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População vai às ruas para exigir debate do Escola Viva

Fotos: Leonardo Sá / Porã

 
Às 8 horas desta quarta-feira (25), às escadarias da Assembleia Legislativa, na Enseada do Suá, Vitória, já estavam tomadas por alunos, pais e professores. As caravanas chegavam de várias escolas da Grande Vitória. Assim que o grupo de pessoas foi ganhando volume, ecoaram as primeiras demandas do protesto: os manifestantes exigiam mais diálogo com o governo em relação ao Projeto de Lei 004/2015, que implanta as escolas em tempo integral na rede estadual de ensino médio – Escola Viva.
 
Com cartazes, apitos e até um carro de som, a comunidade escolar tentou chamar atenção dos deputados e dos populares para a forma anti-democrática com que o governo do Estado vem tratando o tema. Mesmo tendo sido retirada a urgência do projeto Escola Viva, a matéria continua tramitando na Casa e a comunidade escolar teme que seja votado da forma como está. 
 
Enquanto uma parte dos manifestantes seguiu para a galeria da Assembleia, para acompanhar a sessão ordinária, outra fechou o trânsito na Avenida Américo Buaiz, em vários momentos, para chamar a atenção sobre a reivindicação. Alguns motoristas reclamaram da manifestação, que pode não ser isolada, já que os estudantes e professores prometem outros atos públicos, até que o projeto seja modificado. 
 
Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado (Sindiupes), Gean Nunes, a retirada da urgência da matéria foi um avanço, mas não encerra a discussão. Ele acredita que a construção do projeto deve ser feita dentro do Fórum Estadual de Educação, que concentra representantes dos professores, da Associação de Pais, dos estudantes e de outros setores da sociedade, além do governo. 

 
Para Gean Nunes, vários pontos do projeto precisam ser discutidos e o projeto modificado. Ele reiterou uma fala da categoria de que o sindicato não é contra o projeto, mas a forma como ele está sendo proposto pelo governo. 
 
Durante a sessão, o deputado Amaro Neto (PPS) criticou a matéria também. Ele destacou que ainda durante a campanha eleitoral considerava a proposta muito abstrata e que se tratava de um “projeto de marqueteiro”. Cutucou: “Tanto que o marqueteiro foi chamado às pressas para explicar o projeto para o governador”. 
 
“O governo ainda não conseguiu explicar para a população, e  em especial aos estudantes e profissionais da área, o que é o Escola  Viva. A coisa está muito abstrata, precisamos de algo concreto para entender e apreciar melhor esse projeto”, disse Amaro. O deputado finalizou o discurso dizendo que nem o secretário de Educação Haroldo Rocha e nem o governador Paulo Hartung conseguiram explicar de forma objetiva o projeto.
 
Ele lembrou ainda que o secretário Haroldo Rocha, na audiência pública do dia 17, não conseguiu esclarecer as dúvidas. “Ninguém sabe o que é Escola Viva”. O deputado acredita que o governador saiu desgastado em sua principal bandeira de campanha, principalmente pela forma como tentou passar o projeto. “Passou a época de impor as coisas”. 
 
Já a presidente da Comissão de Educação, Luzia Toledo (PMDB), disse que o secretário explicou o projeto sim, mas admitiu que a abertura do debate é importante. A deputada acionou pela manhã o vice-governador César Colnago, o secretário de Educação, Haroldo Correia Rocha e o secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Roberto. 

 
A deputada propõe uma comissão para discutir o projeto composta por representantes de todos os seguimentos para que as emendas possam ser incluídas. A matéria está em análise na Comissão de Cidadania da Assembleia.
 
Depois da sessão, um grupo de deputados se reuniu com os manifestantes. Na reunião estiveram presentes, além de Luzia Toledo, Eliana Dadalto (PTC), Sérgio Majeski (PSDB), José Carlos Nunes (PT), Raquel Lessa (SD), Bruno Lamas (PSB), Marcelo Santos (PMDB), Marcos Bruno (PRTB) e Erick Musso (PP).  O líder do governo, Gildevan Fernandes (PV), chegou depois. 
 
Embora os deputados tenham começado a reunião, os estudantes pediram para falar e lhes foi dado espaço. A primeira aluna a falar foi Rebeca Gomes, da Escola Aristóbulo Barbosa Leão, de Laranjeiras, na Serra, uma das escolas que pode receber o projeto. Ela afirmou que a escola sofre com a violência do entorno e disse que o projeto deixa muitas dúvidas, que os estudantes querem esclarecer com o secretário de Educação e com o próprio governador Paulo Hartung (PMDB).
 
A aluna Sara Lelis, da escola Maria Ortiz, no Centro de Vitória, falou da falta de espaço para educação física e se queixou do sistema de fichas para os alunos que querem a merenda escolar em vez de fazer fila. 
 
Lucas Ebenezer, do Colégio Estadual, lembrou que a realidade do Estado é diferente de outras unidades da federação e que a realidade capixaba deve ser discutida aqui e com os alunos que a vivem. Também destacou a falta de sensibilidade do governo aos alunos que trabalham. 
 
A aluna Izadora Loureiro, da escola Geraldo Costa Alves, em Boa Vista, Vila Velha, disse que a discussão é uma falta de respeito com os estudantes, já que além de não considerar os problemas de estrutura de cada escol, também nao considera a situação dos estudantes. “Eu moro com minha mãe e tenho de trabalhar para ajudar na complementação da renda. Muitos têm que cuidar dos irmãos para que os pais possam trabalhar. Tenho certeza que o governo não pensou nisso”, disse.
 
Outra preocupação dos estudantes é com a educação profissionalizante e com a Educação de Jovens e Adultos (EJA). O aluno Vitor Salviato, da escola Francelina Carneiro Setubal, de Coqueiral de Itaparica, em Vila Velha, lembrou que a escola tem 200 estudantes na espera pelo curso de Administração, que é o melhor do município. Ele pediu ainda a eleição direta para diretores de escola. 
 
Sara da Silva, da Escola Almirante Barroso, destacou que sua escola não vai ser afetada diretamente, pois não seria uma das escolhidas para o Escola Viva, mas sofreria indiretamente, com a transferência dos alunos excedentes. Ela afirmou ainda que o seis turmas foram fechadas e as salas estão superlotadas. 

 

O momento mais tenso da reunião aconteceu com a fala do líder do governo, Gildevan Fernandes (PV). Ele tentou defender o projeto, mas foi interpelado pelos alunos. O diretor da Casa do Estudante de João Vitor (foto acima), questionou os cortes na educação efetuados pelo governo. Já a estudante Brenda Castelani, da Escola Geraldo Costa Alves, disse que ele estava defendendo o governador, que era um ditador, sim, por impor o projeto. Ela foi aplaudida. 
 
Nesta quinta-feira (26), o Sindiúpes fará uma manifestação em frente ao Ministério Público Estadual (MPES). O sindicato vai entregar uma lista com as 280 turmas fechadas pelo governo em várias escolas. Outros atos públicos não estão descartados. 

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