Organizadores e participantes da carreta realizada neste sábado (23) na Grande Vitória em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que ocorreu em diversas cidades brasileiras, reafirmaram neste domingo (24) a aceitação de movimentos da direita insatisfeitos com o atual governo, rejeitaram a perspectiva de ter o vice-presidente, Hamilton Mourão, ocupando o cargo e ressaltaram que a pauta vai além do “Fora Bolsonaro”. Para eles, passa pela reconstrução do país, com o retorno dos direitos sociais e uma política de desenvolvimento nacionalista.
“Esse é o primeiro sinal e não foi só aqui. Talvez tenha outros movimentos, do pessoal da direita que é responsável por Bolsonaro que quer se manifestar contra ele. Isso é muito bom, para retirar esse câncer que foi colocado num governo, que só tem uma pauta ideológica e não sabe o que fazer com as pessoas que estão morrendo asfixiadas pela Covid”, diz o advogado André Moreira, um dos organizadores do movimento “Impeachment Já”.
Na mesma linha, o administrador de empresas Rafael Primo, idealizador da Aliança Progressista, afirma: “A carreata foi uma centelha. Agora é que o fogo vai pegar. Esse é o sentimento de uma sociedade, com as pessoas insatisfeitas com o governo federal – e não importa se você é de esquerda, direita ou liberal, com certeza, as pessoas que se você tem apreço estão morrendo. É uma ingerência completa que está acontecendo no Brasil e isso afeta a todos os cidadãos”.
Para André Moreira é ” hora de a gente juntar, inclusive o pessoal da direita. Cada um com suas pautas, com suas bandeiras, mas juntos no fora Bolsonaro. É preciso agora que esse movimento cresça, pois o Congresso só recebeu esse primeiro sinal”. Rafael Primo entende que ” direita, esquerda, centro … hoje a sociedade sente como um todo os desmandos e os erros das execuções do governo federal”.
Ele ressalta que “assim como Jair Bolsonaro não é preparado nem para gerenciar uma quitanda, quem dirá para decidir os rumos do país, Mourão não se mostra com essa capacidade. Contudo, um vice-presidente assumindo o posto após o impedimento do titular vai provocar uma falta de força política que evitará algumas atitudes e atrocidades que o governo federal tem cometido até aqui”.
Rafael Primo acrescenta que “existe uma parcela da sociedade, próximo de 20 a 22%, que apoia o presidente incondicionalmente porque ele sustenta muitas pautas morais controversas, das quais essas pessoas eram adeptas, mas não tinham como se declarar”. Essas pessoas, prossegue Primo, “precisam de alguém que sustente essas pautas e por isso ignoram a incapacidade de gestão do presidente. Tirando isso, todo mundo tem interesse no impeachment”.
Já André Moreira, ainda surpreso com a dimensão que a carreta tomou, afirma que o movimento é maior do que o próprio grupo que o criou, havendo necessidade de maior organização, a fim de ampliá-lo. “Os partidos de oposição a Bolsonaro se juntaram, mas não é um movimento dos partidos políticos, embora não exclua os partidos; não é um movimento de organizações sindicais, mas não exclui os sindicatos; pelo contrário, é de todo mundo que compreende que o Brasil é maior do que Bolsonaro”.
Sobre um eventual impeachment do presidente, ele destaca: “Não queremos o vice como presidente, porque acho que não muda nada. Ele já deu sinais muito evidentes de que não é melhor do que Bolsonaro. Se Mourão entrar nós vamos continuar com manifestações contra ele”.
Para André, ter um Hamilton Mourão como vice-presidente, um Ricardo Sales como ministro do Meio Ambiente e o Exército na direção da Saúde, agora com Pazuello, mostra o quão incompetente é um governo militar. “Aliás, mostra mais, mostra que se a gente tivesse dependendo dos militares para a nossa defesa, da nossa segurança, a gente estaria muito mal, porque um general da ativa como Pazuello, ignorante, incapaz, que só usa da postura autoritária para esconder a incompetência dele”.
Temos pautas além do “Fora Bolsonaro”, afirma, e comenta: “Queremos recuperar o país, os direitos sociais que foram perdidos, mas a luta não acaba com a saída de Bolsonaro, é preciso que na política institucional, os partidos se comprometam com a reconstrução dos direitos sociais dos brasileiros, porque a retirada desses direitos já se mostrou incapaz inclusive daquilo que prometeram, que era o aumento da empregabilidade. Na verdade, reduziu o emprego e jogou mais gente na miséria”.
A recuperação dos direitos dos trabalhadores é, para André, uma das principais pautas do movimento. “Recuperar os direitos dos trabalhadores e reindustrializar o país, mas comum um projeto que seja nacionalista, de desenvolvimento nacional real, não esse que fica sempre atrelado ao interesse internacional, com quem a gente deve fazer parceria sempre em situação de autonomia, em igualdade de condições. A submissão nos levou até onde a gente está hoje. A submissão mata, de fome, asfixiado, mata de tudo o que é desgraça. Então, a direita que venha, mas o nosso projeto não é igual ao deles”.