Os ânimos estiveram bastante acirrados na primeira sessão ordinária da Assembleia Legislativa depois da saída do deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) da liderança do governo, nesse fim de semana. Ele ocupou a tribuna para denunciar uma campanha movida contra ele por membros do governo, destacando o deputado Fabrício Gandini (Cidadania), para quem afirmou que “briga na política e também fisicamente”.
“Não sou um pateta, nem ventríloquo do governador”, disse Enivaldo, com um chapéu na cabeça durante todo o tempo de sua fala. Para ele, faltou articulação do governo, o que permitiu que o presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), realizasse no último dia 27 a eleição que estende o seu mandato até 2023, surpreendendo o governador Renato Casagrande e parte do mercado político.
Enivaldo ressaltou: “De um momento para outro, alguns membros do governo querem construir uma imagem tão negativa de quem há uma semana eles carregavam na palma da mão. Não sou afeito a elogios, mas os fatos que ocorreram aqui estão claramente demonstrados: faltou articulação da parte do governo”.
Depois de enumerar ações realizadas para o governo, como líder na Assembleia, o parlamentar afirmou: “Sou pessoa de personalidade, de caráter, e fiquei até preocupado com o deputado Gandini, que se prestou a ficar botando notinha na rede social pra me gozar, de que não sou de confiança. Deputado, você precisa me conhecer, porque se você me conhecer, você não ariscaria falar isso”.
E prosseguiu: “Até porque para fazer acusação da moral do outro, a pessoa tem que ter muita moral. Ela não pode viajar para os Estados Unidos para visitar uma empresa que fez contrato de TI com a Prefeitura de Vitória; ela tem que ter hombridade e não pode ter rabo preso, como com Ministério Público, que vossa excelência correu do Plenário para não votar o projeto deles”.
Mais adiante, Enivaldo disse: “Então, não entre em conflito comigo, porque não é bom negócio. Sou um homem que tem disposição para dialogar, para conversar e para brigar. Brigo na política e brigo fisicamente e V. Excia. não é um homem desse perfil. Então não tente colocar a pecha, o senhor não tem história para enfrentar um homem da minha estirpe”.
Para o deputado, os motivos para sua saída da liderança são outros. “Eu sabia que ia sair da liderança e não era pela eleição da Assembleia, não. Isso era pano de fundo. Sabia que ia sair na quinta-feira (26), quando eu peguei o Diário Oficial e li um aditivo de contrato do Detran [Departamento Estadual de Trânsito] de R$ 3 milhões, dando a uma empresa que ninguém conhece, para botar guincho no Espírito Santo, uma empresa com capital social de R$ 130 mil. Que empresa sortuda é essa. E todo mundo sabia que no dia em que esse guincho voltasse ia ter o meu ódio, a minha repulsa”.
“Eu posso perder amizades, perder amigos, posso brigar até de mão, mas não aceito que a máfia do guincho volte a agir no Espírito Santo. Essa mesma máfia voltou a agir em Vitória. Eu não sei por que de uma hora para a outra eu passei a não servir mais”, acrescentou.
Ele revelou ser alvo de pressões ainda por sua participação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Licenças: “Será que é por que na CPI nós temos dito que a Vale e a BHP são empresas assassinas; será que é por que inúmeras pessoas já vieram me pedir para não serem intimadas e eu mantenho a intimação: será que é por que o pessoal da Findes [Federação das Indústrias] tenta passar tudo aqui nessa Casa, porque é um ninho de gente que vive às custas do Estado e construíram um monstro na sede e já deram um jeito de acertar aquilo, que também é dinheiro público?”.
O deputado Dary Pagung (PRP), vice-líder do governo, em aparte à fala de Enivaldo, afirmou que o contrato do Detran com a empresa citada será cancelado, informação confirmada pelo novo líder, deputado Eustáquio de Freitas (PSB).
Já Fabrício Gandini, em aparte, pediu respeito, disse que também tem um mandato, e rejeitou a provocação para uma briga física, pois disse ser uma pessoa de caráter. “Não sei porque te incomodou tanto meu elogio ao novo líder, parece que vestiu alguma carapuça”, rebateu.