Vinte anos do Assentamento Zumbi dos Palmares! Uma vitória emblemática e também um alerta sobre a demanda reprimida, há décadas, pela Reforma Agrária no Espírito Santo, especialmente no norte e noroeste do Estado, onde ainda há forte presença dos latifúndios e monoculturas do agronegócio.
Alerta porque, depois de Zumbi, nenhum outro assentamento foi criado em toda a região do extremo norte capixaba, e menos de meia dúzia foram criados em outras regiões. Há famílias que vivem acampadas há mais de dez anos, em beiras de estradas, debaixo da lona preta, aguardando a justiça social de acesso à terra, direito constitucional que completa 30 anos neste 2018.
Coordenadora do Assentamento, Mariana Motta conta que Zumbi dos Palmares nasceu da organização de diversas famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que ocuparam a antiga Fazenda Rio Preto, na madrugada do dia 20 de julho de 1998.
A antiga fazenda de gado se transformou no território de sobrevivência e dignidade de 151 famílias, às quais se somaram outras, totalizando mais de 200 famílias que tiram seu sustento da terra e provam que a Reforma Agrária, além de um direito, é uma alternativa econômica viável e recomendável pra vastas áreas do Estado e do país.
“Onde era o curral hoje é a nossa escola, que funciona sem parar, desde a educação infantil aos anos finais do ensino fundamental, ensinando a leitura das palavras e da realidade, construindo uma educação a partir da luta”, conta Mariana.
A escola é o “coração pulsante do MST”, qualifica a militante, sendo fundamental “não só no processo de escolarização, mas de formação da consciência, do cultivo da memória e da história”.
“Para nós do MST é essencial cultivar a nossa história e a nossa memória, manter essa mística aquecida, para que todos saibam que só a luta muda a vida das pessoas. Conquistar um assentamento é muito mais do que ter terra para viver e trabalhar, mas sim a possibilidade de pensar e construir nova educação, cultura e muitos valores essenciais para uma outra sociedade, mais justa e igualitária”, declara, ressaltando que “com o assentamento foram quebrados muitos preconceitos que inicialmente as famílias sofriam”.
Valdinar dos Santos, educador do MST e assentado no Zumbi, contextualiza a importância dessa comemoração na atual conjuntura, “totalmente adversa, onde lutar pela terra tem se tornando crime, na concepção burguesa”. E alimenta a força das famílias, assentadas e acampadas, pois “uma luta é conquistar a terra, mas permanecer nela é uma luta permanente, diária”, diz.
Dificuldades que vão desde as características de toda a Agricultura Familiar, como acesso a crédito e vias de comercialização, e são acrescidas pelo preconceito e por influências danosas vindas das lideranças políticas e religiosas.
“Permanecer tirando da terra o nosso sustento, com a produção de alimentos, e provar pra sociedade que a Reforma Agrária é viável, não é tarefa fácil. Mas resistimos. Conseguimos a terra e estamos sobrevivendo!”, exulta.
As comemorações acontecem nessa sexta-feira (20), a partir das 18h, e contarão com mística de abertura, apresentação de quadrilha, jantar oferecido pelas famílias do Assentamento e show de forró.