Profissionais capixabas classificam afirmações como mentirosas e prometem entrar na Justiça, para que ele apresente provas
Declarações do candidato bolsonarista ao governo, Carlos Manato (PL), no debate com o governador Renato Casagrande (PSB), transmitido pela TV Gazeta, nas quais aponta como “farsas” a pandemia e muitas mortes registradas como Covid-19, mereceram repúdio de um grupo de médicos. Nesta sexta-feira (28), eles divulgaram um abaixo-assinado e pretendem acionar a Justiça, “para que o candidato prove as acusações que fez sobre a classe médica”.
“A pandemia não foi uma farsa, como dito pelo senhor Manato, em desrespeito às famílias em luto e aos que ainda guardam sequelas da doença”, contesta o documento.
Nas redes sociais, o coordenador do Centro de Operações Especiais para a Covid no Espírito Santo, Luiz Carlos Reblin, classificou como mentira a afirmação de Manato, que segue a linha do presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado, de tentar minimizar a pandemia, adotando posição contrária às normas estabelecidas por instituições médico-sanitárias, resultando no aumento das mortes por Covid no Brasil.
Em vídeo postado logo depois do debate, Reblin é enfático: “Acabei de assistir ao debate dos candidatos ao governo do Estado e não posso deixar para manhã o que eu preciso dizer a vocês”, destaca, para então contestar a afirmação de Manato.
“Um candidato dirigiu ofensas importantes a todas as equipes de saúde aqui do Espírito Santo; equipes da secretaria estadual e também dos municípios; equipes dos hospitais filantrópicos, privados, do Instituto Médico Legal, do Serviço de Verificação de Óbitos, dizendo que nós construímos uma farsa, alegando que óbitos que ocorreram por outras causas foram inadequadamente classificados como Covid”.
O coordenador reitera que “isso é uma mentira” e aponta que “as equipes são muito bem treinadas, capacitadas para fazer a diferença entre os óbitos que ocorreram por Covid e por outras causas. Seguiram, e seguimos sempre, a regra da Organização Mundial da Saúde [OMS] e também do próprio Ministério da Saúde”, reforça, e conclui com um pedido de votos para a reeleição de Casagrande.
Protesto
No abaixo-assinado, depois de manifestarem repúdio à afirmação de Manato, os médicos destacam que a maioria deles esteve à frente ou lidou com casos na luta para salvar vidas durante a pandemia de Covid 19. “Perdemos parentes, amigos e colegas para a doença, nesse enfrentamento; tivemos ao nosso lado o conhecimento médico que pusemos à disposição dos pacientes, sem nos aventurar ao uso de tratamentos sem comprovação científica”, destacam, em referência ao tratamento precoce defendido por Bolsonaro e seus seguidores por meio do uso da cloroquina, sem comprovação científica.
“A pandemia não foi uma farsa, como dito pelo senhor Manato, em desrespeito às famílias em luto e aos que ainda guardam sequelas da doença”, rebate o texto, e enfatiza: “Fomos acusados, durante o debate de ontem na TV Gazeta, de forma leviana, pelo senhor Manato, de termos falsificado atestados de óbito para aumentar de forma artificial o número de mortes pela Covid 19″.
“Nós, médicos, não falsificamos documentos. Juramos salvar vidas e aliviar a dor e o sofrimento. Nosso pacto é com a vida. A informação médica segura e correta sobre eventos clínicos ou desfechos fatais é absolutamente necessária para as eventuais providências no campo da saúde pública. Essas informações podem e salvam muitas vidas”.