Em sua terceira passagem pelo comando do Espírito Santo, o governador eleito Paulo Hartung (PMDB) pretende adotar uma gestão municipalista, mas com ênfase na atração de investimentos. As declarações foram dadas pelo peemedebista à Associação de Diários do Interior do Espírito Santo (ADI-ES), que congrega seis jornais no Estado.
Na entrevista, o governador eleito adotou um discurso mais afinado com a campanha do que praticou nos oito anos de governo. Declarou que pretende governar com os municípios e não, necessariamente, com os prefeitos, em clara alusão aos atuais 66 chefes dos Executivos municipais que declararam apoio ao seu principal adversário, o governador Renato Casagrande (PSB).
Apesar de se declarar um “republicano”, as entrelinhas da fala do governador eleito que a vida dos derrotados no pleito não será nada fácil: “Sou governador de todos os capixabas. É assim que vou trabalhar. O que não fica bonito é que juntaram, se não me engano, 66 prefeitos foram tudo para um lado só e perderam eleição. Um ‘grupão’ com a máquina na mão e a prefeitura de Vitória e perder no primeiro turno. Não ficou bonito para eles. Estou brincando aqui, porque é página virada”, afirmou.
Chama atenção que esse discurso não é bem diferente do tratamento dado ao interior do Estado em seus dois mandatos, sobretudo em relação à atração de investimentos públicos e privados. Uma das críticas do período conhecido como Era Hartung era de que o foco do desenvolvimento estava concentrado na Grande Vitória ou nas cidades litorâneas, restando poucas opções para os municípios interioranos – principalmente, os próximos às divisas do Estado.
Em relação aos investimentos, o governador eleito garantiu que vai continuar dando ênfase aos grandes projetos, o que deve novamente excluir por tabela os municípios interioranos. Durante a entrevista, Hartung citou que o Espírito Santo necessita: “Precisamos ir atrás de outras Jurongs”, em alusão ao estaleiro de Cingapura que está sendo implantado em Aracruz, no litoral norte capixaba. O governador eleito disse que vai correr atrás desses investimentos.
Hartung também aproveitou a entrevista para dar novas cutucadas em seu sucessor – e futuro antecessor –, deixando claras as diferenças que restaram do pleito de outubro. O governador eleito reforçou a existência de um “cenário de caos”, discurso no qual tem recorrido na tentativa de marcar a gestão Casagrande e preparar a exaltação da futura administração. O peemedebista citou a ocorrência de obras paradas em todo Estado, de projetos que não saíram do papel (alusão às obras de PowerPoint, que repetiu várias vezes na campanha eleitoral) e levantou dúvidas sobre as finanças do Estado.
“Precisamos conhecer a realidade econômica, financeira e orçamentária do governo. O governo tem tomado atitudes que mostram dificuldades em relação ao pagamento dos servidores. Não sabemos o tamanho do problema que vamos encontrar no governo. Vamos dar um passo de cada vez. Saber a realidade e como intervir nela. O Estado precisa voltar a ter dinheiro para voltar a fazer as coisas”, disse o governador eleito.
No entanto, as insinuações do peemedebista de que a situação financeira não é boa tiveram uma repercussão negativa junto à equipe de transição indicada por Casagrande. Em entrevista ao jornal A Tribuna, o coordenador da equipe, Guilherme Henrique Pereira, afirmou que o Estado está apurando o valor total, mas que a gestão vai deixar bilhões de reais em caixa.
Polêmicas sobre o “colchão de recursos” à parte, uma questão ainda segue sem resposta – as denúncias envolvendo o governador de ter omitido bens em sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral. Sobre o assunto, Hartung declarou que as “agressões feitas à sua família durante as eleições” é uma página que não será virada após o pleito. “O poder tem que ser disputado com projetos e propostas, no escopo da democracia. Essa forma com violência, brutalidade, mentira… Quem disputava a eleição era eu, Paulo Hartung, não minha mãe, com 82 anos. Não é isso que o povo quer”, retrucou.
Mesmo evitando dar explicações sobre o assunto, como fez em todo processo eleitoral, o governador eleito terá que se explicar à Justiça sobre as denúncias. Além da ação de investigação judicial eleitoral movida pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), o escândalo das passagens aéreas pagas com verbas públicas para a ex e futura primeira-dama Cristina Gomes é alvo de uma ação popular por um estudante de Direito. O processo tramita na 3ª Vara da Fazenda Pública Estadual, que vai se manifestar sobre o pedido de devolução do dinheiro gasto.