O jornalista Luis Nassif publicou no jornal GGN uma longa reportagem sobre o nome que nacionalmente tem sido apontado como o possível vice da chapa de Luciano Huck: o governado do Estado Paulo Hartung (PMDB). Com o título “Xadrez de Paulo Hartung, o fiscalista que a Globo inventou”, a reportagem faz um dossiê dos três mandatos do peemedebista e pode desmontar a imagem positiva que Hartung vem oferecendo à mídia nacional.
Para o jornalista, a chapa corre risco ao unir a visibilidade promovida pela TV com o candidato a presidente em dobradinha com a “suposta modernidade do governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, que há tempos vem sendo cevado pela Globo como exemplo de gestor moderno”, afirmou.
Hartung vem conversando com diversas lideranças políticas e sendo convidado a mudar de partido e para compor chapa presidencial, justamente por causa da projeção de sua imagem a partir do marketing de construção nacional de grande gestor. Se a reportagem vai abalar essa imagem construída do governador em nível nacional não se sabe, mas no Estado a publicação ganhou grande repercussão, sendo compartilhada nas redes sociais por críticos e admiradores de Hartung.
Politicamente o “dossiê Paulo Hartung”, levantado por Nassif em seu blog, coloca um contraponto ao trabalho de divulgação do governador como modelo de gestão na mídia nacional. Foi esse projeto de marketing que credenciou o governador do Estado a se inserir no debate presidencial, colocando-se como um nome de equilíbrio para fortalecer uma chapa que desvie dos extremismos que o próprio Hartung chama de esquerda ultrapassada e políticas obscuras.
Em sete capítulos, com direito a uma conclusão, o blog faz uma análise do governo e do acúmulo de ações controversas desde 2003. No primeiro capítulo, o jornalista critica a política da busca incessante pelo dinheiro em caixa. Este ano, o governo vem apontando como grande êxito de sua política de austeridade o superávit de R$ 1,2 bilhão.
“No setor público, o resultado final são os indicadores sociais. Mas o bate-bumbo tem sido apenas em cima dos resultados financeiros. E eles podem ser extremamente enganadores, especialmente devido à dificuldade de analisar estruturas complexas quanto a de um país, um Estado ou mesmo de ume metrópole e da falta de estudos sobre a consistência dos indicadores”, diz a reportagem.
No segundo capítulo, Nassif aponta uma movimentação parecida com a depreciação do projeto anterior e a apresentação de projetos experimentais de baixo alcance. Uma descrição parecida com o que aconteceu no processo eleitoral, quando a campanha de Hartung foi voltada para mostrar que Renato Casagrande havia “quebrado” o Estado e sobre o programa Escola Viva em substituição a um programa de educação.
O terceiro ponto analisado no dossiê foi a ação de marketing do governador a partir do ano passado com palestras que impressionaram o mercado visando consolidar o modelo de gestão, além da defesa dos incentivos fiscais para a atração de investimentos.
O caos instalado em fevereiro passado, com o movimento dos familiares da Polícia Militar, é abordado no quarto capítulo. Nassif aponta como um dos reveses da política de austeridade, que impôs um arrocho ao funcionalismo público estadual.
Os incentivos voltam mais pormenorizados no quinto capítulo. “Entre 2003 e 2010, o Invest-ES resultou em 209 acordos, representando uma isenção fiscal de R$ 19,8 bilhões”, mostra o blog, com base em um levantamento do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos).
No capitulo 6, o jornalista mostra os projetos que ficaram parados no Estado, com o desperdício estadual, e no sétimo, o jornalista aponta os casos levantados no processo eleitoral, como a empresa da qual ele era sócio, e que recebeu quase R$ 6 milhões em três anos, de empresas que tiveram alguma forma de benefício do Estado e da mansão secreta do governador. Ambos os casos levantados pela reportagem de Século Diário à época.
No sétimo e último capítulo, Nassif traz os “casos suspeitos” da Era Hartung. O jornalista dá destaque à empresa de consultoria Éconos, da qual Hartung foi sócio ao lado de seu ex-secretário da Fazenda José Teófilo. Como à ocasião reportou Século Diário, Nassif registra que a empresa recebeu R$ 6 milhões em menos de três anos, em contratos com empresas que operavam com o governo do Estado.
A reportagem ainda recorda de outra passagem nebulosa da segunda gestão de Hartung: a venda de terrenos em Presidente Kennedy. Segundo a reportagem, os terrenos foram adquiridos pela Agropecuária Limão ME. Revendidos para a BK Investimentos e Participações Ltda e para a ZMM Empreendimentos e Participações Ltda que, por sua vez, revenderam para a Ferrous Resources do Brasil, empresa premiada pelo Invest-ES .
O jornalista destaca um trecho do inquérito que apura as transações imobiliárias em Kennedy. “No Cartório de Registro Geral de Imóveis de Presidente Kennedy, em 09 de julho de 2008, uma área de 61,9 alqueires foi avaliada por R$ 180 mil, no dia 16 de julho de 2008, a área foi comprada pela empresa paulista Tríade Importação por R$ 600 mil, no dia 25 de julho de 2008 a mesma área foi comprada pela ZMM por R$ 12 milhões, no dia 04 de agosto de 2008, quatro dias depois do protocolo de intensões selado em Palácio, a ZMM vendeu a área para a Ferrous por R$ 27,9 milhões. O terreno teve uma valorização de 150 vezes do seu valor inicial em apenas 25 dias”.
Na conclusão da extensa reportagem, Nassif alerta sobre a manipulação de informação em pleno século 21. “Paulo Hartung é um desses casos que atestam a baixa capacidade dos grupos de mídia de fazer circular informações relevantes sobre personagens públicos. No Espírito Santo, aparelhou Judiciário, Tribunal de Contas, Ministério Público com homens de sua confiança. Para fora, ganhou salvo-conduto com seu marketing de gestor modernos”.