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Um balé de andorinha

Tão certo quanto a mudança de estações – embora essas andem bem incertas – as andorinhas chegam para a migração anual

Tão certo quanto a mudança de estações – embora essas andem bem incertas – as andorinhas chegam para a migração anual em busca de sol e ventos brandos. Eu diria, para suas férias de inverno, e Miami é parada obrigatória. Seguem rotas pré-estabelecidas e param sempre nos mesmos lugares. Onde as encontro: na junção da Avenida 57 com a Highway 286 (que deve me levar para a Highway 95, rumo sul, até a Rua 119. Transitamos sobre números). Nessa encruzilhada, com um McDonald de um lado e um Burguer King do outro, a passarinhada faz sua estação de recreio.

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De onde vieram e para onde vão? Parece que a rota e o destino estão determinados no gene, passados de geração a geração. Onde se instalam são o desespero dos negociantes e frequentadores – fazem uma tremenda sujeira no chão, nos telhados, nas vidraças e nos carros estacionados. Para os mais sensíveis, são uma festa para os olhos: brigam pelas vagas nos fios e nos telhados, lotam as árvores, enfeitam a paisagem. E promovem um belo espetáculo com seus voos ornamentais, com grande elenco.

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Mas nem todos os pássaros migram em hordas, como os que vemos aqui. Existem espécies que migram sozinhos, como o beija-flor. Enfrentando a jornada pela primeira vez, sabe quando voar, por onde passar, a que distância pode chegar e quando precisa parar. E faz isso sozinho. Essa tradicional jornada do norte para o sul a cada inverno não é obrigatória, e algumas espécies preferem ficar em casa. Outras migram dos lugares mais baixos no inverno para os mais altos na primavera.

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Pássaros são criaturas inteligentes, vivendo em sociedade e se comunicando lá entre eles. Apreciá-los in natura é um dos esportes mais praticados no mundo. Mas quem não gosta de vê-los? A migração de aves é uma festa para os observadores, que podem ver pássaros de lugares distantes sem sair de casa. Há um movimento para conscientizar as pessoas de bom coração para alimentar e cuidar dos pássaros em férias, em vez de reclamar da sujeira e dos estragos. Os pássaros migram no inverno não por causa do frio, mas pela escassez de alimentos nessa época do ano. Eles estão bem equipados para enfrentar o frio. E mais essa: os pássaros são os únicos dinossauros vivos.

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Tal como os pássaros, os humanos também enfrentam essa migração anual: no verão para as praias, no inverno para as montanhas… se o orçamento permite. Com poucas variações, mantêm os mesmos destinos, entra ano sai ano. Sabem onde querem ir, param sempre nos mesmos locais de abastecimento (pessoal e do veículo), e conhecem bem a rota. Onde ficam causam transtornos e estragam o meio ambiente, mas pelo menos ajudam a economia local. Quando o turismo não é predatório, é a melhor coisa que já inventaram depois do macarrão.

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Mas chamar de indústria que não polui é mito. O excesso de turistas e o desrespeito ao meio ambiente está forçando as autoridades dos pontos mais cobiçados do planeta a controlar ou até mesmo impedir o fluxo de alegres pássaros migratórios (a maioria dos turistas é reincidente), mesmo quando gastadores. Veneza está inundando, a Torre de Pisa está inclinando ainda mais, a Ponte des Arts está afundando. Cancun caducou e até as múmias do Egito estão reclamando: Estamos ressecando.

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E como Miami ainda está de portas abertas, venha correndo antes que acabe: com as novas regras das empresas aéreas de cobrarem pelas malas, ninguém mais faz compras. Adeus preços incríveis, promoções imperdíveis.

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P.S. Pescado na Internet, mas bem apropriado aqui: Se você se espanta com o que eu escrevo, imagina o que eu apago.

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