Cenário na região teve reviravolta em Cachoeiro e ato de professores em Anchieta
No sul do Espírito Santo, não há possibilidade de segundo turno, e as eleições de 2024 serão resolvidas neste domingo (6) em todas as cidades. Neste ano, algumas campanhas da região foram marcadas por fatos inusitados, polêmicas de praxe entre candidatos, e situações que extrapolaram o processo eleitoral em si.
Cachoeiro de Itapemirim, maior cidade da região, teve, talvez, a maior reviravolta de pré-campanha no Estado. Em fevereiro, Júnior Corrêa (Novo), então especulado como favorito para a eleição majoritária, anunciou que desistiria da política para se tornar padre. Alguns meses depois, o deputado estadual Theodorico Ferraço (PP) confirmou que estaria na disputa, tendo como vice ninguém mais ninguém menos que…Júnior Corrêa.
A chapa tem sido apontada como ampla favorita em pesquisas de intenção de voto, apesar de os adversários sonharem com uma virada de última hora. Com isso, Ferraço, que já foi prefeito do município em quatro oportunidades, poderá ampliar o próprio recorde de mandatos no Executivo cachoeirense, e talvez se torne a pessoa mais velha a ocupar tal cargo no Espírito Santo, com 86 anos.
Favorito e com idade avançada, Ferraço evitou embates diretos com os adversários, inclusive faltando a debates, e foi pouco visto em atividades de corpo a corpo com eleitores. Um contraponto à campanha agressiva da candidata governista Lorena Vasques, atuando sob a batuta de seu mentor, o prefeito Victor Coelho, ambos do Partido Socialista Brasileiro (PSB) – ela teve, inclusive, que conceder um direito de resposta à chapa ferracista.
Victor Coelho teve sua administração classificada como “regular” pela maioria dos entrevistados de uma pesquisa do Ipec, publicada em setembro pela Rede Gazeta. Desde a convenção partidária que referendou a candidatura de Lorena Vasques, o prefeito prometeu um “tanque de guerra eleitoral” contra os adversários. Praticamente todos os dias, ao longo da campanha, há postagens de vídeos em suas páginas nas redes sociais, em que faz críticas aos planos de governo e reage a postagens dos demais concorrentes.
Nessa sexta-feira (4), Victor Coelho relembrou a decisão de Júnior Corrêa de se afastar da política e questionou se “ele estava sendo honesto”, afirmando ainda que Theodorico Ferraço “não tem condições físicas” de administrar e deverá “terceirizar” a gestão para Corrêa. Em outras postagens, com tom jocoso, Coelho chama o candidato Diego Libardi (Republicanos) de “Marçal da Shopee”, “Paulinho Gogó” e “turista”.
As pesquisas de intenção de voto têm indicado Lorena Vasques, apoiada pelo governador Renato Casagrande (PSB), com empate técnico, dentro da margem de erro, em segundo lugar, junto com Libardi e Léo Camargo (PL). Caso se confirme o cenário, Cachoeiro terá rompido um ciclo de 16 anos de partidos progressistas no Executivo municipal, considerando também os dois mandatos do ex-prefeito Carlos Castglione (PT), último colocado nas pesquisas deste ano – apesar de Victor Coelho, que está no segundo mandato, ter posição ideológica mais próxima da centro-direita.
Litoral
Em Anchieta, maior cidade do litoral sul do Estado, um dos fatos marcantes do período de campanha foi o movimento de professores da rede municipal de ensino, que fizeram uma paralisação em 23 de agosto e entraram em estado de greve. Existe uma pauta de reivindicações e o magistério nega intenção eleitoreira, mas é inegável que a situação acabou sendo utilizada por adversários da gestão municipal para desgastá-la.
O atual prefeito, Fabrício Petri (PSB), está no segundo mandato, apoiando na eleição deste ano um ex-secretário da sua administração, Léo Português (PSB). O principal adversário é o ex-prefeito Marquinhos Assad (Podemos). A extrema direita é representada com o candidato Luiz Mattos (PL).
O cenário em Anchieta é incerto. Uma primeira pesquisa de intenção de voto, realizada no início de setembro, indicava Marquinhos Assad com ampla vantagem na liderança. Levantamentos posteriores, questionados pela coligação de Assad na Justiça, colocaram Léo Português na frente, com leve vantagem.
O litoral sul também tem um dos municípios com maior proporção de candidatos por eleitor do Estado. Itapemirim, com 36,7 mil eleitores, tem sete concorrentes na eleição majoritária. O dentista Geninho (PDT) tem sido apontado como o favorito, com o atual prefeito, Dr. Antônio (União), em segundo lugar. Impugnado, Thiago Peçanha (PSB) ainda segue no páreo, mas a maior parte do seu grupo passou a apoiar Dr. Antônio.
Também estão na eleição majoritária de Itapemirim o presidente da Câmara de Vereadores, Paulinho da Graúna (Republicanos); o empresário bolsonarista Vinicius Viana (PL); o vereador João Bechara (PSDB), primo de Geninho; e a artesã Claudinha (Psol).
Ainda no litoral sul, em Presidente Kennedy, o atual prefeito, Dorlei Fontão (PSB), é o favorito na disputa e tem apoio de Casagrande, mas ele está impugnado e concorrerá sub júdice. Ele tem como principal adversário o vice-prefeito, Aluizio Corrêa (União), que também já esteve no comando do Executivo municipal e assumiu candidatura a após a impugnação de outro ex-prefeito, Reginaldo Quinta (PSD). Brunão do Povo (Avante) é mais um candidato em Kennedy.
Caparaó
Em Alegre, maior colégio eleitoral do Caparaó, pesquisas indicam que o atual prefeito, Nirrô (PP), tem cerca de 70% das intenções de voto, uma enorme vantagem para o seu único adversário, Romário Brasil (PSB). Os dois já tinham se enfrentado na eleição de 2020.
Em Guaçuí, município vizinho, o atual prefeito, Jauhar (Podemos), enfrenta os ex-prefeitos Vagner Rodrigues (PP) e Luciano Machado (PSB) e o empresário Carlos Gouvea (PL). Rodrigues foi quem apareceu na liderança, em levantamentos realizados Instituto Incompes – Consultoria e Pesquisa, encomendada pelo Aqui Notícias; e pelo Instituto Veritá, feito a pedido da Rádio Sul Capixaba FM.
Mas o município com uma das campanhas mais agitadas da região do Caparaó é Muniz Freire. Já na pré-campanha, o atual prefeito, Dito Silva, teve que enfrentar uma briga interna com ex-prefeito Dr. Delson para garantir sua candidatura dentro do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Márcia Oliveira (PSD) acabou entrando como vice do adversário Evandro Paulúcio (PDT), usando o nome de urna “Márcia do Dr. Delson”, para destacar que é esposa do médico e ex-chefe do executivo.
Dito Silva, outro que tem o apoio do governador, também pediu a impugnação de Evandro Paulúcio, negado pela Justiça Eleitoral, e acusou o promotor Elion Vargas Teixeira de perseguição política, em um processo de improbidade administrativa. Adversários do prefeito também tem questionado a ausência do vice de sua chapa, Dr. Wanokzor (MDB), em atividades e materiais de campanha.
Pesquisa espontânea do Instituto Perfil, encomendada pelo jornal ES Hoje, no final de agosto, colocava o atual prefeito em primeiro lugar, com 33,75% das intenções de voto, com Evandro Paulúcio em segundo lugar (16%) e a vereadora Vilma Soares Louzada em terceiro (1,5%). Entretanto, quase metade do eleitorado se declarava indeciso na ocasião, tornando o cenário incerto.