Quinta, 28 Março 2024

Camata é único

Camata é único

A representatividade de todas as camadas sociais e a expressão do seu sofrimento nas cerimônias de enterro do ex-governador Gerson Camata são algo inédito na vida dos homens públicos no Espírito Santo. Ineditismo que, no meu entender, jamais será superado. O capixaba, de um modo geral, sempre foi pé atrás com a classe política, menos com ele. 


Este público que lá esteve presente mostrava o quanto este homem construiu como “ser político”. O Camata era um personagem típico, descrito pelo pensador francês Paul Ricouer como aquele que entendeu que poder é frágil, como também é frágil a força. 


Isto o tornou um homem de rua. Nunca saiu dela, durante 44 anos. Para completar a história deste homem de rua, não só de Vitória, mas espalhadas por todo o Estado, digo que foi uma ironia do destino, apesar de trágico, violento e traiçoeiro, ele morrer na rua. 


Não há ninguém da época de sua atuação política que, sendo da área de Comunicação, não o tenha celebrado. Do mais simples repórter a Cariê Lindenberg, diretor de A Gazeta. Não houve voz discordante no geral. Só uma única, da pessoa que o abateu e que por ele sempre foi protegido, inclusive, garantindo o seu emprego, Marcos Venicio Moreira Andrade.


Agora faço um destaque no enterro de Camata: as lágrimas convulsivas do governador Paulo Hartung. Realmente, PH teve uma longa história com ele, pois foi pelas mãos de Camata que conquistou seu primeiro mandato para a Assembleia Legislativa, em uma dobradinha com Rita Camata, que haveria de eleger-se deputada federal. 


Rita, uma jovem com pouco mais de 20 anos, esposa do Camata, chegou à Câmara dos Deputados impressionando pela beleza, para logo em seguida tornar-se uma deputada com uma importante trajetória política. Não como mulher de governador, mas sim pelo desempenho notável.


Voltando a PH, embora tenha ingressado na vida parlamentar pelas mãos de Camata, não deixou de lhe dar pernada, como é de sua tradição. Quando do julgamento das contas do governo Camata na Assembleia, PH foi o relator e pediu a rejeição.  Isso não impediu, porém, que Camata continuasse muito junto a ele, tanto que atualmente esmerava-se para defendê-lo neste momento mais frágil da sua carreira política.


Nessa de pernadas do PH, também sobrou para a Rita, que fazia um mandato ligado aos direitos humanos e à proteção a menores. Ao disputar a prefeitura de Vitória como franca favorita, o grupo do candidato apoiado por PH utilizou o argumento de que ela estava defendendo marginais. Resultado: despencou e perdeu a eleição.


Faço esses registros em uma hora de suma gravidade, mas os considero necessários para repor a história no seu devido lugar. 

De minha parte, também integro o grupo dos que estão com o coração sofrido. Trabalhamos juntos várias vezes. No jornal O Diário, passamos apertos na cobertura do Esquadrão da Morte. Ele me agraciou por ocasião do seu casamento com Rita, o papel de ser seu padrinho.


Camata foi-se embora, mas deixou seu exemplo e as saudades, que nos acompanharão doravante.

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