Vereadora de Vitória apontou violência política de gênero e cobrou providências da Mesa Diretora da Câmara
Um dia depois de festas com flores e homenagens na Câmara de Vitória, em celebração ao Dia Internacional da Mulher, a vereadora Camila Valadão (Psol) foi mais uma vez agredida verbalmente por Gilvan da Federal (Patriota), nesta quarta-feira (9). Uma cena que vai se tornando frequente, com a complacência do presidente da Casa, Davi Esmael (PSD), a quem foi cobrado um posicionamento e providências contra a falta de decoro, segundo o Regimento Interno, protagonizado por Gilvan, que, como das vezes anteriores, se caracteriza por “violência política de gênero”, apontou Camila.
“Não tenho medo de macho me mandando calar a boca, não. Sei dos objetivos da violência política, estamos combatendo e vamos denunciar, sim, em todos os espaços”, reagiu Camila Valadão, em pronunciamento da tribuna da Câmara. “Você cala a sua boca, você ‘tá’ na minha fala, fica quietinha aí”, bradou Gilvan.
Para a vereadora, “de nada adianta fazer homenagens para as mulheres, dizer que não tem violência contra as mulheres, sendo que a violência está todos os dias aqui”.
A vereadora Karla Coser (PT) também contestou Gilvan, destacando ser “inaceitável um vereador ouvir outro vereador mandar uma mulher, e também parlamentar, ‘calar a boca’ e não ter nenhuma atitude de indignação”. Ela destacou: ” Não quero só flores no dia da mulher, quero que vocês [vereadores homens] fiquem indignados e insubordinados, como eu fico”, referindo-se à omissão da maioria dos colegas e do presidente da Câmara, Davi Esmael.
Para Camila, está claro o motivo da agressão e pontuou a “violência política de gênero, com o objetivo de silenciar mulheres que ocupam espaços de poder, para que se sintam intimidadas, tenham medo de dizer o que pensam, de defender as suas bandeiras. Quero dizer ao senhor que os seus gritos não me intimidam, eu vou continuar aqui no meu lugar, defendendo todas as minhas ideias para as quais eu fui legitimamente eleita”.
Diante da omissão dos demais vereadores, formada por homens, Camila disse que a violência contra as mulheres não se combate só com mulheres. “Homens também devem combatê-las, porque sabem que quem perde com a violência política de gênero é a democracia. Isso que o vereador Gilvan faz tem o objetivo de que outras mulheres tenham medo de vir para espaços como esse. Esse é o sinal, para que outras mulheres não se coloquem como candidatas”, disse e enfatizou: “Por isso, vereadora Karla, que nós vamos ocupar esse espaço aqui, sempre, para defender o nosso lugar de fala, para que mais mulheres ocupem a tribuna e não tenham medo”.
Camila, a segunda vereadora mais bem votada do último pleito, e a petista Karla Coser são as únicas parlamentares do gênero feminino no legislativo da capital. As duas estranharam que os “homens da Casa”, que no dia anterior homenagearam o Dia Internacional da Mulher, deixassem de reagir à atitude desrespeitosa de Gilvan e apenas assistiram à cena com naturalidade e aceitação.
Em sua fala, Camila cobrou providências da Mesa Diretora da Câmara, para que tome as medidas cabíveis. “O regimento da Casa é nítido: são atribuições do presidente, vereador Davi Esmael, e lá está escrito. Interromper o orador que faltar com respeito à Câmara ou a qualquer de seus membros: adverti-los, chamá-los à ordem e, em caso de insistência, cortar o áudio de seus microfones. Eu quero reivindicar que isso seja adotado como protocolo pela Mesa”, cobrou.