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Integrar Aracruz no Sistema Transcol é viável, afirma ​Marcos Bruno

Diretor-presidente da Ceturb participou de audiência no município que debateu inclusão na Grande Vitória

Ceturb

O diretor-presidente da Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado (Ceturb-ES), Marcus Bruno, considera viável integrar Aracruz no Sistema Transcol de transporte coletivo metropolitano. Ele se manifestou sobre o tema nessa quinta-feira (19), durante uma audiência na Câmara Municipal que debateu a possibilidade de a cidade ser inserida na Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), conforme projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa.

Marcos Bruno confirmou que, caso o projeto de lei fosse aprovado, a Ceturb teria instrumentos tecnológicos para expandir o sistema de transporte para outras regiões, como já tem sido feito em Fundão, através da integração temporal pelo bilhete eletrônico. Atualmente, por exemplo, uma pessoa pode se deslocar de Vila Velha a Cariacica em mais de um ônibus e passando pelo aquaviário, pagando uma única passagem de R$ 4,50. Ele também afirmou que o Transcol poderia funcionar paralelamente ao trabalho de outra empresa no município que realize o serviço.

“A Ceturb está lá para atender o Estado, tendo em vista que não trabalha apenas com o Transcol – nós vamos administrar a Rodosol com o final do contrato da rodovia. Todos os esforços da Companhia serão feitos, uma vez que vocês consigam o objetivo de integrar à Região Metropolitana, quer seja agora ou no futuro. Mas a gente torce para que isso aconteça e se coloca à disposição”, discursou.

Representante do Sindicato dos Servidores Municipais de Aracruz (Sisma), Júlio Cezar Florentino Perini também defendeu a inclusão de Aracruz na Região Metropolitana como solução para os problemas crônicos no transporte público no município. Segundo ele, o Governo do Estado deverá repassar R$ 238 milhões em 2024 para subsidiar o transporte coletivo na Grande Vitória.

“É um bolo que hoje Aracruz não pode comer nem um pedaço, porque o Governo do Estado não pode repassar recursos para o município. Durante a pandemia, o Estado fez doação de combustível para os ônibus rodarem de graça na Grande Vitória”, queixou-se o sindicalista, ressaltando que houve reuniões em outras legislaturas para pleitear recursos estaduais, mas não foi possível dar andamento, pelo fato de a cidade do norte capixaba não integrar a Região Metropolitana.

Júlio Cezar argumentou que os sistemas estadual e municipal de transporte podem coexistir, lembrando da integração das linhas municipais de Vitória no Transcol. Ele lembrou também que cerca de 16 linhas de ônibus do Transcol já tem ponto final em Aracruz, na região de Rio Preto, e poderiam fazer um trajeto maior dentro do município.

Marcos Bruno com os vereadores Roberto Rangel (Podemos), Rhayrane Pedroni (PCdoB), Vilson Jaguareté (PT), Alexandre Manhães (Republicanos) e Jean Pedrini (Cidadania). Foto: Divulgação

Amariles Batista de Aguilar, da Associação das Pessoas com Deficiência de Aracruz, defendeu a possibilidade de integração com o Transcol como forma de acessar o serviço Mão na Roda, que conta com veículos adaptados às necessidades das pessoas com deficiência. “Hoje, as pessoas precisam ficar me carregando para eu conseguir entrar. Os profissionais são muito gentis, mas meu corpo só deve tocar quem eu desejar”, reclamou.

Representando a deputada Iriny Lopes (PT), autora do projeto apresentado na Assembleia, o advogado Carlos Saar afirmou que o projeto para inclusão de Aracruz partiu de diálogos de cerca de cinco anos com as comunidades e o Governo do Estado para tentar resolver o gargalo no transporte. Saar destacou que o projeto também prevê a criação do Fundo Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória (Fumdevit), e poderia beneficiar o desenvolvimento do município em várias áreas.

“A nossa proposta não interfere em nada na autonomia do município de Aracruz. Pelo contrário, é um instrumento de desenvolvimento econômico e social da cidade, permitindo que Aracruz participe de uma série de políticas públicas que hoje se restringem aos municípios que integram a região metropolitana”, defendeu.

Também discursaram a favor da proposta os vereadores Vilson Jaguareté (PT), Rhayrane Pedroni (PCdoB), Elizeu Costa (sem partido) e Roberto Rangel (Podemos).

“Não estamos falando só de o Transcol vir ou não. Estamos falando de investimento do Estado para o nosso município. Estão dizendo por aí que Aracruz vai perder, porque as pessoas iriam consumir em outros municípios. Mas o que aconteceu em Guarapari e Fundão é o contrário”, destacou Jaguareté, autor do requerimento para a realização da audiência. 

 Reunião com Casagrande

Durante a audiência, o líder do governo na Câmara, vereador Andrézinho Carlesso (PP), informou que o prefeito de Aracruz, Doutor Coutinho (Cidadania), se reunirá em breve com o governador Renato Casagrande (PSB) para tratar da proposta. Entretanto, preferiu não se posicionar claramente sobre o tema, apesar de sinalizar simpatia da prefeitura ao pleito.

Carlesso informou também que a prefeitura contratou um profissional da Ceturb para analisar o sistema de transporte coletivo de Aracruz, que, em tese, é deficitário. Nesse processo, será estudada, ainda, a viabilidade de construção de um terminal de transbordo de ônibus em Barra do Sahí – pauta antiga no município – e a inclusão da cidade no Sistema Transcol.

PMA

Já o secretário municipal de Transportes e Serviços Urbanos, Almir Vianna, foi mais claro ao se posicionar favoravelmente à inclusão de Aracruz na Grande Vitória. Ele também defendeu que a gestão municipal “fez o dever de casa” na fiscalização das empresas, lembrando da aprovação do projeto que garantiu subsídio de R$ 2,76 milhões na passagem de ônibus e da decretação da caducidade do contrato – ou seja, a extinção – com a empresa Expresso Aracruz, que operava em parte das linhas.

“A Grande Vitória é onde vive 50% da população do Espírito Santo. Por que somente 50% da população é beneficiada com o subsídio do transporte público? Todos os outros municípios fora da Região Metropolitana estão aos farrapos, na lona”, questionou o secretário, que completou: “Antes da pandemia, nós tínhamos cerca de 330 mil passageiros que utilizavam o transporte público. Após a pandemia, nós temos apenas 170 mil. Estudos apontam que não adianta apenas ofertar, porque não vai chegar mais no antigo patamar”.

Críticas 

O vereador Jean Pedrini (Cidadania) foi um dos únicos que mostrou maior preocupação com a mudança. Ele ressaltou que questões como o orçamento plurianual do Estado são discutidas com os demais municípios da região a que pertence, e a cidade do norte capixaba poderia passar a disputar recursos com cidades maiores.

Pedrini mencionou, ainda, a possibilidade de, uma vez na Região Metropolitana, cessar a remessa de recursos da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e do Consórcio Público da Região Polinorte (CIM Polinorte).

Reprodução

O vereador defendeu, também, que Aracruz deveria ter seu transporte coletivo subsidiado independentemente de ser um município metropolitano, o que lhe garantiria R$ 13 milhões já no ano que vem, se isso fosse aplicado. “O erro está em Aracruz não receber igualitariamente as políticas públicas da Grande Vitória, e não em a gente ter que ir para a Grande Vitória para ter acesso a essas políticas”, criticou.

Moradora de Aracruz, Sueli dos Reis fez uma intervenção reclamando da qualidade do transporte em Aracruz, inclusive com dificuldade para a população chegar à audiência, e também pontuou que a solução para os problemas deveria ser mais abrangente. “Sou a favor da vinda do Transcol, mas não é a solução de ouro do transporte”, opinou.

Com relação ao acesso aos recursos da Sudene e do CIM Polinorte, o representante da deputada Iriny Lopes na audiência esclareceu que não há impedimentos para Aracruz receber, mesmo fazendo parte da Região Metropolitana – como acontece na Bahia. Além disso, destacou que o volume de recursos para a Grande Vitória é bastante superior ao de outras regiões. “Aracruz só tem a ganhar”, reiterou.

Projeto

Aracruz está na microrregião do Rio Doce, junto com Ibiraçu, João Neiva, Linhares, Rio Bananal e Sooretama. Na Região Metropolitana, passaria a fazer parte do grupo que tem Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Fundão, Guarapari e Viana.

A proposta surgiu como uma forma de solucionar os problemas crônicos do município com transporte coletivo. Uma das insatisfações atuais é com o preço alto das passagens de ônibus, que chega a custar R$ 15,75 em um dos itinerários, da Sede a Rio Preto – apesar de a empresa concessionária receber subsídio de R$ 2,76 milhões da Prefeitura de Aracruz. Também há críticas motivadas por mudanças de horários dos itinerários, não retorno de linhas suspensas durante a pandemia de Covid-19 e atendimento ineficaz a algumas áreas do município.

Protocolado na Assembleia Legislativa em setembro, o projeto de lei da deputada Iriny Lopes está na fase de elaboração do parecer técnico da Procuradoria Geral. 

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