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Sem clima político, Hartung cancela visita à Assembleia

O governador eleito Paulo Hartung (PMDB) cancelou a visita que faria na manhã desta quarta-feira (15) à Assembleia Legislativa. O presidente da Casa, deputado estadual Theodorico Ferraço (DEM), se apressou para justificar a mudança de planos de última hora. Ele disse que partiu do Legislativo a ideia de cancelar a visita por causa da obstrução da pauta, já que haveria sessão ordinária pela manhã, o deputado entendeu que seria mais importante votar os projetos. A resposta oficial, porém, não convenceu o mercado político. 
 
A aprovação de um dos itens parados no Expediente da sessão desta quarta-feira – o Requerimento de Urgência do líder do governo, deputado Vandinho Leite (PSB) ao Projeto de Lei n.o200/2014, que institui o Plano Estadual de Cultura do Estado e cria o Sistema Estadual de Informações e Indicadores –, seria uma tentativa de legitimar a justificativa de Ferraço para o adiamento da visita de Hartung. 
 
Mas, o requerimento foi aprovado no final do horário destinado ao Expediente, evitando a aprovação dos demais itens da pauta. A sessão foi encerrada sem a aprovação de nenhum outro projeto. 
 
Justificativa oficial à parte, os comentários nos corredores da Casa é de que não havia clima político para receber Hartung. Depois de 13 sessões obstruídas, que causaram, entre outros transtornos, o adiamento da votação da urgência do projeto de reestrutura no Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal (Idaf), os servidores da autarquia já haviam percebido a manobra do governador eleito, e não iriam aliviar as críticas a Hartung, caso ele arriscasse a visita. Para se ter uma ideia da impaciência dos servidores, na sessão dessa terça-feira (14) eles batiam no vidro da galeria da Casa, revoltados com a situação. 
 
No plenário também há uma insatisfação muito grande por parte dos deputados com a ingerência nas atividades da Casa. Com o cenário bem diferente de seus mandatos anteriores, o governador eleito teria decidido evitar um possível desgaste de sua imagem, antes mesmo da posse. Com o clima tenso no Legislativo, a ida de Hartung ao local poderia causar até um tumulto. 
 
A dinâmica da visita contribuiu para a construção do cenário adverso ao governador eleito. Nas visitas feitas ao Tribunal de Contas e ao Tribunal de Justiça nos últimos dias, a aparição de Hartung foi discreta, mas com o alardeado da ida à Assembleia, os insatisfeitos com os episódios das obstruções das sessões poderiam fazer manifestações contrárias a Hartung. 
 
A afirmação do governador eleito de que não sabia dos adiamentos das votações, porque estava em São Paulo, também contribuiu para o clima ficar ainda mais tenso na Casa. Isto porque, a ingerência é clara, por meio de manobras conduzidas pelo deputado estadual Paulo Roberto (PMDB), aliado de primeira hora de Hartung. Os projetos foram paralisados para que a equipe de transição do governador eleito pudesse analisá-las antes da votação. 
 
Como Paulo Roberto afirmou várias vezes que esperava a indicação da equipe de transição e que havia enviado a lista de projetos para análise, a justificativa de Hartung de que não sabia das movimentações não convenceu. 
 
Plenário dividido
 
As movimentações na Assmbleia, que culminaram com o cancelamento da visita do governador eleito, ganharam nesta quarta-feira (15) o contorno da divisão do plenário. Durante vários dias, o presidente da Casa, Theodorico Ferraço, entregou o comando das sessões ao deputado Nilton Baiano (PP), mas com o acirramento das discussões entre os deputados, ele mesmo passou a comandar as últimas sessões na tentativa de apagar os incêndios.
 
As insatisfações são muito grandes e a pressão muito alta no Plenário e nem mesmo a presença de Ferraço na Mesa Diretora tem evitado os embate entre os deputados que defendem a manutenção do trabalho legislativo e os apoiadores de Hartung, que tentam manobrar as sessões para evitar a aprovação de projetos que desagradem o governador eleito. 
 
Essa movimentação tem mostrado a postura dos deputados na peleja. Gilsinho Lopes (PR), Janete de Sá (PMN), Josias Da Vitória (PDT), Claudio Vereza (PT), Freitas (PSB) se colocam na defesa da aprovação da urgência dos projetos e criticam os colegas que aderiram à manobra de Paulo Roberto. 
 
Chama a atenção a postura do deputado Euclério Sampaio (PDT), que chegou a criticar duramente o sumiço de R$ 25 milhões do Posto Fiscal de Mimoso do Sul, que ficou conhecido como “posto fantasma” e agora se coloca como mais um soldado de Hartung nesta batalha do plenário. A ponto de o deputado abrir mão do princípio de independência dos poderes e defender a manobra de Paulo Roberto. 
 
Já o deputado Elcio Alvares (DEM) recorreu ao fato de ter sido líder do governo Renato Casagrande para criticar o governo atual e defender seu aliado Paulo Hartung. Dentro da lógica governista que o parlamentar sempre seguiu, tanto que já foi governador biônico na ditadura militar, criticou a forma como os projetos chegam à Assembleia. A postura de Élcio, aliás, foi um dos complicadores para sua reeleição. O deputado, que teve 9.534 votos, manteve sua postura, mesmo na despedida do parlamento. 
 
Entre os deputados que deixam a Casa – 16 não retornam para a próxima legislatura – o desgaste que vem sendo imposto ao plenário os prejudica, além de acender o sinal de alerta para os que vão chegar em 2015. Daí a crise na Assembleia, que aponta para uma relação não tão harmoniosa ente Legislativo e Executivo.

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