Problemas em prestações de contas e ingerências no PT são apontadas em denúncia ao Ministério Público
Em recurso direcionado à Executiva Estadual do PT em outubro de 2021, filiados do partido em Itapemirim apontam que Mônica Pereira Conceição, secretária de Finanças do diretório municipal e candidata a prefeita em 2020, não realizou a prestação de contas de sua campanha e dos nove candidatos a vereadores do partido. Segundo o documento, apesar de o procedimento ser de responsabilidade de cada candidato, havia sido acordado verbalmente que ela se responsabilizaria pela totalidade das candidaturas petistas.
Com a omissão nas declarações, a Justiça Eleitoral declarou impedimento do PT de Itapemirim em acessar o Fundo Partidário, e os candidatos ficaram proibidos de concorrer novamente e foram multados. A pendência judicial pode impedir ainda que assumam cargos públicos.
Profissionais que trabalharam para a campanha do PT em 2020 também alegam que não receberam a totalidade do pagamento pelos serviços. Em uma das mensagens anexadas ao relatório, o marido de Mônica, Alberto Mello Silva, o Beto, que atuou na arrecadação da campanha, afirmou a um dos contadores que prestaram serviço que estava “buscando novas formas de resolver, pois percebi que se ficar esperando pelo partido, vou ficar na mão.”
Marcelo Gobbi, um dos candidatos a vereador pelo PT em 2020, registrou, porém, um boletim de ocorrência (BO) na Polícia Civil, alegando que “Beto o ameaçou, após cobranças feitas por ele em um grupo de WhatsApp”.
O documento acrescenta que várias pessoas que se filiaram ao PT de Itapemirim não tinham afinidade ideológica com o partido e muitas nem se lembravam da filiação, conforme mensagens trocadas com Marcelo Gobbi. Em alguns casos, Mônica, que é mãe da presidente do PT de Itapemirim, Dhiulia Pereira Torres, é citada como a responsável pela filiação.
O PCdoB também tinha prestações de contas pendentes de outras gestões do partido no município e decidiu recorrer ao PT para se regularizar, apesar da situação do PT em Itapemirim.
Os relatórios com todos os problemas relacionados ao PT de Itapemirim foram encaminhados à Ouvidoria do MPES em julho de 2022 e, em agosto do mesmo ano, o material foi remetido ao juiz da 22ª Zona Eleitoral, para que demandasse apuração da Polícia Federal.
“No início deste ano, os filiados dos três partidos se reuniram e avaliaram que não dava mais para trabalhar na Federação Brasil da Esperança, estávamos em um completo abandono. E o Psol tem hoje os dois melhores mandatos no Espírito Santo, que é a deputada estadual Camila Valadão e o vereador de Vitória André Moreira”, afirma Marcelo Gobbi, que agora é secretário de Finanças do Psol em Itapemirim.
A presidência do Psol de Itapemirim ficou com Claudia Carvalho, que foi candidata a deputada estadual pelo PCdoB em 2022. Também compõem o diretório Tiago Oliveira (secretário-geral), Joice Oliveira (secretária de Movimentos Sociais e Populares), Verônica Desoper (secretária de Formação Política), Lázaro Saluci (secretário de Direitos Humanos) e Jesus Gomes (secretário de Comunicação) – este último, pré-candidato a prefeito pelo Psol em 2024.
Todos eles são ligados ao coletivo União das Esquerdas Sul Capixaba (Uesc), que tem militado em pautas importantes no município, como na recente ameaça de fechamento de escolas rurais e superlotação de salas de aula das unidades de ensino. Ao todo, o Psol em Itapemirim está com 18 filiados, número que tem expectativa de chegar a 50 até o fim do ano.
Cenário eleitoral
Em conversa com Século Diário no início de outubro, a deputada estadual Camila Valadão citou Itapemirim como município importante para a composição dos palanques do Psol em 2024. A deputada afirmou, na ocasião, que o foco é ampliar a representação parlamentar da agremiação no Estado. No município, a política costuma ficar polarizada entre pessoas ligadas a famílias tradicionais que disputam o poder.
Em 2020, a candidatura majoritária do PT – que teve Jesus Gomes como vice – alcançou o terceiro e último lugar, com 604 votos, 2,24% do eleitorado. Para 2024, um dos nomes apontados para a disputa à Prefeitura de Itapemirim é o do secretário de Saúde de Cachoeiro, Alex Wingler. Ele saiu da Rede Sustentabilidade, que tem federação com o Psol, e se filiou ao Podemos, em maio deste ano.
Ainda segue com prestígio o grupo político do ex-prefeito, Doutor Thiago Peçanha (Republicanos), cassado em 2021 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político. O atual ocupante do cargo máximo do Poder Executivo em Itapemirim, Doutor Antônio (PP), poderá disputar a reeleição, apesar de enfrentar desaprovação.