Manifestantes compareceram com o ombro à mostra e saudaram Camila com palavras de ordem
Convocadas pelo Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes), cerca de 30 mulheres realizaram um ato em frente à Câmara de Vitória, nesta quarta-feira (10), em solidariedade à vereadora Camila Valadão (Psol), que teve sua roupa e linguagem censuradas pelo vereador Gilvan da Federal (Patriota). As manifestantes compareceram à Casa de Leis com o ombro à mostra e fizeram uma saudação para Camila com palavras de ordem feministas, conforme relata a professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Lívia Moraes, uma das participantes do protesto.
Quando foi criticada por Gilvan da Federal, a vereadora trajava uma blusa vermelha com um dos braços descoberto, o que foi apontado por ele, no Dia Internacional da Mulher, nessa segunda-feira (8), uma vestimenta informal para a sessão. “Quem quer respeito, se dá o respeito”, emendou. O vereador também criticou Camila por utilizar o gênero neutro todes, que foi alvo de polêmica recentemente na Câmara de Vitória, quando Gilvan rechaçou a utilização dele em escolas públicas municipais por parte de professores. Ele também se insurgiu contra a vereadora por utilizar uma adesivo escrito “Fora, Bolsonaro!”, embora ele estivesse com uma máscara com a imagem do presidente ao lado da bandeira do Brasil. O caso teve repercussão nacional.
“Foi com Camila, mas é também com todas nós. Todas vivemos o machismo estrutural em nosso cotidiano, além de muitas mulheres terem que conviver também com o racismo”, diz Lívia. Para ela, a atitude de Gilvan da Federal é pautada na crença de que o espaço de poder, como a Câmara Municipal, não é para mulheres e negros, cabendo a esses grupos ficarem calados.
Na sessão desta quarta-feira (10), Gilvan da Federal também atacou o ato protagonizado pelas mulheres e disse que elas estavam com “os punhos cerrados, gesto que ele classificou como símbolo do comunismo”. Disse, ainda, que no mundo acadêmico, “dominado pela esquerda imoral”, se leciona sobre nazismo, fascismo, mas não sobre o comunismo, “que matou e torturou mais de 100 milhões de pessoas no mundo”.
O Departamento de Serviço Social e o Programa de Pós-Graduação em Política Social da Ufes divulgaram uma nota sobre o assunto, manifestando “irrestrita solidariedade à vereadora Camila Valadão”. No documento, afirmam que ela foi “alvo de ataques machistas e misóginos”.
“Em um cenário político que vivemos no país, de sérios retrocessos à democracia, e com exacerbação dos traços marcantes do patriarcado, do machismo e racismo, o que ocorreu na casa legislativa da capital do Estado caracteriza um ataque ao processo democrático e, principalmente, a todas as mulheres”, pontuam.
Também destacam que condenam “qualquer ato contra os direitos das mulheres, principalmente em um espaço pouco ocupado, como a política no cenário capixaba, e não comungamos com nenhuma opressão às mulheres, como Camila Valadão, que tem em seu histórico lutas por direitos, liberdade e igualdade”.