No Espírito Santo, movimentos sociais e partidos apontam sete nomes, como Ane Halama e Rafaella Machado
O projeto #VoteLGBT, que mapeia pré-candidaturas LGBTQIA+ a cargos políticos no Brasil, identificou até agora 218 nomes para o pleito de 2022, sendo dois do Espírito Santo. Em contato com movimentos sociais capixabas e representantes de partidos, porém, pelo menos sete pré-candidatos já são apontados para as eleições deste ano.
O mapeamento é realizado pela organização #Vote LGBT, em parceria com a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) e a organização Victory Institute.
No Espírito Santo, o levantamento aponta o nome de Ane Halama, mulher lésbica e pré-candidata a deputada federal pelo Psol. Também concorre este ano a ativista Emanuelle Kisse, atuante no movimento estudantil e pré-candidata a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em uma candidatura coletiva com Ilona Açucena e Ivo Lopes.
Além dos nomes citados no levantamento, o Espírito Santo conta com duas candidaturas LGBTQIA+ pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Barbarah Vianna Brasil, da Serra, e Samara da Silva Abreu, de Marataízes (sul do Estado), ambas mulheres trans, são pré-candidatas a deputadas estaduais.
Pelo Psol, o Estado ainda conta com a professora Rafaella Machado, de Vitória, que é bissexual e pré-candidata a deputada federal. Em 2021, a educadora foi alvo de ataques do vereador bolsonarista GIlvan da Federal (PL), após apresentar conteúdo com a temática LGBTQIA+ em sala de aula. O caso teve repercussão e motivou um ato em favor da professora.
Um outro levantamento, do Programa Voto com Orgulho, apresenta Ozeias Denk como pré-candidato a deputado estadual pelo Espírito Santo. Ozeias é bissexual e filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Para o governo estadual, ainda se aguarda a confirmação da candidatura de Fabiano Contarato (PT), homossexual e defensor constante da pauta LGBTQIA+ no Congresso Nacional.
A pré-candidata Ane Halama (Psol) acredita que essa será uma das eleições mais difíceis dos últimos anos e será necessário romper a bolha. “Nós precisamos de representantes que sintam na pele o que é ser LGBTQIA+ no País que mais mata pessoas trans e travestis no mundo (…) Para que a gente possa colorir o Congresso, para o Brasil voltar a sorrir, para os brasileiros voltarem a acreditar que é possível uma sociedade mais justa e igualitária”, declara.
Rafaella Machado ressalta como um dos principais desafios a perseguição por parte de determinadas figuras reacionárias, bem como o preconceito da sociedade que associa a população LGBTQIA+ a espaços específicos, excluindo do campo político.
“Medo de agressões mil que podem ocorrer durante a campanha por ser LGBTQIA+, no presencial e no remoto, com ataques que podem me ferir física e psicologicamente (…) O crescimento da onda conservadora é um obstáculo para conseguir mais votos de um modo geral, além da dificuldade de convencimento de parte da população LGBTQIA+ sobre a importância de se ocupar os espaços políticos”, destaca a pré-candidata.
Para Deborah Sabará, coordenadora de ações e projetos do Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Associação Gold), a representatividade é importante, porém, mais do que isso, é preciso eleger pessoas que realmente sejam comprometidas com as pautas LGBTQIA+.
“Eu defendo a representatividade, mas é preciso entender que muitas pessoas LGBTQIA+ não estão antenadas com as pautas dos movimentos sociais, não têm compromisso com as pautas (…) Foram eleitas muitas pessoas para cargos políticos que não debateram as questões LGBTQIA+ de forma nenhuma em seus municípios (…) Não é só ser LGBTQIA+, tem que ser compromissado com a pauta”, enfatiza.
Resultados positivos em 2018 e 2020
A tentativa de projetos como o VoteLGBT é repetir os resultados positivos das últimas duas eleições. Em 2018, na disputa pelos cargos federais e estaduais, 160 membros LGBTQIA+ foram eleitos, de acordo com dados da Aliança Nacional LGBTI, que averiguou um crescimento de 386% em relação ao pleito anterior.
Já nas eleições municipais em 2020, 90 pessoas LGBTQIA+ foram eleitas em 17 estados e 72 cidades. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o número de pessoas trans eleitas a cargos públicos quadruplicou em relação às eleições de 2016.
“Os resultados de 2020 vão desenhando uma narrativa de resistência de grupos considerados minorias, mas que unidos demonstram sua força. Um exemplo claro são as candidaturas coletivas eleitas em vários estados do país. O cenário criado por essas eleições é bastante animador no que diz respeito à consolidação de novos imaginários sobre quais corpos podem ocupar a política institucional, sobretudo no campo progressista. As campanhas mais bem sucedidas de candidaturas LGBT+ mostraram que as propostas abrangem temáticas para além das nossas bandeiras históricas, propondo inovações nos mais diversos campos da administração pública”, diz a campanha VoteLGBT