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Pré-candidato a vereador de Vitória sofre ataques racistas em reunião virtual

Jocelino Júnior (PT) registrou Boletim de Ocorrência por crimes informáticos e injúria racial

O pré-candidato a vereador de Vitória, Jocelino Júnior (PT), registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Crimes Cibernéticos na manhã desta sexta-feira (4), por crimes informáticos e injúria racial. Nessa quinta-feira (3), hackers invadiram o lançamento virtual de sua pré-campanha, que acontecia pelo Google Meet, chamaram Jocelino de macaco, ameaçaram roubar dados bancários das pessoas que participavam e colocaram uma música muito alta e imagens aleatórias na tela, conforme comunicado oficial de sua pré-candidatura. 

Por causa do ocorrido, a plenária virtual foi interrompida. “O que era para ser uma conversa informal com apoiadores de uma pré-candidatura, acabou se tornando uma live no Instagram”, diz o comunicado. Jocelino relata que antes de ir para o Instagram foi feita uma tentativa de realizar a atividade no Facebook, mas a live foi derrubada pelos hackers. Em suas redes sociais, o pré-candidato afirma que a invasão e as ofensas racistas não irão intimidá-lo.

“Isso não vai nos enfraquecer. Vai nos dar musculatura para seguir em frente na pré-campanha, colocando nosso nome para a cidade de Vitória, que precisa de representatividade na Câmara de Vereadores. Nós vamos fazer uma construção coletiva. É muito entristecedor colocar nosso nome para disputar uma pré-candidatura e sofrer ataques como esse”, diz Jocelino, que questiona se os ataques não se intensificarão.

“Ontem foi virtual. Daqui a pouco vai ser como? Vai ser físico, como aconteceu com Marielle Franco? Que democracia é essa em que a gente vive que não pode apresentar nossas propostas, debater, fazer uma construção coletiva sem sofrer um ataque violento, sorrateiro? Não podemos deixar que o racismo ultrapasse a democracia. O próprio racismo é uma prova de que não vivemos em uma democracia. Nem quando eu reivindiquei intervenção de política pública na Piedade eu fui ameaçado”, ressalta Jocelino.

O pré-candidato, que é professor, ex-conselheiro tutelar, militante do Movimento Negro e mestrando em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), também é um dos fundadores do Grupo Raízes da Piedade, projeto social que atua no Morro da Piedade. Ele afirma que as agressões a sua pré-candidatura não começaram durante o lançamento, já que, afirma, sua trajetória de vida tem sido utilizada para atacá-lo.

“Quando a gente coloca o nosso nome à disposição da cidade, incomoda. Até então o Jocelino tinha uma história bonita, atuação forte para fazer discussão de política pública ao lado das pessoas. Quando um negro jovem resolve colocar que quer estar em espaços de discussão como a Câmara de Vereadores, sua história, sua força, viram oportunismo. Quando você conta sua trajetória, isso é apontado como vitimismo”, declara.

‘Se poder é bom, o povo preto quer poder’

O Movimento Negro Unificado do Espírito Santo (MNU) divulgou nota na manhã desta sexta-feira (4), com o título “Se poder é bom, o povo preto quer poder”, por meio da qual repudia os ataques racistas contra Jocelino. “Racismo é crime, inclusive quando praticado em redes sociais e suas múltiplas possibilidades de ambiente virtual”, aponta.

A nota também destaca o caráter simbólico dos ataques, já que participavam do lançamento “lideranças comunitárias e ativistas do Movimento Negro, sindical e demais movimentos sociais da Capital do Estado, bem como destacadas personalidades do meio acadêmico e político, em que um jovem negro apresentou sua pré-candidatura à Câmara Municipal de Vitória”.

O MNU afirma que a denúncia contra o racismo vivido por Jocelino “se constitui em verdadeira constatação de que o Brasil ainda não deu seu salto civilizatório fundamental do princípio da igualdade de direitos, da democracia, da dignidade humana, da liberdade e felicidade como
direitos invioláveis”. E acrescenta: “urge a descolonização do país e o combate efetivo às práticas racistas que permeiam a sociedade de modo estrutural”. O MNU também reivindica “a identificação e punição dos autores deste crime”.

Ataques a campanhas de esquerda

De acordo com Jocelino, o ataque virtual no lançamento da pré-candidatura começou justamente no momento em que ele falava sobre as agressões vividas pela pré-candidata a governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT). Segundo informações do jornal O Globo, ela prestou queixa de racismo, injúria e difamação na segunda-feira (31) contra Júlio Marcos Saraiva, um morador de Belém, no Pará, que em seu perfil pessoal se referiu à parlamentar como “negra idiota” e “preta ridícula”, entre outras ofensas.
Outros pré-candidatos de esquerda também foram atacados. O jornalista William de Lucca (PT), pré-candidato a vereador de São Paulo, e a deputada federal Renata Souza (Psol), que é pré-candidata a prefeita do Rio de Janeiro, passaram pela mesma situação.

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