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‘Magno Malta não tem histórico de luta pelo povo negro’

Aprovação da Comenda Zumbi dos Palmares para senador eleito gerou revolta do Conegro e discussão na Câmara da Serra

O Conselho Municipal do Negro da Serra (Conegro) manifesta revolta com a aprovação do Projeto Decreto Legislativo 3/2022 pela Câmara de Vereadores. De autoria da Mesa Diretora, a iniciativa concede a Comenda Zumbi dos Palmares para o senador eleito Magno Malta (PL). A homenagem foi aprovada na sessão dessa quarta-feira (7), com 11 votos favoráveis, cinco contrários e quatro abstenções. “Magno Malta não tem histórico de luta pelo povo negro, não tem representatividade”, diz Gilmar Carlos da Silva, do Movimento Negro Unificado (MNU) no Conegro.

Foram favoráveis à entrega da Comenda para Magno Malta os vereadores Adriano Galinhão (PSB), William Miranda (PL), Ericson Duarte (Rede), Gilmar Dadalto (PSDB), Igor Elson (PL), Jefinho do Balneário (PL), Pablo Muribeca (Patriota), Professor Artur Costa (Solidariedade), Teilton Valim (PP), Saulinho da Academia (Patriota) e Wellington Alemão (PSC). Os contrários foram Anderson Muniz (Pode), Elcimara Loureiro (PP), Fred (PSDB), professor Alex Bulhões (PMN) e Professor Rurdiney (Solidariedade). Cleber Serrinha (PDT), Paulinho do Churrasquinho (PDT), Rodrigo Caçulo (Republicanos) e Sérgio Peixoto (PROS) se abstiveram.

Gilmar afirma que o Movimento Negro vai se organizar para fazer mobilizações e impedir a entrega da Comenda ao senador eleito. O conselheiro destaca que Magno Malta, em sua atuação no legislativo, nunca defendeu as políticas para a população negra, como também se empenhou para o retrocesso das que já existem, sendo contrário às cotas raciais nas universidades públicas. “É um desrespeito da Câmara da Serra, uma cidade com 60% da população negra. A Comenda não é para qualquer um”, critica.
A concessão da honraria gerou debate entre os vereadores. Anderson Muniz chamou a iniciativa de “escárnio” com a memória de Zumbi dos Palmares, Eliziário Rangel e Chico Prego, estes dois últimos, símbolos da resistência negra no Espírito Santo e principalmente no município, onde protagonizaram a Revolta de Queimados. “Estamos falando do senador, que não estava senador, mas do político que defendeu cloroquina, do político que propagou fake news, que disse que o ministro Barroso bate em mulher e hoje é réu no Supremo Tribunal Federal [STF], que faz parte de grupos que o tempo todo rechaçam as minorias, ligados a grupos racistas”, disse.
Elcimara também se pronunciou contrária, apontando que o senador eleito “nunca fez política em favor da igualdade racial, muito pelo contrário”. Disse ainda que Magno Malta é “negacionista, não conversa com a minorias e apoiou Camargo, que nega toda a história de luta da população negra e das políticas afirmativas”, referindo-se a Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, que se envolveu em diversas polêmicas ao desconstruir os objetivos da Fundação de promover e preservar os valores culturais, históricos, sociais e econômicos da influência negra na formação da sociedade brasileira.
A vereadora também destacou que conversou com o Conegro, que ficou “abismado” com a possibilidade da entrega da Comenda para Magno Malta e defendeu que a Casa de Leis tem que “dialogar com os segmentos, com quem representa a luta, com os movimentos sociais”. 
Os vereadores favoráveis também se pronunciaram.  Igor Elson defendeu que Magno Malta foi eleito pela população e teceu críticas descontextualizadas e sem aprofundamento contra o senador Fabiano Contarato (PT). “O que parece é que quem nos representa é Contarato, um estelionato eleitoral, um absurdo dos absurdos nesse país”, disse. Defendeu ainda que “possamos pensar e entender o que realmente é minoria, o que é direito e dever”, mas não apresentou o que entende por minoria, direito e dever.
Para Professor Artur, Magno Malta merece receber a Comenda por ter “liderado a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico”. Disse ainda que ele “liderou a luta pelos royalties do petróleo para o Espírito Santo”, “lutou contra a pedofilia” e “ganhou nas urnas”. O argumento da vitória nas últimas eleições também foi utilizado por Gilmar Dadalto, que disse que as críticas feitas pelos colegas à entrega da Comenda dão a impressão de que estão dizendo que “o povo não sabe votar”. 
O vereador também teceu críticas ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo que o tema que estava sendo debatido na sessão não tivesse ligação nenhuma com a atuação política do futuro presidente. 

William Miranda afirmou que quem é contra está “levando tudo para o lado político”. Assim como Gilmar, fez menção a Lula chamando-o de “ladrão” e dizendo que muitos ali votaram nele. O vereador também atacou a memória de Zumbi dos Palmares, dizendo que ele “perseguia escravos e sequestrava mulheres”, além de dizer que o líder quilombola “nem é digno de ter o Magno Malta para isso”.

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