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‘Forças progressistas devem mudar perfil conservador da gestão Casagrande’

Para o professor Arlindo Vilaschi, não basta o governador reeleito entregar secretarias às forças de esquerda

O leque de alianças que possibilitou a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), derrotando o bolsonarista Carlos Manato (PL), deverá resultar em uma alteração no perfil de gestão no terceiro mandato que se inicia em 1º de janeiro de 2023, encaixando-se em uma visão mais progressista. A opinião é do economista e professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Arlindo Vilaschi, integrante da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais, em entrevista a Século Diário, na qual também analisa a vitória do presidente Lula sobre Jair Bolsonaro (PL) e aponta: “O Brasil está desmantelado”.

“A vitória de Casagrande tem um detalhe importante, porque a aliança que ele fez foi de centro-direita para direita, não fez uma à esquerda, que se juntou a ele no segundo turno por absoluta repulsa ao Manato. Mas não houve nenhuma sinalização, ainda que eu saiba, que na sua terceira gestão à frente do executivo estadual, ele vá mudar de postura. As duas primeiras gestões foram, majoritariamente, determinadas pelos interesses do Espírito Santo em Ação”, diz Arlindo.

Para o professor, “é chegado o momento de as lideranças político-partidárias de esquerda que abraçaram a candidatura de Renato Casagrande, apesar do descaso dele em relação à candidatura progressista de âmbito nacional, fazerem o papel necessário, qual seja, que a gestão tenha um perfil mais progressista e menos conservador. E este perfil não vai ser segurado com entrega de uma ou outra secretaria, sem grande representatividade, que é mais para o ‘toma lá, dá cá’, do que uma coisa propositiva”.

A vitória do Lula, para o professor, tem um significado “muito importante, porque foi uma frente ampla enorme, de centro-direita até a esquerda, unida pela determinação de recuperar a democracia no país, no sentido de respeito à divisão do poder, aos direitos das pessoas, democracia no sentido mais amplo possível”.

Para Arlindo, “as forças que o apoiaram conseguiram construir a vitória de Lula conta o obscurantismo, ou seja, a vitória da civilização versus a barbárie, que têm diferenças internas bastante grandes: visão do que é política econômica, inserção internacional, dos setores de desenvolvimento, e, então, teremos que conviver, e acho que será um exercício maravilhoso, Lula sabe coordenar isso. Teremos que conviver com um antagonismo respeitoso e com a construção de consensos, onde todos conseguem conviver, ainda que a solução não seja a que cada um gostaria”, enfatiza. 

Ele acredita que isso ocorrerá nas “políticas econômicas, sociais, internacional, ambiental, ou seja, o Brasil está vivendo um momento absolutamente ímpar e é fundamental lembrar que essa frente ampla tem que se manter, porque o espectro bolsonarismo está aí, grassando”.

O professor destaca ainda que “temos pelo menos dois governadores bolsonaristas, declaradamente que foram eleitos a partir do apoio de bolsonarismo – Zema [Novo], no primeiro turno, em Minas Gerais, Tarcísio [Republicanos] em São Paulo. Então, o bolsonarismo, que tem um componente antipetista e uma pegada muito forte, está aí”.

Também será muito importante, como apontou, um acompanhamento das discussões e participação dos “embates entre governadores progressistas, como por exemplo, os que foram eleitos no Nordeste, com governadores mais de centro, como Rio Grande do Sul e em Pernambuco, e aqueles que estão mais à direita, mas não a direita raivosa, terraplanista”.

Sobre a gestão de Lula, ele ressalta: “acho que a agenda vai ter dois vetores iniciais muito importantes. O primeiro, a reaproximação do Brasil ao mundo, com uma agenda positiva, de abertura de diálogo para que o Brasil retome o protagonismo que já exerceu nos dois primeiros governos dele, agora extremamente necessário em função da crise climática global e de várias outras crises, inclusive política, por falta de mediação dos embates entre o ocidente e oriente, e no caso a Europa entre a Rússia e a União Europeia. Nesse sentido, o papel do Lula é muito importante”.

Já em relação à agenda nacional, as reuniões com governadores e o Congresso, onde a direita ganhou cadeiras importantes e a ultradireita também, Arlindo acentua: “Não vai ser fácil, porque o Estado brasileiro está esfacelado, toda a estrutura burocrática foi desmontada em áreas que são fundamentais, educação, saúde, meio ambiente e financiamento. Ele cita exemplos como a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), a Petrobras, a Eletrobras, e em torno da reforma agrária, do direito das mulheres e do povos originários e negros”.

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