Século Diário entrevistou algumas das candidaturas representadas pela juventude da Grande Vitória e interior
Muitas vezes ouvimos que o jovem é o futuro do país, porém, alguns deles estão determinados a provar que a juventude também é o presente e pode fazer a diferença desde já participando da política. Muitos deles se mobilizam politicamente ao longo dos anos e alguns poucos têm coragem e condições de lançar uma candidatura.
Mas de norte a sul do Espírito Santo, há candidatos que querem representar causas e grupos tradicionalmente excluídos dos espaços de poder. “Estou vindo como representatividade de um povo que quase sempre não tem voz. Sou mulher, mãe, corpo preto, jovem, periférica, com 28 anos de idade. Sonhadora de um mundo melhor e menos desigual”, diz Lorrany Rodrigues (PCdoB), que é candidata a vice-prefeita de Baixo Guandu na chapa encabeçada por Eloy Avelino (PDT). “Política é coisa séria. É dela que vem a transformação da nossa cidade”, afirma.
Outro que cresceu acompanhando as movimentações políticas é Miguel Intra, 24 anos, candidato a vereador pelo PT em Vitória. Sua avó foi fundadora do mesmo partido e seu pai, João Batista, o Babá, também participou ativamente de movimentos sociais, tendo sido vereador em Vila Velha pelo PT. A atuação política de Miguel começa ao iniciar sua trajetória como estudante da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), se envolvendo com o movimento estudantil, pelo qual fez parte do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e também foi vice-diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE). “Nós decidimos lançar essa candidatura em 2018, após a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro, com a perspectiva de lançar um novo quadro, jovem, e eu me coloquei à disposição do nosso grupo político”, conta.
O movimento estudantil muitas vezes é um primeiro momento de encontro com a possibilidade de ativismo. Nesse sentido, a ocupação das escolas estaduais contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que estabeleceu o teto de gastos públicos, limitando os investimentos em educação, ajudou a politizar adolescentes.
Millena Ferreira, de 22 anos, candidata a vereadora da Serra pelo PT, é uma delas. Iniciou sua atuação política no final do Ensino Médio, ao participar da ocupação da escola de seu bairro, que durou duas semanas. “Aprendemos muito ali. O senso da coletividade, o dever de cuidar da escola, o debate político que fazíamos todos os dias. Mas o principal foi estar ali defendendo o que é nosso, uma educação de qualidade e para todos. Depois dessa experiência, entendi que se quisermos lutar pelo que é nosso por direito, temos que nos posicionar e ocupar os espaços de poder”. Desde então ela segue militando em defesa da educação, tendo participado de atos e ajudado a fundar o DCE da faculdade em que estuda, a Fabra.
Brenda Lau, 21 anos, candidata ao legislativo municipal pela Rede Sustentabilidade em Vila Velha, também começou a se movimentar dentro da escola, aos 15 anos, tendo sido presidente por dois mandatos do grêmio estudantil do Colégio Estadual do Espírito Santo. Lá liderou os movimentos contra o projeto Escola Viva e participou da ocupação da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), lutando por pautas como combate à PEC dos gastos públicos e pela criação de uma universidade pública estadual.
“Acredito que a vida política é uma construção. Após sair do Ensino Médio e ter aprendido muito sobre a vida política, sobre pautas identitárias e sociais, me entendi como uma cidadã que poderia contribuir ainda mais para as melhorias do Estado, e principalmente minha cidade e bairro”. Pela trajetória, recebeu convite da Rede, partido que integra desde 2019, para ser candidata a vereadora, e decidiu aceitar o desafio.
Entre as campanhas consultadas, são várias as propostas. Millena Ferreira aponta como foco a juventude negra e periférica da Serra, município em que mais morrem jovens negros no Espírito Santo. “O jovem, quando se fala em política, se sente desmotivado, precisamos mudar isso. Os jovens do nosso município precisam entender que só terão políticas públicas voltadas para nós se colocarmos representantes dentro da Câmara Municipal da Serra”, considera.
Moradora da zona rural de Santa Maria de Jetibá, Josi Chagas, que faz curso técnico em Enfermagem, aponta entre suas pautas a luta por uma saúde de qualidade no município e a preocupação para melhorar o acesso e qualidade a escolas nas zonas rurais para crianças, jovens e adultos. Também defende mais apoios e incentivos para os agricultores familiares, além de alternativas de lazer para os jovens do município, incluindo as zonas rurais e periféricas, que têm mais carência de espaços e atividades.
Em Baixo Guandu, no desafio de ocupar o poder executivo, Lorrany aponta que no projeto para sucessão de Neto Barros, do seu partido, a educação é um dos pontos principais, propondo atualizar o plano municipal e a proposta pedagógica da cidade, promover inserção digital de professores e alunos, incentivar conselhos escolares e construir uma biblioteca municipal. A candidatura também propõe a construção de um novo hospital e a ampliação das Unidades de Saúde da Família (USF), apoio ao catadores do município e pavimentação de ruas.
Brenda Lau aponta como eixo principal de sua campanha em Vila Velha a dignidade à vida de mulheres, populações LGBTQI+, negra e indígena. Traz como propostas a criação da Casa da Mulher, para assistência psicológica, jurídica e profissional, a criação do Selo da Diversidade, para empresas que sigam as recomendações do Fórum das Empresas e Direitos LGBQTI+, a criação da Semana da Cultura Canela-Verde e de Jardins Comunitários, regularização de vans como meio de transporte, fiscalização e expansão da Lei do Menor e Jovem Aprendiz, e criação de um sistema único de saúde para atender aos animais domésticos (Pets).
Em Vitória, Miguel Intra aponta como foco de sua candidatura a pauta de emprego e renda, com debate sobre uma renda básica municipal e apoio à economia solidária e criativa, educação desde uma perspectiva transformadora e pensando também no período das crianças fora da escola, a inclusão digital com garantias de computadores acessíveis em espaços e edifícios públicos, a mobilidade urbana sustentável e os direitos humanos, em defesa da luta de mulheres, negros, LGBTQI+ e outros grupos, de forma que haja também um recorte desses grupos em todas as esferas do mandato.
Sobre o espaço das juventudes nas instâncias partidárias, os candidatos ouvidos por Século Diário ou negam dificuldades ou evitam apontar para o próprio partido, já que é período eleitoral. “Infelizmente existem em alguns partidos a falta de acreditar no potencial político da juventude. Um fato que causa desânimo na participação desse grupo. Mas mesmo com todos os obstáculos, devemos seguir de cabeça erguida e não abaixar em nenhum momento e sob nenhuma circunstância”, considera Lorrany.
Miguel Intra acredita que, assim como há obstáculos dentro dos partidos, também há oportunidade, já que as candidaturas jovens conseguem acessar um público com que alguns outros candidatos tradicionais não conseguem dialogar, trazendo também uma outra linguagem, que pode ajudar a aproximar o jovem da política.
Além das pautas das juventudes para a política institucional, muitos dos candidatos jovens também querem construir uma forma de fazer política diferente da tradicional. Miguel Intra diz querer partir do “modo petista de legislar”, construindo um mandato participativo com equidade de gênero e étnico-racial na equipe, e contar com um fórum formado por representantes de movimentos sociais de territórios e temáticas sociais.
Brenda Lau afirma que sua candidatura está sendo construída por um coletivo com cerca de 30 pessoas, com diversidade étnico-racial, de gênero e de orientação sexual, que deve continuar atuando voluntariamente no mandato, ressaltando questões da sociedade civil.
“Precisamos nos organizar melhor nas ruas, nas redes sociais e principalmente nos parlamentos, fazendo valer nosso direito de voz”, diz Lorrany Rodrigues.