Na disputa pela Assembleia Legislativa, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) teve seu melhor resultado da história no Espírito Santo, quase triplicando a votação das eleições 2014. Pela primeira vez, teve uma candidatura entre as 30 mais votadas, com a professora e assistente social Camila Valadão, que obteve 16,8 mil votos. Mesmo assim, passou longe de uma cadeira por conta do quociente eleitoral.
Em coligação apenas com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que não lançou candidatura para deputado estadual, o Psol atingiu 22 mil, o que não dá nem a metade dos votos necessários para conquistar uma vaga.
O resultado de Camila reafirma sua consistência como liderança e candidata, já que há dois anos, ela figurou como a quinta vereadora mais votada de Vitória, mas também ficou de fora por falta de legenda. Seu resultado representa a maior votação do partido para a Assembleia, superando Brice Bragato, que teve mais de 12 mil votos em 2006, quando tentava a reeleição após sair do Partido dos Trabalhadores (PT) para o Psol durante o mandato. Brice, que voltou a concorrer este ano, teve um resultado bastante modesto: 1, 7 mil, mesmo assim, foi a segunda mais votada do partido.
De fato, Camila teve votação próxima às principais lideranças petistas, que contavam com estruturas mais robustas de campanha, como Iriny Lopes (18,3 mil votos), única deputada de esquerda eleita, e Nunes (17,5 mil) e Padre Honório (16,2 mil), que não se reelegeram.
Nas eleições para a Câmara Federal, o resultado do Psol foi pífio, embora esperado. O Psol capixaba pouco contribuiu para a superação da cláusula de barreira, fundamental para o futuro do partido. Os 13, 5 mil votos representam apenas 0,7% dos votos válidos no Espírito Santo. Quem liderou a votação do partido foi a jornalista e sindicalista Bruna Gati, candidata pela primeira vez, que teve mais de 5 mil votos (quase 40% do total). A segunda foi Joelma Lopes, moradora de Linhares e integrante do movimento de mulheres negras, seguida de Zé Anezio, que levantou a bandeira contra o fim do Genocídio da Juventude Negra, e Nico Dias, de Colatina, que atua na luta dos atingidos pelo crime no Rio Doce.
O partido estadual segue a tendência nacional de apostar em novas lideranças, com forte participação de jovens, mulheres feministas e negras, representando uma mudança no perfil das lideranças do partido na época de sua fundação, quando prevaleciam militantes sindicais saídos das fileiras do PT. A bancada federal do Psol, que saltou de 6 para 10 eleitos, explicita essa mudança, com as novas deputadas Talíria Petrone (RJ), Áurea Carolina (MG), Sâmia Bonfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS). Algo similar pode ser observado nas candidaturas eleitas pelo partido em parlamentos estaduais.
Resta saber qual a estratégia do partido no Espírito Santo daqui para frente. Mesmo fora do parlamento, o Psol deve figurar na oposição do novo governador Renato Casagrande (PSB), que depois de uma vitória expressiva, terá que dialogar com a Assembleia com uma esquerda absolutamente isolada e uma bancada militarista forte. Assim, para crescer, só resta ao partido as ruas e o calor das lutas populares, abafadas na Era Hartung. Por sua trajetória num partido socialista, Casagrande tende a ter algum tipo de diálogo com movimentos sociais e, ao menos, maior constrangimento em reprimi-los, embora isso não tenha sido tão notável em seu primeiro governo.
Num momento de tensão e crescimento da extrema-direita reforçada pelo resultado eleitoral, é possível que a conjuntura nacional influencie mais do que a estadual e o Psol deve ser um ator presente e importante num novo ciclo de lutas muito complicado. Para saltar das ruas à institucionalidade no Espírito Santo e conquistar vagas de vereadores em 2020 e deputados em 2022, o partido precisará de formar muito mais lideranças com densidade eleitoral para além do que conseguiu consolidar até agora, que são Camila Valadão e o advogado André Moreira, que teve 1,16% dos votos para governador. Ou pensar em coligações com partidos que tenham alguma força, o que o Psol não parece nada disposto até então. A legenda defende, acima de tudo, a manutenção de sua linha ideológica.