A executiva estadual e o diretório municipal do Psol convocam para manifestação em frente à Câmara de Vitória na próxima segunda-feira (6), às 9h, em apoio à vereadora Camila Valadão (Psol), que na sessão dessa quarta-feira (1) foi agredida pelo vereador Gilvan da Federal (Patri). O protesto contará com a participação de outras entidades, como a Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, CSP Conlutas, Central Única dos Trabalhadores (CUT), e os partidos PCB, PSTU, Unidade Popular e PT. Camila foi chamada de “satanista” e “assassina de crianças e bebês” por Gilvan, que também a mandou calar a boca, aos gritos.
O presidente estadual do Psol, Toni Cabano, informa que a legenda também busca uma reunião com o presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), para averiguar quais medidas estão sendo tomadas em relação ao ocorrido e a agressões anteriores, já que a violência política de gênero na Casa de Leis por parte de Gilvan da Federal tem sido recorrente. Entretanto, ainda não obteve um retorno da presidência.
“O mandato da Camila representa grupos, pessoas, movimentos sociais, mulheres negras, religiões de matriz africana e tantos outros que, ao agredir a Camila, o Gilvan também agride. Lamentamos muito que isso esteja acontecendo. A Câmara é um espaço público, sustentado com dinheiro público, não deveria ser utilizado pelo vereador para agredir a população, deveria ser utilizado para incluir, e não excluir. Ele abusa da autoridade de parlamentar”, ressalta Toni.
No mesmo dia em que a agressão ocorreu, o Diretório do Psol em Cariacica divulgou uma nota de repúdio aos ataques a Camila e aos profissionais da educação que estavam na Câmara, destacando que “as manifestações de ódio, violência política de gênero, racismo, homofobia e ataques aos profissionais da educação são práticas reiteradas deste vereador”. O Diretório classifica a conduta de Gilvan da Federal como “criminosa e inaceitável, devendo ser apurada e punida com rigor pelas instâncias da Câmara e da Justiça”.
A presidente da CUT/ES, Clemilde Cortes, afirma que a central sindical participará da manifestação, porque “já passou da hora de exigir respeito às vereadoras, às mulheres”. “O que é feito contra uma mulher é feito contra todas. É o cúmulo do desrespeito mandar a vereadora calar a boca, elogiar torturador. Ele saiu do esgoto junto com Bolsonaro, trata a mulher como se fosse um ser de segunda classe. Temos que exigir das autoridades um posicionamento. Racismo é crime, homofobia é crime, e tudo isso ele pratica dentro da Câmara”, desabafa.
Durante a sessão em que Camila foi agredida, estavam presentes profissionais da educação e demais servidores do município, que protestavam contra o projeto de organização curricular de 2022 e contra a reforma da Previdência, aprovada em janeiro último.
A vereadora reagiu à agressão dizendo “você não vem me mandar a calar a boca aqui dentro, você não vem me xingar, porque eu não baixo bola para você. Você me respeita, você não me manda calar a boca”. Nesse momento a transmissão foi interrompida. Mas Camila Valadão publicou em suas redes sociais vídeos feitos por pessoas que estavam no local, que a mostram, ao microfone, dizendo “eu exijo respeito, não caio em provocação não. Como que um homem eleito pode mandar uma vereadora no exercício de sua atividade parlamentar calar a boca?!”.
Em meio à confusão, os demais vereadores da Câmara novamente se omitiram, com apenas uma tentativa rápida de intervenção, do Delegado Piquet (Republicanos).
Repercussão local e nacional
Em suas redes sociais, os deputados federais David Miranda, Talíria Petrone e Glauber Braga, do Psol-RJ, se pronunciaram. David destacou que Camila foi “atacada pelo bolsonarista Gilvan da Federal (Patriotas) no momento em que defendia os professores” e afirmou que “não vamos tolerar homens que não sabem ouvir as mulheres e as agridem quando discordam de suas opiniões”.
Glauber demonstrou solidariedade à vereadora e manifestou desejo de que “esse sujeito seja devidamente responsabilizado!”. Talíria defendeu que “a escalada da violência política de gênero precisa ser combatida” e afirmou que Camila “não anda só”.
A deputada federal Sâmia Bonfim (Psol/SP) salientou que “o avanço das mulheres na política causa raiva nesses machistas”, e acrescentou: “estamos juntas!”. A também deputada federal Vivi Reis (Psol/PA) pediu “basta de violência!” e demonstrou “total solidariedade à vereadora de Vitória (ES) pelo Psol, Camila Valadão, que sofreu violência política de gênero por um vereador bolsonarista, que a ofendeu com gritos e xingamentos, a mandando calar a boca. Não nos calarão! Estamos juntas, Camila!”.
Manuela D’ Ávila (PCdoB), que atuou na Câmara dos Deputados de 2007 a 2015 e foi candidata a vice-presidente em 2018 na chapa com Fernando Haddad (PT), afirmou que mandar uma vereadora eleita calar a boca dentro da Câmara “não faz parte da política” e se “chama violência política de gênero”.
O deputado federal do Espírito Santo Helder Salomão (PT) também manifestou solidariedade não somente para Camila, mas também para sua colega de partido, a vereadora Karla Coser, que no dia da agressão estava de licença em virtude de seu casamento, mas também já sofreu inúmeros ataques machistas no plenário. “Chega de violência política de gênero! Contem comigo sempre”, disse o parlamentar. A própria Karla Coser já havia se pronunciado, classificando a atitude de Gilvan da Federal como “absurdo” e “desrespeito”. “Não aguentamos mais sofrer violência política. Não nos calaremos!”, destacou.
A deputada estadual Iriny Lopes (PT) declarou “todo apoio à Camila Valadão pelo ataque sofrido na Câmara de Vitória. Dizemos basta à violência política de gênero. Intolerantes terão de aceitar a ocupação feminista, negra e militante em espaços de poder!”. Sua fala foi ratificada pela vice-governadora Jacqueline Moraes (PSB), que afirmou fazer voz ao chamado da parlamentar “em prol do movimento de ocupação feminista, negra e militante em espaços de poder”, dizendo ainda não estar surpresa “com a virulência dedicada a Camila Valadão, que já foi vítima várias vezes”, destacando ainda que
Karla Coser também “já perdeu as contas das violências políticas de gênero vividas”.
O Fórum de Mulheres do Estado, por meio de nota, destaca que “quando Camila Valadão pede sua inscrição na Câmara de Vereadores de Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo, leva a palavra de milhares de mulheres! Com ela se levanta e perfila a luta ancestral por liberdade e autonomia das mulheres!”. Afirma também que “na fala de Camila vai o resumo de todas as formas de violência contra as mulheres!”.
“Nossos corpos são territórios de amorosidade, acolhimento e cuidados e nele ressoa nossa voz, em defesa de todas as mulheres vítimas de violências! Hoje somos todas Camila Valadão e não vão nos calar! Repudiamos as práticas fascistas deste vereador, que dissemina ódios, dando vazão na tribuna da CMV, usando a imunidade parlamentar, a toda sorte de preconceitos! Exigimos respeito!”, diz o Fórum.
A entidade termina a nota reafirmando que “a Câmara é a casa do povo! As mulheres devem ser respeitadas ali ou em qualquer outro espaço no qual os homens machistas e a sociedade patriarcal ainda considerem, infelizmente, como lugar exclusivo dos homens”.