Ivo Lopes, Iona Açucena e Manu Kisse, os três universitários com projetos para mudar a estrutura política do país
Eles sabem como será difícil, mas estão dispostos a encarar os desafios e lançam a primeira chapa coletiva para concorrer à Câmara Federal nas eleições deste ano. São três jovens, filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT), alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), militantes do Movimento Kizomba e Enegrecer, articulados com a política com o foco na luta de classes como elemento transformador da sociedade, e condenam a coalizão com partidos de direita.
Manu Kisse, 22 anos, estudante de Ciências Sociais, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (Une) no Estado; lona Açucena, 22, aluna de Enfermagem, vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde de Cariacica, militante do Movimento Negro Unificado (MNU); e Ivo Lopes, 27, estudante de Direito e secretário estadual da Juventude do PT, conversaram com Século Diário e, como diz Manu, enfática, “chegou a hora da gente revidar”, para explicar que a candidatura nasceu do entendimento de que “já estamos há muito tempo resistindo”, uma referência à juventude e aos movimentos negro de mulheres, núcleo da militância do grupo.
“Chegou a hora da gente ocupar os espaços políticos e construímos uma candidatura que não se sustente em uma única figura, ressaltam, para explicar o porquê ainda não definiram o CNPJ que vai puxar a candidatura”, exigido pelas normas da Justiça Eleitoral. Essas conversas estão em andamento e serão levadas à discussão do partido, que, em julho, consolidará o nome a ser usado na eleição.
Como irá se consolidar essa candidatura, com três nomes, para atender às regras eleitorais?
Manu: A candidatura puxa muito a partir do entendimento de que estamos há muito tempo resistindo, a juventude, o movimento negro, de mulheres. Somos três figuras, jovens, negros, e que temos os mesmos envolvimentos políticos, e a gente acha que está na hora de ocuparmos esse espaço de representação política. Então o entendimento é que a nossa candidatura seja uma expressão coletiva, plural, com as nossas trajetórias políticas e, também, com as ações dos movimentos sociais e do Partido dos Trabalhadores, traduzindo a coletividade que nós construímos.
Ivo: Eu queria destacar que não tem um nome que vai ser deputado, são três deputados disputando dentro dessa coletiva. Portanto, quando as pessoas perguntam a questão do nome, do CNPJ, na questão da urna, é para cumprir a burocracia da legislação. Internamente iremos atuar em conjunto. Nessa linha partidária, o PT está na condução dessa chapa, e fechando uma federação, muito bem encaminhada, com o PCdoB e PV, e nós estamos na construção interna com o partido para nos colocar dentro da federação. É uma nova estrutura política, de jovens, pretos de periferia, que se colocam nesse processo, tanto em disputas internas do partido quanto para a sociedade.
E como está esse encaminhamento no PT?
Ivo: Existe um processo em construção dentro do partido. Eu, por exemplo, hoje, estou como secretario de Juventude do PT, e isso nos coloca dentro do espaço. Não é uma coisa que surgiu apenas no momento eleitoral. Uma coisa que a gente coloca, é que somos a única candidatura jovem para deputado federal dentro do PT.
Iona Açucena explica que a candidatura coletiva surge a partir das duas últimas eleições, sobretudo nos partidos de esquerda, abrindo caminho para mudanças na legislação: “Não mais essa representação de uma única figura”, diz. Para reforçar seu argumento, lembra que em dezembro de 2021, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu canais para candidaturas desse tipo. Trata-se da possibilidade de os partidos políticos disputarem as eleições como uma federação, como se fossem uma só legenda. “Não só nós três como candidatos, para que todos os movimentos sociais de onde a gente se origina tenham voz e representatividade, de base mesmo”.
Sobre as bandeiras de luta, os três afirmam que a campanha será a partir do questionamento “dessa institucionalidade vigente”, que só pensa no programa político e, muitas vezes, no partido. “O que nós queremos, destaca Iona Açucena, é que as pessoas olhem para gente e vejam a expressão coletiva de um programa que se dá também de forma coletiva. Temos diretrizes que vão organizar nosso projeto político e isso é fundamental, porque nós queremos um poder compartilhado”.
Ioana cita a luta feminista, antirracista, contra o extermínio da juventude negra, e por um novo modelo de segurança pública. Além disso, destaca a “a luta contra a lgbtfobia, contra a precarização do ensino público e a luta dos trabalhadores; queremos revogar a reforma da Previdência; e também a Trabalhista. “Vamos lutar por isso na Câmara dos Deputados”, afirma, condenando ainda mecanismos que barram investimentos na educação, na saúde. “Queremos um SUS robusto, que atenda a todas as camadas da sociedade”.
No campo político-eleitoral, como vocês se posicionam? Nesta semana foi consolidado o nome de Geraldo Alckmin como vice de Lula e aqui no Estado a candidatura do senador Fabiano Contarato está indefinida. Qual a posição de vocês?
Ivo: O principal objetivo atual é derrotar o bolsonarismo e reconstruir o Brasil, e nossa candidatura alinhada ao PT, que é o nosso partido político. É preciso dizer essa candidatura coletiva, de jovens, tem um programa e uma visão de mundo que vai contra algumas posturas de direita. Acreditamos que o caminho para uma construção democrática, popular e de massa, são com os partidos de esquerda.
Manu: Queremos um vice de esquerda, porque entendemos que a sustentação ao governo de Lula será dada pela reconstrução radical do nosso país. Não aceitamos em Alckmin como vice, essa é a nossa posição, mas é preciso destacar que essa discussão anda nem começou.
Sobre o cenário estadual, apontam que o Espírito Santo vivencia há 20 anos os objetivos de setores empresariais e defendem a candidatura de Contarato, para eles um projeto alternativo, desenvolvido junto com os movimentos sociais. “Contarato já vem colocando um novo rumo político”, asseguram, e defendem um processo aberto de luta de classes, contrário à coalizão com setores do campo da direita.