Em mais de 70 anos, apenas seis mulheres foram eleitas vereadoras em Vitória. Nas eleições 2020, além de romper as barreiras do patriarcado, Camila Valadão (Psol) rompeu também com as barreiras impostas pelo racismo, ao ser a primeira negra eleita para a Casa de Leis. Destaca-se, ainda, os seus 5.625 votos, a segunda maior votação da Capital e do Espírito Santo, perdendo somente para o vereador reeleito, Denninho Silva (Cidadania). Outra mulher também conquistou uma cadeira no legislativo. Karla Coser (PT) se candidatou pela primeira vez e obteve 1.961 votos. Agora, são duas mulheres na Câmara, diferentemente da atual legislatura, que tinha somente Neuzinha de Oliveira (PSDB).
Para Camila, a expressividade dos votos mostra que muita gente defende o projeto político construído por sua candidatura. “Estou muito emocionada pela simbologia de ser a primeira mulher negra eleita vereadora de Vitória, pela simbologia de ser a primeira candidata do Psol a vencer uma eleição no Espírito Santo. E não serei a última, outros virão”, diz. Entretanto, afirma Camila, ela enxerga com nitidez os desafios que estão postos. “Precisamos fazer um mandato combativo, dar sequência aos compromissos que estabelecemos, fazer do nosso mandato expressão da diversidade, da pluralidade”, ressalta.
A vereadora eleita defende a democratização dos espaços de definição de políticas públicas para as mulheres, propõe políticas de equidade racial e combate ao racismo, assim como propostas a favor da garantia, promoção e proteção da cidadania e dos direitos de pessoas LGBTQI+. “As políticas de equidade racial e combate ao racismo serão um dos eixos principais da discussão política na Câmara de Vitória. Assim como projetos de lei e defesa de políticas a favor da garantia, promoção e proteção da cidadania e dos direitos humanos de pessoas LGBTI+. Também vamos trabalhar pela democratização dos espaços de definição de políticas públicas para as mulheres, trazendo a incorporação da dimensão de gênero nos processos de planejamento e orçamento, garantindo recursos para políticas inclusivas nas áreas da educação, da saúde, da assistência social, do trabalho e da cultura”, enumera Camila.
Quanto ao segundo turno, cuja disputa será entre João Coser (PT) e o Delegado Lorenzo Pazolini (Republicanos), Camila destaca que é preciso derrotar o bolsonarismo, em referência ao candidato do Republicanos. Entretanto, informa que esse é um posicionamento dela e que seu partido ainda não se manifestou sobre o assunto. “Mas a gente não tem como não ter outra posição. Não pode se furtar dessa matéria”, salienta.
Karla Coser acredita que tanto a sua eleição quanto a de Camila são uma vitória da representatividade. Destaca também que sua eleição marca o retorno do PT à Câmara de Vitória, já que para a legislatura que está se encerrando, o partido não elegeu ninguém. Segundo a vereadora eleita, durante a campanha ela percorreu 78 dos cerca de 80 bairros de Vitória e percebeu que suas propostas eram bem aceitas pelas pessoas, independentemente de gênero e idade, por exemplo.
“As pessoas entenderam que nossas propostas contemplam quem mais precisa dos serviços públicos, que são propostas que englobam o dia a dia de todos. São questões que não deveriam ser tratadas como algo de esquerda ou de direita, mas sim, como causas humanitárias. O Índice de Desenvolvimento Humano [IDH] de Vitória é muito alto, mas não se percebe isso na realidade das pessoas. Tem lugares onde falta água. Há desigualdade, existem várias cidades dentro da mesma cidade. A gente precisa defender políticas públicas de educação, cultura e geração de emprego, principalmente para as mulheres negras periféricas”, destaca.