Em luta por sobrevivência após pleito de 2024, tucanos também se aproximam do Podemos
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A federação entre o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e Cidadania está prestes a acabar. O Diretório Nacional do Cidadania votará o tema no próximo dia 16, mas já se manifestou, após reunião nessa quarta-feira (19), pela não renovação da federação, alegando que a parceria resultou em prejuízos ao partido.
A discussão dentro do Cidadania se fortalece em um momento em que o próprio PSDB se aproxima de uma fusão com o Podemos. Esses movimentos nacionais repercutem no Espírito Santo, onde as duas siglas tiveram dificuldades para se entender dentro do cenário eleitoral de 2024.
O Cidadania presenciou uma debandada de lideranças políticas no ano passado, especialmente em Vitória, onde concentrava mais força devido aos dois mandatos de Luciano Rezende na prefeitura (2013-2020). A saída mais notada foi a do deputado estadual Fabrício Gandini (atualmente no PSD), que disputava com Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) a vaga como candidato a prefeito da federação.
Gandini acabou deixando o Cidadania, mas, mesmo assim, desistiu de entrar na eleição majoritária da Capital do Estado. A disputa em Vitória teve dois candidatos próximos do governador Renato Casagrande (PSB): o próprio Luiz Paulo e o deputado estadual e também ex-prefeito João Coser (PT).
Com isso, o Cidadania, que já estava enfraquecido, ficou ainda menor no Espírito Santo. Nas eleições de 2024, uma de suas únicas conquistas foi a reeleição do prefeito Paulo Cola em Piúma, no litoral sul do Estado. Luciano Rezende, presidente estadual da sigla, tem se mostrado distante das articulações políticas.
Uma das possibilidades discutivas a nível nacional para o Cidadania não sumir de vez seria formar uma federação com o Partido Socialista Brasileiro (PSB). No Espírito Santo, o PSB tem sido um dos destinos de ex-filiados do Cidadania, como o ex-vereador de Vitória Vinicius Simões.
Da parte do PSDB, o fim do partido teria como ponto positivo os tucanos se juntarem a uma sigla que já está fortalecida no Estado, com 11 prefeitos e três deputados estaduais. Entretanto, figuras como Luiz Paulo, que já tiveram dias mais gloriosos no passado, tendem a ser ofuscadas por lideranças ascendentes, como o deputado federal Gilson Daniel, presidente estadual do Podemos.
O Podemos, por enquanto, segue na base de apoio do governador Renato Casagrande (PSB), mas o episódio em que Gilson Daniel acabou não fazendo prevalecer sua vontade de se tornar secretário estadual mostra que ainda é preciso aparar arestas até 2026.
Federações: solução ou problema?
A formação de federações tem sido uma alternativa utilizada por partidos enfraquecidos que precisam superar a cláusula de barreira, instrumento jurídico introduzido em 2017 que limita a atuação das siglas que não obtiverem determinada porcentagem de votos para o Congresso Nacional.
Na prática, porém, as federações não tem sido suficientes para dar sobrevida aos partidos, e ainda criam obstáculos a arranjos políticos locais e regionais. Nas últimas eleições em Cariacica, militantes do Partido Verde (PV) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), federado com o Partido dos Trabalhadores (PT), demostraram publicamente a preferência por um apoio à reeleição do prefeito Euclério Sampaio (MDB a caminho do União), em vez de sustentar a candidatura de Célia Tavares (PT), que acabou perdendo a disputa por uma margem muito expressiva.
Militantes do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) no Estado também demonstraram descontentamento com as articulações de seu parceiro, Rede Sustentabilidade, frequentemente destoantes de sua perspectiva estratégica e ideológica.