O êxtase orgásmico corporal é parte de um todo físico, psíquico, espiritual, social … existencial
Vimos, nesse Jornal, nos últimos textos, em nosso blog, apresentando como é o Aart Maithuna (ritual sexual tântrico, voltado para o despertar da energia Kundalini). Antes de apresentar a prática, julgamos necessário esclarecer o que é, para mim, o Tantra Dravidiano. Assim, o leitor terá a ideia de que o Tantra é uma filosofia de vida e a sexualidade é apenas uma parte de nossa existência, muito importante para o Tantrismo, sim, mas, especificamente, o Tantra não aborda somente o mundo sexual.
Preâmbulo
Para abordar temas como “Tantra e Sexualidade”, “Ritual Maithuna” e descrever os passos para a concretização da relação sexual propriamente dita nesse Aart, torna-se necessário elaborar algumas ideias básicas sobre nossa jornada e sobre o Tantrismo.
Com relação ao Maithuna, ele se constitui em um ritual tântrico repleto de detalhes e de simbologias e eu conheço apenas pelas minhas leituras e jamais trabalhei com esse Aart, até porque ele fazia sentido naquele mundo tântrico da Índia Antiga e, hoje, creio, perderia sua força simbólica e cultural.
Assim, julgo interessante e necessário explicitar aqui como interpreto e trabalho com o Tantra, para, posteriormente, adentrar-me nesses específicos temas.
Introdução
Se fizermos um movimento de resgate da cultura drávida (cultura dos povos Dravidianos, habitantes do Vale do Indo cerca de 15.000 anos atrás) e, consequentemente, do Tantra, poderemos afirmar sobre essa corrente filosófica que ela se instituiu em um tripé básico e essencial:
1. Ética
2. Consciência
3. Responsabilidade
Especificamente pode-se inferir que agir com ética se constitui no centro de todo movimento tântrico. Não há como se pensar em Tantrikcharya (seguidor do Tantra) distante desse princípio básico. Por sua vez, a concreta realização desse primeiro suporte (a ética) demanda a implementação do segundo suporte: Consciência. Esta, por seu lado, para ser excitada, implica a utilização do terceiro suporte: Responsabilidade.
Dessa forma, as técnicas do Yoga tântrico foram sendo elaboradas e corporificadas, as quais, por seu turno, também se sustentavam em outro tripé:
1. Nadis (canais de energia)
2. Chackras (centros energéticos)
3. Kundalini (energia cósmica latente em nós)
Por outro lado, Kundalini, latente no Chakra Mooladhara (localizado na base da coluna), seria potencializada ao despertar de novo tripé:
1. Ida (canal energético da polaridade feminina)
2. Píngala (canal energético da polaridade masculina)
3. Sushumma (canal energético da polaridade neutra)
Por meio desses três canais, Kundalini se ascende de Chakra a Chakra até chegar ao Chakra do alto da cabeça, propiciando o estado de iluminação.
Todo esse arcabouço teórico-filosófico e prático desembocaria em processos sociais, kármicos e espirituais, também sustentado por outro tripé:
1. Yamas e Niyamas (Princípios Comportamentais)
2. Vidya (Pleno Conhecimento)
3. Samadhi (Iluminação da Consciência)
Utilizando-se das ideias do Samkhya, filosofia também surgida no período dravídico e concomitante ao desabrochar do Tantra, os Yogues Rishis de Bharata esculpiram um outro tripé, de cunho cósmico:
1. Purusha (Instância Espiritual)
2. Prakritti (instancia Material)
3. Yoga Tântrico (União dessas duas instâncias, propiciando ao Sadhaka vivenciar seus Karmas e Dharmas com sabedoria)
Pode-se, então, inferir que o mundo tântrico engloba a vida como um todo e vê-se que a ênfase se estabelece em processos que abrangem todos os movimentos existenciais dos seres humanos. Evidentemente que a sexualidade está aí presente, mas se o êxtase orgásmico corporal pode ser conquistado, ele é parte de um todo físico, psíquico, espiritual, social… existencial.
As simbologias da vida humana estão presentes em toda a cultura hindu de natureza tântrica, resplandecendo-se em uma multifacetada cultural e em muita… muita imaginação… concretizadas em artes, História… e histórias…