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Poder terceirizado

“Um desafio prioritário para a indústria”. Somente quem desfruta de privilégios disponibilizados a reduzidos grupos pode se dar ao luxo de explicar de forma tão sucinta, com uma simples e vazia frase, o emprego de mais de R$ 15 milhões em uma obra que, pelo menos até agora, não tem qualquer serventia  para quem a idealizou ou para a sociedade. 
 
O inacabado restaurante giratório da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), encarapitado no topo do velho edifício da entidade que abriga a fina flor do empresariado capixaba, é um triste exemplo do controle enviesado que domina a classe política.
 
Herança do getulismo, o chamado Sistema S é um viés dessas entidades patronais. Comandado por grupos econômicos abrigados na Confederação Nacional da Indústria (CNI), consegue sobreviver há décadas e, em 2017, escapou da guilhotina acionada com a reforma Trabalhista, que ceifou o sindicalismo em geral.   
 
Com grande poder político terceirizado, por meio da influência que exerce junto às bancadas parlamentares espalhadas em assembleias legislativas e no Congresso Nacional, o Sistema S não foi tocado. No Espírito Santo, dois parlamentares se destacam como parceiros desse Sistema: o senador Ricardo Ferraço (PSDB) e o deputado federal Lelo Coimbra (PMDB).
 
O regime de administração especial fruto da ação de parlamentares lhe dá esse privilégio. Ele não é nem estatal, nem público, nem privado. É um sistema organizado, que funciona e oferece serviços de qualidade, na maioria das vezes pago com valores considerados altos se comparados com os preços praticados em outros estabelecimentos. 
 
Com base na folha de pagamentos das empresas, arrecada a bagatela de R$ 19 bilhões por ano, que podem ser utilizados sem o crivo do órgão fiscalizador. Desse modo, em mais de 70 anos de funcionamento, se consolidou nacionalmente e constituiu um patrimônio invejável espalhado por todo o território nacional.  
 
Na retaguarda, senadores, deputados, prefeitos, ministros e pessoas colocadas em pontos chaves da administração pública, em todos os níveis, prestam o apoio necessário à sobrevivência do Sistema, que é formado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac).
 
Com a reforma Trabalhista, o sistema sindical perdeu seu custeio, mas as entidades patronais permanecem intocáveis. Desfrutam de um poder terceirizado, que é dado por parte da classe política. 
 
É nesse contexto que se explica a falta de interesse do poder público por tragédias ambientais como a da Samarco/Vale-BHP, a omissão sobre a poluição do ar da Vale e ArcelorMittal que inunda a Grande Vitória, e a passividade em relação ao “disco voador” dependurado no topo do edifício da Findes. Exceção do Tribunal de Contas da União (TCU), esse tipo de coisa permanece sem uma explicação aceitável para a sociedade.  

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