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​Setores da esquerda buscam saída para barrar Magno ao Senado

Ex-senador tem trajetória conturbada: já foi aliado dos governos petistas, passou por Temer, e agora está com Bolsonaro

Jefferson Rudy/Ag.Senado

“O jeito é votar na Rose [de Freitas, MDB] para impedir a vitória da extrema direita evangélica”; “Gilbertinho [Gilberto Campos, Psol], Rose nunca, e vou fazer campanha para ele”. As duas frases traduzem a visão de setores da esquerda relacionada à disputa da única vaga no Senado nas eleições de outubro. Todos buscam um fator capaz de impedir o avanço do ex-senador Magno Malta (PL), representante da extrema direita e do bolsonarismo no Espírito Santo.

Magno Malta aparece com 29% na pesquisa Ipec/Rede Gazeta, menção estimulada, divulgada nessa quarta-feira (17), sete à frente da atual ocupante da vaga, Rose de Freitas, com 22%, com uma diferença de 27 pontos em comparação com os 2% pontuados por Gilbertinho Campos. Mesmo assim, sem um nome de peso na disputa deste ano, e a pouco mais de 40 dias da votação de 2 de outubro, militantes da esquerda apostam na busca de outra opção.

O argumento é que, apesar do tempo reduzido de campanha, o cenário revelado na pesquisa é suficiente para trabalhar os eleitores que pretendem votar em branco ou nulo – 17% – e os indecisos, que marcaram 18%. Na pesquisa espontânea, o índice é muito mais alto: 72% não sabem ou preferiram não opinar, e 12% indicaram votar em branco ou nulo.
Outro fator apontado como desfavorável a Magno Malta é a rejeição ao seu nome manifestada por setores progressistas de igrejas evangélicas, que, embora sejam minoria, reúnem melhores condições de convencimento e estão empenhados em derrotar o maior aliado do ex-senador, o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Essa articulação leva em conta a desastrada gestão no plano federal, com perda de soberania, carestia desenfreada, denúncias de corrupção e ameaça de golpe de estado, além do discurso de ódio disseminado muitas vezes por meio de fake news de cunho religioso, com notícias falsas sobre ameaça comunista e demonização das religiões de matriz africana. São mensagens que encontram terreno fértil em Magno Malta. Em junho deste ano, o ex-senador foi, inclusive, alvo de uma ação penal impetrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, por calúnia e difamação.

A subida de Magno Malta na atual pesquisa é decorrente, em parte, à saída da disputa do ex-prefeito de Colatina Sergio Meneguelli (Republicanos), em consequência de manobra do deputado estadual Erick Musso, que tomou o seu lugar na chapa do partido, depois de desistir de concorrer ao governo do Estado. Levantamento realizado no início de maio, também pelo Ipec/Rede Gazeta, mostrava que, enquanto Erick Musso patinava na candidatura ao governo, Magno tinha 23%, Meneguelli 17% e Rose 15%. No final do mesmo mês, a pesquisa Real Time Big Data, encomendada pela Record TV, já apontava Meneguelli com 22%, à frente dos 20% de Magno Malta, e dos 16% de Rose.

Fidelidade e maus-tratos
O ex-senador, atualmente um dos mais próximos aliados de Bolsonaro, tem uma trajetória política contraditória. Já foi apoiador do então presidente Lula, que, na época, fez um decreto criando o dia da Marcha para Jesus e outro garantindo a liberdade religiosa no país, e também da presidenta Dilma Rousseff, passando-se depois para o lado de Michel Temer (MDB). Em ambos os casos, ocorreram distorções.
A Marcha para Jesus virou palco de campanhas eleitorais de Bolsonaro e seus seguidores, incluindo pastores e cantores como magno Malta; e o decreto do ex-presidente garantindo a liberdade religiosa ganhou o esquecimento, sendo substituído por notícias falsas dando conta de que, se eleito, Lula fechará as igrejas evangélicas. Essa fake news é disseminada por meio de mensagens em igrejas e até a mulher do presidente, Michele Bolsonaro, iniciou uma cruzada demonizando adversários do marido.


Essa marca na trajetória de Magno Malta ficou mais forte nas eleições de 2018, quando ele foi derrotado na tentativa de reeleger-se. Nesse mesmo ano, foi alvo de denúncia publicada em Século Diário, com exclusividade. “Com o objetivo de ganhar os holofotes da mídia na véspera de disputar a reeleição para o Senado, em 2010, o senador Magno Malta (PR) é acusado de usar uma menina de dois anos e seus pais. O pai respondeu por estupro à criança e a mãe por ter sido conivente com o fato”, informava o texto jornalístico.

Em seguida, acrescentava: “O senador colocou o caso na mídia do Estado e do país na época, ganhando espaço até na imprensa internacional, legitimando a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, rebatizada de CPI dos Maus-Tratos, da qual ainda é presidente. Seu alvo principal foi o então cobrador de ônibus Luiz Alves de Lima, à época com 35 anos, acusado de ter violentado a própria filha, então com dois anos. O acusado passou nove meses preso, até ser declarado inocente pela Justiça”.
“Luiz Alves de Lima relata que, na época, foi torturado fisicamente nas dependências do Centro de Detenção Provisória de Cariacica (CPDC), até quase ser morto. Dentre as práticas de tortura a que foi submetido no local, aponta asfixia com sacola na cabeça; choques elétricos, principalmente no órgão genital; e surras”.
Luiz reside em Vitória e, procurado nesta quinta-feira (18), não atendeu a ligação nem retornou, até o fechamento desta matéria.

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