitas razões para lembrarmos dessa data. Primeiro, a importância da construção da memória histórica, sempre fundamental para diagnosticarmos com precisão, no presente e no futuro, nossa situação, sobretudo em face de nossa condição de colonizados, outrora por Portugal, hoje pelos EUA. Essa condição de subalternidade, que, na América Latina e Caribe tornou-se um empreendimento imperialista de contínua tentativa de intervenção e sequestro da soberania e autodeterminação dos povos latino-americanos. Empreendimento nem sempre exitoso, se considerarmos as derrotas sofridas pelos EUA em Cuba e na Venezuela, é importante que se diga.

A outra razão decorre da primeira: construir uma crítica e formar uma vanguarda intelectual e política que seja intransigente no diagnóstico e na indicação de vias para a superação da nossa condição de dependência e exploração, que se torna cada vez mais cruel na medida em que se consolida o projeto ultraliberal no Brasil.

– O que acha que mudou no país do golpe até hoje?

Desde 2016, o Brasil parece ter vivido décadas em apenas três anos. Primeiramente pelo desmonte aligeirado da estrutura trabalhista e de bem-estar social; o sucateamento de todas as áreas em que a presença do estado é imprescindível para a dignidade de seu povo, como a saúde e a educação; a entrega de nossas riquezas nacionais; a rendição ao capital internacional e o alinhamento aos Estados Unidos como uma espécie de servidão voluntária. Em certa medida, algumas destas políticas de terra arrasada já vinham sendo gestadas mesmo antes de Michel Temer proceder à sua consecução inicial, assim que tomou o poder.

O que também mudou desde 2016 foi a percepção, ao menos de parcela do campo progressista, sobre a dinâmica discursiva que deu ocasião para todo esse desmonte. Refiro-me ao que temos chamado de diversionismo, ou seja, o uso dos fatos que são produzidos para pautar as discussões na esfera pública, com o objetivo de desviar a atenção de assuntos de real importância política e econômica. Os exemplos são fartos e incluem desde as declarações de ministros sobre a cor de roupa de meninos e meninas, a rumores sobre orações em pé de goiaba, entre outras declarações, ora machistas, ora racistas, xenofóbicas, homofóbicas, geralmente ligadas ao campo da cultura ou do comportamento, que causam comoção instantânea, exatamente como parecem ser planejadas para ocorrer. Ou seja, enquanto a população é “agendada” para esses assuntos, a elite política, efetua o que realmente importa: o desmonte do país.

Mas a percepção dessa dinâmica só redundará em algum avanço, se os movimentos sociais, sindicatos, associações e demais organizações da sociedade civil forem capazes de trazer as massas para a política, no sentido de que exijam uma ruptura com o sistema político apodrecido e que seus dirigentes, ao invés de projetos eleitorais, apresentem projetos políticos comprometidos com a superação da profunda desigualdade que nos constitui como nação.

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